Despedidas. A vida é feita delas. Por mais que tentem, argumentem ou inventem, a modernidade e seu ceticismo não conseguem ver a necessidade humana de adorar simplesmente desaparecer nos raios da iluminação intelectual.
As cerimônias fúnebres da rainha Elizabeth II, realizadas nesta semana em Londres, mostraram ao mundo como um povo concilia a dor de perder alguém cuja “presença e contribuição para nossa identidade nacional já dávamos por certa”, conforme palavras de sua filha, a princesa Anne.
E o que exatamente diferenciou tais cerimônias de outras despedidas de líderes de nações? Para muito além do velório de longa duração – algo aceitável para alguém que era chefe de Estado de 15 países e líder de uma comunidade de 56 nações – e da reunião da maioria absoluta dos líderes mundiais em um mesmo lugar, do imperador do Japão ao presidente do Brasil, algo que será difícil de ocorrer tão cedo novamente, o que realmente nos cativou foram as cenas de devoção.
O que se viu foi o congraçamento de um povo com a família que incorpora seus valores, herança cultural e representa em carne e osso milhões de britânicos e membros da Commonwealth
Sim, a devoção religiosa, intimamente ligada a uma rica tradição que dá um verdadeiro bug na mente pós-moderna, que acha ser o Estado maior que a nação, numa visão hegeliana e reducionista da existência humana à sua dimensão biológica. As cenas tocantes que assistimos passaram pela “vigília dos filhos”, seguida pela “vigília dos netos”, em profundo respeito por sua mãe e avó, que ao mesmo tempo era sua soberana. Dificuldades familiares à parte, o que se viu foi o congraçamento de um povo com a família que incorpora seus valores, herança cultural e representa em carne e osso milhões de britânicos e membros da Commonwealth.
Após as honras de Estado e um cortejo solene, passando pela última vez em frente ao Palácio de Buckingham, o féretro seguiu até o Arco de Wellington, e, daí, de carro, percorreu aproximadamente 30 quilômetros até o Castelo de Windsor. Ali, em nova cerimônia, o ápice. A coroa, o cetro e o globo são tirados de cima do caixão, entregues ao Deão de Windsor, que os devolve a Quem conferiu tal autoridade à rainha – o Altar. Sim, os monarcas britânicos são ungidos, não aclamados. Não foi “o povo” quem colocou agora o rei Charles III no trono. Por lá, o chefe de Estado o é “por graça de Deus”.
Logo após, o Lord Chamberlain (no caso, o barão Parker), juntamente com o rei Charles, aproxima-se do caixão e quebra seu bastão, indicando o fim de seus serviços a Elizabeth e à Coroa britânica. “Cinzas às cinzas, pó ao pó”, volta à terra não a rainha, apenas a “irmã Elizabeth”. Assim são completadas as exéquias, cerimônia cristã de longa data, onde o povo enlutado é acolhido, a Palavra é proclamada, o corpo é encomendado e, assim, “plantado” para o dia da esperança na ressurreição.
Uma despedida verdadeiramente humana. E, para quem crê, encerro com uma frase pronunciada por ela em sua mensagem de Natal em 2020, no auge da pandemia: we will meet again – nós nos encontraremos novamente.
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