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Engenheira e automação
De chatbots no atendimento ao cliente a braços robóticos que empacotam produtos, o objetivo da automação é aumentar a produtividade e reduzir custos.| Foto: Lifestylememory / Freepik

A corrida pela automação das atividades nas empresas se intensificou nos últimos anos e é raro encontrar operações que não tenham, ao menos, uma parte da jornada viabilizada por máquinas. De chatbots no atendimento ao cliente a braços robóticos que empacotam produtos, o objetivo é aumentar a produtividade e reduzir custos. Mas há uma outra faceta da automação que não tem a ver com eficiência ou lucro.

Em visita recente a uma fábrica, conversei com uma alta liderança do negócio que contou que um dos motivos para substituir pessoas por robôs foi o desinteresse de profissionais por trabalhos repetitivos e operacionais, principalmente os que envolvem o uso de maquinário pesado. Pode ser um caso isolado, mas é inegável que existe uma mudança em curso na forma como trabalhamos e as expectativas em torno desse novo mundo.

Em uma sociedade cada vez mais digitalizada, as empresas seguem o passo e incorporam tecnologias para melhorar os resultados e chegar mais longe. Foi justamente essa busca pelo ganho de escala que motivou o surgimento de grandes ecossistemas de negócios de marketplace, em que a tecnologia intermedia a prestação de serviços de terceiros, caso da Amazon, do Uber, do iFood e de tantas outras.

Segundo Bruno Martins, CEO da Trilha Carreira, o desinteresse por trabalhos operacionais no Brasil pode ser explicado pela relação custo-benefício pouco atraente. "Uma pessoa que trabalha na produção de uma fábrica geralmente ganha pouco e convive em ambiente fechado e com muito barulho. Sem precisar de muita estrutura, ela pode preferir abrir um e-commerce para tentar um novo negócio ou um plano B na internet fazendo o que gosta. Isso era inimaginável 20 anos atrás", analisa.

É a chamada economia colaborativa, que favorece a prestação de serviços temporários e alternativos com fontes de renda variáveis. Ganha-se a liberdade para trabalhar quando e como quiser, mas perde-se o vínculo empregatício que concede direitos trabalhistas - conta que pode não fechar para muita gente em um país tão desigual como o nosso. Trata-se de uma discussão complexa, que coloca em perspectiva o declínio do plano de carreira e o aumento da adesão à empregabilidade (capacidade de gerar valor e renda independentemente do regime de contratação).

O que as pessoas querem?

Em contato com profissionais em transição de carreira, Martins cita a preferência pelos modelos de trabalho remoto ou híbrido na hora de negociar um novo emprego. Mas, segundo ele, as empresas têm enfrentado dificuldades para endereçar esta e outras novas demandas que surgiram recentemente na esteira da pandemia, como flexibilidade de horários, autonomia e bem-estar no ambiente corporativo.

Ainda que grande parte das pessoas não tenha o privilégio de recusar uma oferta aquém de suas expectativas, pode-se dizer que o questionamento sobre o que vem a ser um trabalho melhor ou mais adequado às necessidades de cada um é mais comum hoje do que era no passado.

O que os jovens não querem?

A falta de interesse por trabalhos repetitivos e operacionais pode ser apenas a ponta do iceberg de uma transformação radical no mercado de trabalho. Uma pesquisa concluiu que apenas 2% entre os jovens da geração Z, nascidos entre 1997 e 2012, têm interesse em assumir cargos de liderança. Os motivos? Aversão ao ambiente corporativo, o que inclui rotinas operacionais e repetitivas, e a busca por mais flexibilidade e propósito profissional.

“Há uma verdadeira inquietação em questionar por que as coisas são como são. Diante dessas incertezas, alguns jovens respondem com pessimismo, outros, com ativismo", disse o consultor de carreira de Harvard Gorick Ng, responsável pela pesquisa. Sobre a falta de ambição da geração Z para liderar, ele arrisca um palpite: “talvez porque a ideia de ficar 20 anos em uma empresa possa parecer um compromisso muito grande, talvez porque o ambiente corporativo não seja mais tão legal.”

Ficam, portanto, mais perguntas do que respostas sobre o futuro do trabalho e a relação entre pessoas e máquinas.

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