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Desnutrição entre os Yanomami, embora chocante e lamentável, não é novidade no Brasil, como quer fazer parecer o atual governo, sempre na tentativa de jogar a culpa de todos os problemas do país sobre o ex-presidente Bolsonaro, que esteve no poder por apenas 4 anos.

O alarde feito no último sábado (21) pelo presidente Lula, após visitar a Casa de Saúde Yanomami em Roraima, e a exibição na imprensa de fotos de crianças indígenas desnutridas, descontextualiza os fatos e tira o foco das causas reais e possíveis soluções para esta tragédia.

Quem conhece verdeiramente a rotina dos índios afirma que a fome e a desnutrição resultam de um conjunto de fatores presentes há décadas na rotina dos yanomami, a começar por aspectos culturais, que poucos ousam combater.

Desnutrição dos Yanomami

Entrevistei, nesta sexta-feira (27), o enfermeiro paraibano Khylvio Alves Valões, que trabalha com índios em Roraima desde que o Ministério da Saúde criou a Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI), em 2010, no primeiro governo Dilma.

Durante sete anos ele frequentou as aldeias yanomami e cita, primeiro, a questão cultural, como responsável pela desnutrição histórica.

"Existe um contexto histórico por trás da questão da desnutrição do povo Yanomami... Historicamente você coloca o alimento em uma aldeia, vão comer primeiro os homens, os guerreiros, que têm que estar fortes e nutridos para defender a aldeia; depois, as mulheres e, só então, as crianças. Os idosos, caso sobre."

Khylvio Alves Valões, enfermeiro de saúde indígena

Khylvio também lembra da chegada de garimpeiros na região, há mais de dez anos. Foi quando os índios começaram a ter acesso a armas de fogo clandestinas, fornecidas pelos garimpeiros em troca da liberação da mineração em suas terras.

Dali para a frente os conflitos entre as tribos se agravaram, a caça começou a ficar mais difícil, bem como o cultivo das terras e o acesso de equipes médicas às tribos. Aliados à questão cultural, todos esses fatores precisam ser colocados na conta da desnutrição dos Yanomami.

Foco na solução

Ao longo dos últimos quatro anos, após visita do então presidente Bolsonaro a líderes indígenas, as aldeias passaram a receber cestas básicas com regularidade.

Na visão de Khylvio, se a desnutrição continua não é por falta de comida, necessariamente, mas de profissionais para ajudar os índios a preparar a comida, que não faz parte de sua base de alimentação. Faltam nutricionaistas para orientar e acompanhar os desnutridos.

Exibir fotos de crianças esqueléticas para a imprensa, insinuando que, por terem pouca idade, são fruto de erros políticos recentes, não é apenas mentira. É falta de vontade de enteder o problema histórico e focar na solução. A desnutrição dos Yanomami é real. E narrativa política não enche barriga.

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