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Bienal do presente
| Foto: La Biennale di Venezia/Reprodução

Há anos, sempre que possível, visito a Bienal de Veneza. Pensamento crítico e (necessariamente) provocador são marcas registradas dessa que, a meu ver, trata-se da melhor bienal do mundo no que tange arte e arquitetura.

Recordo-me da primeira vez que visitei o evento: o ano era 2000 e o tema, nada básico, “Menos estética e mais ética”. Já na Edição de 2021, “La Biennale” abordou o tema “Como iremos viver juntos? “ (“How will we live together?”). Em tal edição — sobre a qual escrevi uma coluna para HAUS — havia um forte enfoque sobre a intersecção da sociedade e do crescimento da inteligência artificial. Até então, a linha guia da Bienal de Veneza seguia para a criação de um pensamento crítico para médio e longo prazo. Uma utopia a ser perseguida.

A grande e impactante diferença para a recente edição da Bienal de Arquitetura de Veneza de 2023 é que a mesma clama por ações urgentes. Não se discute mais o futuro, mas sim o presente.

A Bienal em questão poderia ser chamada de Bienal da reconstrução (ou ressurreição) do mundo, porém leva o nome de “The laboratory of the future” (O laboratório do futuro, em tradução livre). A curadoria ficou por conta da africana Lesley Lokko, que trouxe a reflexão sobre “como ser um agente de mudança para o futuro”. A palavra da vez é reuso absoluto de materiais e a menor geração possível de descartes. Um cenário que lembra o filme “Blade Runner”.

O ponto crítico fica ainda evidente no “mea culpa” do mundo Ocidental, sobretudo por parte dos países desenvolvidos, e aí a palavra de ordem é a da “decolonização”, com enfoque sobretudo ao continente africano, principal fonte das colônias europeias, tal qual ocorre nos dias de hoje.

A Biennale 2023 não é agradável aos olhos, mas importante. A narrativa é forte e traz reflexões. A arquitetura propriamente dita deixa um pouco a desejar e é relegada a segundo plano. Porém, até isso acredito ser ponto de força da atual edição.

Vale a expectativa sobre a edição relativa à arte, que correrá com curadoria do (brilhante) brasileiríssimo Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP (Museu de Arte de São Paulo). Com certeza, o frescor de um olhar latino-americano, aliado ao senso crítico da instituição, resultará em uma edição tanto quanto ou mais reflexiva que a atual.

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