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Crônicas de um Estado laico

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Charlie Kirk – no fim, é tudo sobre liberdade religiosa

charlie kirk
Telão mostra foto de Charlie Kirk e da esposa, antes da homenagem ao ativista assassinado em 10 de setembro. (Foto: Caroline Brehman/EFE/EPA)

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“Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica ele só, mas se morrer, dá muito fruto.” (João 12,24)

O Ocidente, mais do que uma mera conjunção geográfica, é uma civilização que emergiu sob os fundamentos inabaláveis da fé cristã. Essa influência não se limita a aspectos estritamente religiosos, mas perpassa toda a arquitetura moral, filosófica, jurídica, econômica e política que define a identidade desta civilização absolutamente única e mais bem-sucedida da história. Princípios como a dignidade humana, a moral objetiva e a liberdade individual nasceram desse legado cristão, que forneceu ao Ocidente não apenas valores, mas também um entendimento da ordem social baseada em direitos naturais e inalienáveis, com limitação ao poder temporal.

Nos Estados Unidos, essa herança ganhou expressão concreta no direito natural à liberdade religiosa, que a Constituição reconheceu como elemento estruturante da sociedade. A Primeira Emenda garantiu que nenhum governo poderia estabelecer religião oficial, nem impedir o livre exercício da fé, transformando a liberdade religiosa em direito fundamental. Esse princípio tornou-se modelo para o mundo, sinalizando que a proteção da crença individual é crucial para a preservação da liberdade e da pluralidade cultural. A liberdade religiosa não é, portanto, um privilégio. É um pilar essencial que sustenta a própria estrutura da sociedade livre, que fez daquele país a maior potência global, não apenas num sentido militar, mas como modelo estatal de preservação das liberdades individuais e de contenção de tiranias.

Enquanto no Oriente o martírio é físico e imediato, no Ocidente a estratégia é sufocar culturalmente o cristianismo, isolando-o e minimizando seu impacto social

No mundo, a perseguição religiosa ocorre de formas diversas. No Oriente, especialmente em teocracias islâmicas como o Irã, essa perseguição é aberta e institucionalizada, tendo o Estado como instrumento para reprimir, perseguir e até eliminar minorias cristãs, usando leis religiosas e aparato repressivo para silenciar a fé cristã, proibindo cultos, prendendo e condenando seguidores de Jesus. Nesses locais, a perseguição é violenta e direta, com cristãos enfrentando prisões, torturas e morte. Já no Ocidente, a perseguição adota formas mais sutis, porém não menos eficazes: bullying nas escolas, proibição de cultos nas universidades, censura nas mídias, restrições à presença explícita de símbolos cristãos na esfera pública, silenciamento de vozes cristãs nas empresas, hospitais, presídios e ruas, além de cada vez mais diversas e novas barreiras legais impostas para limitar a expressão da fé.

Assim, enquanto no Oriente o martírio é físico e imediato, no Ocidente a estratégia é sufocar culturalmente o cristianismo, isolando-o e minimizando seu impacto social. Tudo em nome de uma pretensa laicidade que, na verdade, se apresenta como um laicismo que se aplica, nos últimos anos, quase que exclusivamente ao cristianismo bíblico.

Como um dos motores deste movimento claramente anticristão e que tem influenciado fortemente o Ocidente está a “teoria crítica”, nascida nos Estados Unidos a partir da Escola de Frankfurt e representada por autores como Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse e, de certo modo, “aperfeiçoada” em termos estratégicos por Saul Alinsky. Esse pensamento responde diretamente pelo recente e crescente incremento da perseguição ao cristianismo no Ocidente. Tal corrente filosófica deslocou a luta revolucionária do campo econômico para o cultural, promovendo uma corrosão intensa dos valores, crenças e instituições fundamentais da civilização cristã. O projeto declarado da teoria crítica é implodir a moralidade objetiva e a ordem social baseadas no cristianismo, substituindo-as por uma hegemonia ideológica progressista que impõe o politicamente correto, censura qualquer discordância e restringe a liberdade de expressão e religiosa daqueles que resistem a essa narrativa dominante.

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Charlie Kirk encarnou essa resistência com coragem intransigente. Evangélico convicto e um líder evidentemente missionário, sua biografia demonstra um compromisso profundo com a defesa dos valores cristãos, que incluem conservar o que é essencial para a continuidade da civilização ocidental. Como fundador da Turning Point USA, Kirk dedicou sua vida, desde tenra idade, a impulsionar a fé e a cultura cristãs entre as novas gerações, enfrentando diretamente o avanço da teoria crítica nas universidades americanas, por meio de debates que expunham crenças, fatos e dados com precisão desconcertante, diante de uma plateia que perdeu o seu senso crítico (contraditoriamente) e até a sua individualidade em função da doutrinação eficaz operada pelos conceitos da teoria critica.

O ódio que lhe foi dirigido, fruto da rejeição a seu conservadorismo e à fé que proclamava, culminou em seu assassinato durante um evento universitário, um brutal símbolo da intolerância que hoje cresce no coração da sociedade norte-americana e também em todos os países ocidentais, já que influenciados pelos Estados Unidos por meio de sua arte e também por suas teorias acadêmicas, que se espalharam em função das bolsas sistematicamente distribuídas a estudantes e professores estrangeiros que vêm estudando no pais nas últimas décadas.

Prova do tão grande e único impacto da obra do jovem Charlie Kirk, que nos últimos 13 anos funcionou como uma barragem no rio caudaloso da erosão dos valores ocidentais nos câmpus americanos, que o culto fúnebre realizado em 21 de setembro no State Farm Stadium, em Glendale (Arizona), reuniu cerca de 90 mil pessoas, entre as quais estavam líderes políticos (incluindo o presidente e o vice dos EUA) e religiosos de destaque, para prestar homenagem à sua vida e à sua fé. O evento teve a intensidade de um grande avivamento espiritual, com canções de louvor, orações e discursos que celebraram Kirk como mártir da fé cristã e símbolo da resistência ao avanço cultural que busca silenciar vozes como a sua e tantas outras anônimas, que vêm se levantando.

O assassinato de Charlie Kirk deve ser compreendido como uma expressão extrema de perseguição religiosa, alimentada e incentivada pela teoria crítica

O que mais importa alertar aqui é que, no fim das contas, o que estão buscando aniquilar com esta mente neomarxista, ainda influente, é a mãe das liberdades, a liberdade religiosa: a liberdade para crer, manifestar e defender uma fé que formou o alicerce do Ocidente. O assassinato de Charlie Kirk deve ser compreendido sob essa lente: uma expressão extrema de perseguição religiosa, alimentada e incentivada pela teoria crítica que hoje domina as universidades e as instituições culturais americanas e, de resto, de outros países, como o Brasil.

Deste modo, a memória e a luta de Kirk permanecem como um farol para todos aqueles que reconhecem que a proteção da liberdade religiosa é essencial para a preservação dos benefícios inegáveis de convivência e harmonia que nos trouxeram até aqui em função da premissa da dignidade humana. Por isso, o resgate das novas gerações, razão da vida de Charlie Kirk, é urgente para todos os cristãos. O martírio deste nosso irmão é uma convocação a estarmos preparados para promover e defender esse legado, antes que voltemos a viver a barbárie que antecedeu a criação do Ocidente.

Zizi Martins é presidente do Instituto Solidez, vice-presidente da Aned, diretora e membro fundadora da Lexum e membro do IBDR. É advogada, especialista em Direito Religioso, mestre em Direito Público, doutora em Educação, e pós-doutora em Política, Comportamento e Midia.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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