Diversionismo é uma estratégia usada para impedir que um assunto importante venha à tona, desviando a atenção para algo diferente do que deveria ser abordado. Nesse sentido, em momentos de grandes comoções nacionais (Copa do Mundo, por exemplo) ou internacionais (pandemia), sempre me questiono se o “sistema” estaria aproveitando a distração geral para fazer avançar projetos que, em tempos normais, e com a devida atenção da opinião pública, não prosperariam.
Nestes dias angustiantes, de Guerra na Ucrânia e disputas nacionais, fico me questionando se existiria algo que estivesse avançando na surdina, algo importante que não tem recebido a devida atenção da opinião publica, em virtude da distração atual. Nessa categoria, um tema que julgo estar capitalizando em cima do diversionismo é a implementação do Real Digital, tema já abordado anteriormente em minhas colunas, e que, em minha opinião, não tem recebido a devida atenção, principalmente diante da enorme seriedade da proposta.
No domingo, eu conversava com um amigo que atua numa das maiores empresas de tecnologia do mundo. Ele me perguntou: “Por que será que o projeto do Real Digital, que estava programado para ser inaugurado em 2022, ainda não saiu do papel?”.
Enquanto eu formulava possíveis causas para o atraso, deparei-me com a notícia de que o Banco Central havia acabado de emitir experimentalmente, na última quinta-feira (20), os primeiros reais digitais. Senti, ao mesmo tempo, um alívio de não ter que explicar um eventual atraso, mas também um frio na espinha diante de uma proposta tão séria como essa. O economista Fernando Ulrich exprimiu muito bem, em suas redes sociais, o nível de angústia que toda pessoa consciente deveria sentir diante desse tema: “Estão parindo o capeta financeiro sob a justificativa da inovação”, escreveu ele. Resumo perfeito.
As CBDCs (“Central Bank Digital Currencies”, ou seja, as Moedas Digitais dos Bancos Centrais) representam motivo de enorme preocupação, pelo menos para economistas como Robert Wenzel. “Uma moeda digital criada pelo Federal Reserve [dos EUA] pode ser uma das medidas mais perigosas já tomadas por uma agência governamental. Isso colocaria nas mãos do governo o potencial de criar uma moeda digital com a capacidade de rastrear todas as transações em uma economia – e proibir transações por qualquer motivo. Em termos de futura liberdade individual, isso seria um pesadelo”, defendeu o economista em artigo de 2020.
Isso pode representar, dependendo da maneira como for operacionalizado, um passo acelerado em direção ao controle, à diminuição do poder social e ao enorme aumento do poder estatal. Este é, para mim, o tema mais sério hoje que não está sendo abordado publicamente. Seria muito benéfico se um grande debate público fosse realizado antes da concretização de um projeto de tamanha magnitude. Entretanto, num ano de disputa pelo Executivo nacional e de Copa do Mundo, não será muito fácil trazer o tópico à tona. Porém, faço aqui a minha parte, não apenas conscientizando, mas orando para que Deus nos proteja das possíveis consequências nefastas de tão importante iniciativa.
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