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No meio da batalha das tarifas, alguns analistas estão começando a acreditar na tese insana de uma quebra proposital da economia. A tese é louca, eu sei. Mas está cada vez mais sendo ventilada nos Estados Unidos. Por isso, creio que vale uma análise. Desta vez, foi o analista de investimentos Amit Kukreja que retomou a estranha hipótese de que Donald Trump quer que o mercado quebre. Segue o resumo do raciocínio que ele trouxe recentemente numa postagem em suas redes sociais. Ele inicia a reflexão apontando que os Estados Unidos possuem US$ 7 trilhões em dívidas que precisam ser pagas nos próximos 6 meses. Caso o montante não seja pago dentro deste prazo, será necessário refinanciar esse valor. O detalhe é que o governo Trump não quer refinanciar a uma taxa de 4% ou mais. Lembrando que o título de 10 anos chegou a bater 4,8% já em 2025.
Portanto, a grande questão é: como baixar essa taxa de refinanciamento? Um caminho que parece estar sendo especulado, segundo Amit Kukreja, e que Donald Trump pode querer, é fazer com que os mercados mostrem fraqueza no crescimento. Além disso, o DOGE (o Departamento de Eficiência Governamental, liderado por Elon Musk) precisa dar a impressão de estar sendo eficiente nos cortes de gastos, desperdícios e fraudes. Isso abriria margem para uma redução da taxa de juros.
Essa “recessão provocada”, com a finalidade de facilitar o pagamento da dívida, deve chegar o quanto antes, para que ainda seja viável culpar a gestão anterior pelo estrago. Seria essa a estratégia? Usar a imposição de tarifas para trazer dor no curto prazo e ganhos no longo prazo?
E a maneira para fazer com que os mercados mostrem fraqueza no crescimento envolve criar incertezas significativas, por meio da imposição de tarifas, que é justamente o que Donald Trump está fazendo. Essa postura seria capaz de desacelerar o crescimento no curto prazo e levar os investidores a comprar títulos o mais rápido possível, em busca de segurança, diminuindo, assim, sua posição em ações. Isso faria com que os rendimentos caíssem e favoreceria este plano de refinanciar a dívida a taxas mais baratas. Esse cenário hipotético abriria um contexto favorável para o Banco Central Americano seguir na redução da taxa de juros, o que puxaria os rendimentos ainda mais para baixo.
O problema é que muitos entendem que a imposição de tarifas é inflacionária. Isso porque se os EUA aumentam as taxas de importação para os produtos, eles tenderiam a ficar mais caros para o consumidor norte-americano. Porém, ao contrário do consenso de que as tarifas são inflacionárias e elas fariam os rendimentos de 10 anos subirem, está acontecendo exatamente o contrário.
Isso porque está sendo gerada tanta incerteza no mercado acionário que as pessoas estão vendendo ações e comprando títulos. E isso seria exatamente o que a administração Trump quer que aconteça no curto prazo, com o objetivo de reduzir os custos do refinanciamento da dívida. E tem mais um detalhe.
Essa “recessão provocada”, com a finalidade de facilitar o pagamento da dívida, deve chegar o quanto antes, para que ainda seja viável culpar a gestão anterior pelo estrago. Seria essa a estratégia? Usar a imposição de tarifas para trazer dor no curto prazo e ganhos no longo prazo? É um jogo misterioso, e perigoso. Espero que dê certo.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos




