Cotidiano de Antigamente

Paulo José da Costa

A saga de Dona Maria Quaroni Muggiati – pt 2

Paulo José da Costa
20/03/2023 19:57
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Família de Diogo Muggiati, 1911.

As histórias dos cinco filhos da viúva Maria Quaroni Muggiati são as mesmas de milhares de outros descendentes de imigrantes que atravessaram o oceano para fugir da vida de sofrimento e penúria nos países de origem. No Brasil, encontraram campo para seu crescimento pessoal, trabalhando e crescendo livremente, fazendo fortuna. Bastava para isso muito trabalho e a capacidade que traziam em seus genes. Muitos sucumbiram nas viagens, outros nos primeiros anos nas colônias, vítimas das doenças e intempéries, numa espécie de seleção natural, mas a maioria logo estava semeando o progresso nos lugares que escolheram, com suas chácaras, comércio, indústrias e profissões liberais em todas as áreas das atividades humanas.
Dona Maria Quaroni, costureira talentosa, fez nome e reuniu à custa de muito trabalho seus filhos um a um de volta ao seu convívio. Diogo, que tinha 12 anos quando foi entregue aos cuidados da família do médico Dr. Leão, logo descobriu sua vocação para a arte da sapataria. Trouxe seu irmão José, que estava na casa dos Alencar Guimarães, e começaram a trabalhar juntos, formando uma sólida sociedade. Economizando com suas atividades, após duas décadas os irmãos adquiriram na Alemanha uma pequena indústria de calçados que foi pioneira em Curitiba. Diogo se casou com Luiza Daledone (foto acima), mas faleceu num enfarte fulminante com apenas 33 anos, em 1911, deixando quatro filhos, dentre eles Achilles, que foi diretor da Cia Telefônica, comerciante e industrial. Achilles publicou na Gazeta do Povo, em 10 de dezembro de 1972, artigo com informações importantes sobre a família.
Corria o ano de 1893 e Marianna Muggiati, agora com 15 anos, trabalhando na chácara do Barão do Serro Azul, no Batel, se encantou com o jovem Marcos Giuseppe Destefani (Mantova, 1866 - Curitiba, 1955),  que lá viera trabalhar como jardineiro. O amor falou alto e em outubro de 1893 Marcos e Marianna estavam casados. O casamento era uma forma também de uma jovem se emancipar e ganhar sua liberdade dos pais ou empregadores. O casal se instalou numa chácara própria no Batel, trabalhando no comércio de plantas ornamentais e árvores frutíferas. Em seguida veio a tragédia que vitimou o barão, que salvara Curitiba do saque e fizera um acordo com Gumercindo Saraiva, o comandante das hostes federalistas. Em maio de 1894, em episódio bem conhecido, o barão foi executado na Serra do Mar. Mas nosso jovem casal estava já no seu próprio lar e dessa união, como era comum à época, gerou dez filhos. Para um mergulho detalhado na história desse ramo da família, recomendo o livro de Dyonysio Destéfani “Decidiram emigrar para a América”, lançado em 1993 e encontrável nos bons sebos ou na internet.
Finalmente, precisamos falar sobre a caçula, Giuseppina, a “vó Pina”, como a chama minha sogra Carmem Gerber Vargas. Giuseppina, ou Josefina, casou-se em 1905 com Ferdinand (Fernando) Gerber (1876 - 1924), prático farmacêutico que se tornara muito conhecido e estimado com a manipulação de seus remédios e com suas viagens como voluntário no combate à febre amarela, em Itaqui, e à gripe espanhola, pouco depois. Estabeleceu-se no bairro do Portão com uma farmácia que ia muito bem, mas faleceu repentinamente em 1924, deixando a sua esposa Giuseppina com a firma e um único filho, Haroldo Gerber.
Giuseppina no trabalho na Cruz Vermelha.
Giuseppina no trabalho na Cruz Vermelha.
Inspirada pelo seu falecido marido, Giuseppina tirou o curso de enfermagem, sendo uma das primeiras enfermeiras formadas do Paraná. Assumiu mais tarde a direção de farmácia do hospital das crianças em Curitiba e da seção de pessoal do Hospital Vitor Amaral. Em 1949 estava na direção do pessoal da Cruz Vermelha. Faleceu em Ponta Grossa em 1956, deixando um legado imorredouro de trabalho na área da saúde.