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Joe Biden e Benjamin Netanyahu durante encontro em Israel, em 18 de outubro de 2023.
Joe Biden e Benjamin Netanyahu durante encontro em Israel, em 18 de outubro| Foto: EFE/Miriam Alster/Pool

Três datas são fundamentais para entender o caos iniciado no Oriente Médio após os atos inomináveis do dia 7 de outubro. Sem o conhecimento desses dias e dos fatos que neles ocorreram (quase silenciados na mídia global), torna-se muito difícil entender a movimentação das peças do tabuleiro global por trás da nova guerra ao terror.

A primeira data é 15 de junho de 2022. Neste dia, uma reunião ocorrida na capital egípcia mudou completamente o cenário energético e geopolítico global. Nesta data, foi assinado um acordo em que a União Europeia compraria gás natural produzido em Israel, refinado no Egito e enviado do território egípcio pelo mar para o continente europeu. O objetivo declarado da iniciativa foi reduzir a dependência dos países europeus do gás russo. Após 24 de fevereiro de 2022, com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, o projeto do gasoduto Nord Stream 2 foi não apenas cancelado, mas os gasodutos foram literalmente destruídos por uma explosão misteriosa em 26 de setembro de 2022.

Imagino que Vladimir Putin não deve ter ficado muito feliz após ter seu “alvará” para o fornecimento de gás natural para a Europa cancelado, ver seus gasodutos bilionários serem destruídos e perceber que Israel o substituiria nesta lucrativa empreitada. Ficou claro que um grande projeto de controle energético está em jogo. O domínio de Israel sobre o fornecimento de gás para a Europa daria indiretamente aos Estados Unidos (aliado eterno de Tel Aviv) um enorme controle geopolítico sobre a Europa, em desfavor dos interesses russos para o continente europeu.

Três datas mostram que algo já estava sendo programado antes do fatídico 7 de outubro

A segunda data é 20 de setembro de 2023, quando o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, realizou uma reunião reservada com o presidente Joe Biden no Salão Oval. Apesar de a reunião ter sido pouco divulgada na mídia tradicional, há uma transcrição da conversa disponível no site oficial da Casa Branca. O seguinte trecho traz luz sobre os planos que já estavam sendo delineados duas semanas antes do início da guerra contra o Hamas:

“Durante a reunião, os dois líderes reiteraram seu compromisso de garantir que o Irã nunca adquira uma arma nuclear, bem como a estreita cooperação contínua entre Israel e os Estados Unidos para combater todas as ameaças colocadas pelo Irã e seus procuradores. Eles também consultaram sobre o progresso no estabelecimento de uma região mais integrada, próspera e pacífica do Oriente Médio, inclusive por meio de esforços para aprofundar e expandir a normalização com os países da região.”

Creio, porém, que a informação mais importante apresentada no resumo desta reunião do dia 20 de setembro foi o acordo conhecido como Imec:

“Os dois líderes saudaram o anúncio histórico feito no G20 para desenvolver o Corredor Econômico Índia-Oriente Médio-Europa (Imec) através dos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Jordânia e Israel, e discutiram como o projeto pode beneficiar toda a região do Oriente Médio com investimentos e novas formas de colaboração em dois continentes. Os dois líderes e suas equipes saudaram a provável convocação em breve de uma reunião ministerial no formato Negev para avançar ainda mais as iniciativas de integração regional, bem como aprofundar o Diálogo Tecnológico EUA-Israel em andamento.”

Este acordo, estabelecido em 10 de setembro de 2023, funcionou como uma reposta à Nova Rota da Seda chinesa, e talvez, também, como uma tentativa de frear a estratégia dos países emergentes de criar o Brics 11, adicionando aos cinco países fundadores (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) mais seis nações: Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. A entrada do Irã talvez seja o ponto principal. É possível que os EUA estejam planejando aproveitar a guerra contra o Hamas para também tentar derrubar o regime iraniano, que desde a Revolução Islâmica de 1979 tornou-se arqui-inimigo dos EUA. O problema é que, em 2013, a tentativa dos EUA de derrubar o regime sírio quase gerou uma Terceira Guerra Mundial. Hoje, uma tentativa de derrubar o regime iraniano seria ainda mais preocupante.

A terceira data é 22 de setembro de 2023, quando Netanyahu fez uma apresentação na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, apresentando um mapa com o título “O Novo Oriente Médio”. O mapa gerou muita polêmica, pois nele não havia mais a Faixa de Gaza nem a Cisjordânia. Tudo muito estranho, quando lembramos que no dia 7 de outubro aconteceria o ataque contra Israel. Lembre-se de que o discurso na ONU ocorre apenas dois dias após a conversa de Benjamin Netanyahu a portas fechadas com Biden – e tenho a impressão de que houve uma espécie de compromisso de ajuda mútua em um eventual conflito, considerando as notícias informando que o Egito havia alertado Israel sobre um possível ataque do Hamas.

Essas três datas nos dão a impressão de que algo estava sendo programado. Um novo desenho do Oriente Médio para “atrapalhar” os planos chineses com a Nova Rota da Seda e a ideia dos Brics 11. O jogo é duro e parece que está longe de terminar.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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