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Daniel Lopez

Daniel Lopez

Jornalista e teólogo, autor de ‘Manual de Sobrevivência do Conservador no Séc. XXI’. É doutor em linguística pela UFF

Geopolítica desinteligente

Engenheiro teve sua casa inteligente bloqueada após “comentários ofensivos”

Caso de engenheiro que teve sua casa inteligente desligada remotamente levanta sérias questões de privacidade e segurança

(Foto: Pixabay)

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Inicio meu artigo de hoje com uma situação curiosa que aconteceu comigo neste último sábado, e que tem direta relação com o artigo que publiquei aqui na semana passada. No último dia 17, às 18h, eu daria uma palestra sobre “ChatGPT e Inteligência Artificial”, mostrando os pontos preocupantes dessas novas tecnologias, conforme comentários recentes de engenheiros de alta patente, como os ex-executivos da Google Mo Gawdat e Geoffrey Hinton. A fala seria baseada no texto que publiquei aqui na Gazeta na quarta-feira anterior.

Para minha surpresa, quando cheguei ao local da palestra, não havia internet. Mas o estranho é que o auditório fica num complexo de escritórios. Todo o restante do prédio estava com acesso à rede, menos a área específica do auditório. A situação atrapalhou um pouco minha exposição do conteúdo, mas foi algo que conseguimos contornar. O mais estranho foi que, no final de minha apresentação, a internet voltou a funcionar. Lembrando que foi um sábado de sol e tempo muito agradável. Não havia nada que justificasse aquela pane. Vale ressaltar que o técnico responsável foi acionado antes do evento começar, mas não conseguiu resolver a questão.

Você acha que as chamadas “casas inteligentes” oferecem riscos de privacidade e segurança?

Na confraternização após o evento, conversando com um amigo que trabalha numa das maiores empresas de tecnologia do mundo, ele disse, em tom de brincadeira: “Será que a inteligência artificial percebeu que você iria criticá-la e desligou a internet propositalmente, uma vez que o problema aconteceu apenas no auditório da palestra, e somente no horário do evento?”. Além disso, ele acrescentou: “Já imaginou se, no futuro, a inteligência artificial, controlando os carros inteligentes, comece a impedir que os veículos se desloquem a um evento onde sua tecnologia será criticada?”. Todos nós rimos do comentário. Porém, logo em seguida, comecei a lembrar de duas situações semelhantes às hipóteses que ele levantou.

No dia 24 de maio deste ano, o engenheiro da Microsoft Brandon Jackson recebeu uma encomenda em sua casa. O entregador retornou da entrega afirmando que havia sido ofendido pelo proprietário da casa, e enviou sua reclamação para a empresa responsável pela entrega, que também é sua empregadora. A história foi relatada pelo próprio Jackson num texto publicado no dia 4 de junho.

Já imaginou se, no futuro, a inteligência artificial, controlando os carros inteligentes, comece a impedir que os veículos se desloquem a um evento onde sua tecnologia será criticada?

O estranho foi que, logo após o ocorrido, o proprietário afirmou que sua casa inteligente havia sido desconectada da internet. Ele utilizava uma assistente virtual fabricada pela mesma empresa que realizou o serviço de entrega. Inicialmente, Jackson pensou que sua internet domiciliar havia sido alvo de um ataque hacker. Mas não foi o caso. Intrigado, ele resolveu entrar em contato com o atendimento ao cliente da empresa responsável pela entrega (e também pelo serviço do assistente domiciliar). Para sua surpresa, ele foi informado que estava sendo acusado de ter ofendido o entregador, e isso teria motivado a empresa a desligar seus serviços de sua casa inteligente.

O problema é que, conferindo o horário da entrega e o conteúdo das câmeras de segurança, ele percebeu que não estava em casa no momento da entrega. Teria o entregador mentido? Jackson concluiu que a hipótese mais provável é que a campainha da casa, que era digital, deve ter emitido uma reposta automática por voz dizendo algo do tipo: “Com licença, como posso ajudar?”. Observando nas filmagens que o entregar usava fone de ouvido, é possível que ele tenha compreendido erroneamente o áudio emitido pela campainha, tendo interpretado a fala como possuindo conteúdo ofensivo.

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Depois de muitas ligações, ele conseguiu que o serviço fosse religado. Porém, afirmou que está pensando seriamente em mudar todo o serviço de assistência virtual da sua casa para uma empresa concorrente. O proprietário ficou indignado, uma vez que, durante a análise interna da reclamação recebida pela empresa, ainda mesmo sem conclusões, seus serviços de casa foram desligados. Ele afirmou que a empresa poderia ter, em vez disso, colocado restrições temporárias em sua conta no site de compras on-line, ou suspendido as entregas à sua residência enquanto o caso estava sendo analisado. Posteriormente, em nota enviada a um site de tecnologia, e empresa reconheceu que o cliente não agiu de forma inadequada e que estavam buscando maneiras de evitar que situações como aquela se repitam no futuro.

Ao lembrar desse ocorrido, concluí que o comentário de meu amigo sobre a queda da internet no local de minha palestra não estava completamente fora do caminho para onde a tecnologia está caminhando. Mas você poderia perguntar: “E sobre a ideia dos carros inteligentes decidirem não conduzir seus proprietários a um determinado local por algum motivo?”. Eu escrevi exatamente sobre isso num artigo publicado aqui no dia 15 de março deste ano. Vale a pena a leitura.

E você, o que achou do ocorrido? Você possui esses assistentes virtuais em sua casa? Você acha que as chamadas “casas inteligentes” oferecem riscos de privacidade e segurança? Deixe sua opinião nos comentários. Até a semana que vem.

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