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Crônicas de um Estado laico

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“Não seremos calados”, diz a Igreja Perseguida ao Ocidente cristão

perseguição religiosa
Imagem ilustrativa. (Foto: Imagem criada utilizando Whisk/Gazeta do Povo)

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Em 15 de junho, milhares de igrejas no Brasil se uniram no Domingo da Igreja Perseguida, promovido pela organização Portas Abertas. Trata-se de um gesto simbólico – e profundamente necessário – de solidariedade aos quase 400 milhões de cristãos perseguidos no mundo, segundo o relatório mais recente da instituição (com alta possibilidade de subnotificação). Um em cada sete cristãos enfrenta algum tipo de hostilidade por causa de sua fé. Um é morto a cada cinco minutos. E esses são apenas os casos registrados.

Quando se fala em perseguição, muitos pensam logo no Oriente Médio ou na Ásia – e com razão, porque é lá onde a perseguição chamada “extrema” se concentra. Na Coreia do Norte, cristãos são executados por carregar uma Bíblia. No Irã, reuniões de oração são tratadas como crimes. No Afeganistão, converter-se ao cristianismo leva a risco de vida iminente.

Mas o que precisa ser dito com mais clareza é que a perseguição religiosa também tem rosto latino-americano, europeu e ideológico! É crescente o número de governos e movimentos de esquerda que hostilizam cristãos, limitam a liberdade de culto, censuram discursos religiosos e promovem um secularismo militante. Na Cuba dos irmãos Castro, igrejas são demolidas. Na Nicarágua de Ortega, padres foram presos por denunciar abusos do regime. Na França “republicana”, crucifixos e orações são proibidos no espaço público – mas a burca é tolerada em nome da “diversidade”. No Brasil de Lula, os relatos são crescentes.

O que está em jogo é mais do que intolerância. É um projeto.

Quando se fala em perseguição, muitos pensam logo no Oriente Médio ou na Ásia. Mas ela também tem rosto latino-americano, europeu e ideológico

A esquerda – em todas as suas vertentes, com mais ou menos intensidade – entende que o cristianismo é um obstáculo cultural à revolução, e por isso precisa ser relativizado, esvaziado ou ridicularizado. Erwin Lutzer, em seu livro Não seremos calados, explica como a cultura moderna tenta silenciar a fé cristã pela via da moralidade distorcida: o pecado vira virtude, o erro vira direito, e quem não aplaude tudo isso vira “intolerante”. E o faz sempre difamando quem traz a mensagem contrarrevolucionária.

Segundo Lutzer, o novo totalitarismo não chega com tanques, mas com narrativas. Ele é apresentado como civilizado, inclusivo, empático. Mas é profundamente hostil à liberdade religiosa para os cristãos. A nova censura não proíbe a Bíblia; ela diz que a Bíblia é “discurso de ódio”. Não proíbe igrejas; apenas sufoca quem discorda do novo dogma cultural. É a perseguição com verniz “progressista”. É a tática do “Rei da Babilônia”, segundo ensina Tassos Lycurgo – o profeta Daniel e seus amigos foram seduzidos a fim de renunciar à identidade, à fé no seu Deus, à família, à nacionalidade etc.

E aqui entra uma distinção fundamental para o Brasil: o que nossa Constituição defende é a laicidade do Estado, ou seja, o Estado não pode impor nem favorecer uma religião. Isso garante liberdade. Mas o que a esquerda pratica é laicismo – a ideia de que qualquer manifestação de fé, especialmente cristã, deve ser retirada do debate público. O laicismo não é neutro: é hostil. E sua meta não é proteger as religiões não capturadas pela ideologia, mas eliminá-las do campo de influência social.

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A esquerda tolera muitos símbolos religiosos – desde que não venham da cruz. Tolera o Islã radical, desde que seja útil como vitrine de diversidade. Tolera cultos afro, desde que se apresentem como resistência dentro do movimento identitário. Mas, quando o cristianismo fala em conversão, em verdade e em moral objetiva, ele se torna um problema.

Esse duplo padrão se revela também no plano político. Muitos dos regimes que mais perseguem cristãos são celebrados ou minimizados por líderes e partidos de esquerda. O silêncio diante das igrejas queimadas no Chile. A omissão diante dos padres presos na Nicarágua. A conivência com a opressão islâmica ao redor do mundo. O motivo é claro: há uma afinidade ideológica entre o marxismo e qualquer regime que combata o cristianismo como base moral da civilização ocidental.

A estratégia é dupla: no Oriente, o cristão é apedrejado. No Ocidente, é ridicularizado, silenciado, removido dos espaços. Em ambos os casos, a fé cristã é vista como inimiga da revolução. O que varia é o método.

Por isso, o alerta que Lutzer faz é urgente. Não basta lamentar a perseguição em países distantes. É preciso identificar a tentativa de domesticação da fé em cada país. A imposição de uma linguagem neutra dentro das igrejas. A censura disfarçada de “regulação do discurso de ódio”. A criminalização da catequese. A espionagem de redes sociais religiosas. Tudo isso já está em curso.

Não basta lamentar a perseguição em países distantes. É preciso identificar a tentativa de domesticação da fé em cada país

Não é possível servir a dois senhores. Jesus mandou orar pelos inimigos, mas não mandou ser partícipe ou cúmplice do exército deles. O cristianismo é incompatível com ideologias que negam o pecado, exaltam o Estado e ridicularizam a Verdade. Logo, ser cristão implica confrontar os ardis ideológicos e pregar o Evangelho genuíno.

Além do mais, não existe cristianismo de esquerda que resista à prova do martírio. Porque quem está disposto a morrer pela fé não negocia a consciência para agradar a militância.

O que o Domingo da Igreja Perseguida nos lembra, mais do que tudo, é que essa batalha não é apenas por liberdade de culto; é pela preservação do fundamento espiritual da civilização ocidental. E cabe a cada um que professa a fé bíblica não apenas resistir, mas declarar com coragem e firmeza, como Lutzer ensina: “não seremos calados”.

Zizi Martins é membro do Instituto Brasileiro de Direito e Religião (IBDR) e membro fundadora da Lexum. É advogada, procuradora do Estado da Bahia, especialista em Direito Administrativo pela UFBA, especialista em Direito Religioso pela Unievangélica, mestre em Direito pela UFPE, doutora em Educação pela UFBA, e pós-doutora em Política, Comportamento e Mídia pela PUC/SP. Atua também como consultora e pesquisadora na área de liderança e gestão pública, além de comentarista política.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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