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“Ele parece um cara muito legal, ele gosta de mim e eu gostei dele. E eu só faço negócio com gente de quem eu gosto. Quando não gosto, eu não faço. Quando eu não gosto, eu não gosto. Por 39 segundos, tivemos uma ótima química, e isso é um bom sinal." Essas foram as surpreendentes palavras do presidente americano, Donald Trump, sobre Lula, presidente do Brasil, que poucos minutos antes havia feito um discurso com duras críticas a Trump e aos Estados Unidos.
Por que Trump, conhecido justamente por seu temperamento mercurial e implacável, elogiou Lula logo depois de ser criticado? As críticas de Lula não foram diretas: embora 75% de seu discurso tenha sido dedicado a atacar Washington, ele não citou nem uma vez o nome de Trump ou dos EUA. Limitou-se a falar de “supostos atentados contra a soberania nacional” e contra a “independência do Poder Judiciário". Ainda assim, o alvo era claro para todos: Trump.
Então, por que Trump elogiou Lula? Em seu livro A Arte da Negociação, uma das regras ensinadas por ele é explorar a imprevisibilidade e usá-la para distrair e seduzir adversários a aceitarem o acordo desejado. E tudo indica que Trump aplicou essa técnica novamente aqui. Ao elogiar Lula em público e anunciar que ambos se reuniriam na semana seguinte, Trump colocou Lula contra a parede diante do mundo inteiro.
Lula tem duas opções: comparecer à Casa Branca, onde o comportamento de Trump é imprevisível, ou se recusar a comparecer e carregar a pecha de covarde, já que ele insistiu, por meses, que só não conversou com Trump porque o americano “não quis conversar”. Lula chegou a repetir isso sete vezes na semana passada para uma pasma Ivone Wells, jornalista da BBC. Ela não entendia por que ele não tinha ligado diretamente para Trump, mesmo após o americano dizer que poderia atendê-lo a qualquer momento.
A prova veio logo depois: o chanceler de Lula, Mauro Vieira, correu para dizer à CNN americana que o encontro não aconteceria, pois a agenda de Lula estaria muito “ocupada”. Segundo Mauro Vieira, os dois provavelmente falariam apenas por telefone ou videoconferência. A desculpa é absurda: então Lula teria a agenda cheia, mas Trump, presidente dos EUA e homem mais poderoso do mundo, não?
O que poderia ser mais importante do que um encontro com Trump após um convite direto? O que Lula teria em sua agenda mais relevante do que sair do Salão Oval com um acordo comercial com os EUA, que reduzisse ou acabasse com o tarifaço? O encontro recente com o prefeito de Belo Horizonte? A sua recepção da seleção feminina de futebol? São atividades relevantes, mas nada supera a importância do encontro com o presidente da nação mais poderosa do mundo que impacta diretamente exportações, renda e empregos no Brasil.
E é justamente por isso que a fala de Mauro Vieira expõe os dois grandes medos que Trump incutiu em Lula. Esses medos esfriaram a euforia da militância e da imprensa de esquerda, que tinham corrido logo antes para comemorar os elogios do “fascista” Trump.
A desculpa é absurda: então Lula teria a agenda cheia, mas Trump, presidente dos EUA e homem mais poderoso do mundo, não?
O primeiro medo está ligado às eleições de 2026: Lula não quer negociar com Trump para reduzir tarifas sobre produtos brasileiros nem reparar a crise diplomática — hoje no seu pior momento em mais de 200 anos. Ir a Washington seria, para Lula, abrir mão da narrativa da “soberania nacional” e da ladainha do inimigo externo, único recurso que ainda lhe rende algum ganho de popularidade e que pode ser explorado eleitoralmente em 2026. Sem projeto de país, Lula e o PT precisam dessa muleta.
O segundo medo, já admitido reservadamente na imprensa até pelo Itamaraty, é o de que Trump humilhe Lula como fez com o ucraniano Volodymyr Zelensky e com o presidente da África do Sul — os casos mais notórios de líderes expostos a situações constrangedoras diante da imprensa mundial no Salão Oval. Consegue imaginar Trump listando, um por um, os abusos de Alexandre de Moraes na frente de Lula, diante das câmeras? Seria um desastre para o petista e uma festa para a direita.
A verdade é simples: Lula arregou para Trump — e arregou feio.




