Design Filosófico

Criar ou fazer?

30/06/2023 20:47
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O ato de criar é árduo e exige um grande comprometimento. Ao menos para CRIAR, em maiúsculo. E retorno, então, à etimologia da palavra.
CRIAR = gerar, dar à luz, do latim crescer, erguer. Já a etimologia do FAZER = realizar, cumprir, produzir.
Logo, há uma grande diferença entre o FAZER e o CRIAR. A diferença na raiz da palavra é grande, mas no dia a dia a linha que os separa é tênue. Um projeto pode ser FEITO ou CRIADO. Se é feito, cumpriu uma lacuna de necessidade.
Procuro manter em minha trajetória o CRIAR. E, assim, emoções se erguem, tomam forma, materializam-se e se conectam, traduzindo o sentimento que há em meu âmago, e aí a definição de “dar a luz”. É perfeita. Obviamente, tal processo é árduo e exige muita inspiração prévia ao processo de transpiração. Gostaria de compartilhar algumas ferramentas para os processos de criação.

Meditação

A milenar prática indiana que leva os praticantes a um mergulho em seu mais profundo EU. Busquei a técnica em um momento difícil na ordem pessoal e profissional/financeira, em meados de 2015, acreditando que ali (re)encontraria o meu equilíbrio. Mal sabia que, na verdade, começava a descortinar-se um novo e profundo lifestyle.
Obviamente que tudo se inicia com técnicas de respiração, que levam à abstração do momento passado e futuro para que se viva o presente.
As técnicas possibilitam, até mesmo para um hiperativo como eu, permanecer horas com seu próprio pensamento. A prática é fundamental; e assim como em uma academia de ginástica, quanto mais se faz, mais eficaz é a experiência. Porém, vale realçar que a meditação não está necessariamente atrelada à espiritualidade. A minha, por exemplo, permanece sob os ritos do catolicismo.
O ato de isolar-se em seu âmago traz à tona um grande autoconhecimento: seus maiores medos, suas maiores virtudes, assim como seus maiores desejos. Porém, a respiração é apenas o portão de entrada desse grande processo de autoconhecimento. Leituras como o Ashtavakra Gita, um livro escrito há milhares de anos em sânscrito que narra um diálogo (dito pelos indianos, o maior diálogo do mundo) e transcorre sobre a liberdade, consciência, emoções, medos, amor, o certo e o errado, desejos, e tudo que faz parte da existência humana.

Silêncio

Há ainda os Retiros de Silêncio (“Silence Retreat”) nos moldes daquele que você viu no filme “Comer, Rezar e Amar”, estrelado por Julia Roberts. Com duração de 3 a 7 dias, é um período regado a meditação e ioga, em que o único diálogo possível é consigo mesmo.
Uma viagem interior, na qual, por mais incrível que possa parecer, o mais difícil é retornar aos ruídos da cidade. O nobre leitor jamais, desde seu nascimento, permaneceu um único dia sem falar.
Definitivamente, a meditação é um portal de conexão para um mergulho interior fundamental para a CRIAÇÃO, em maiúsculo. O silêncio possibilita um autoisolamento dos milhares de estímulos que recebemos diariamente em um mundo hiperconectado. Dificilmente encontramos tempo e espaço para digerir as informações pelas quais somos "bombardeados".

Filosofia

E assim, na necessidade de reciclagem e de me manter no caminho constante do conhecimento, fui estudar Filosofia. Uma busca pela ampliação das ideias e conceitos. A Filosofia (a qual a etimologia literalmente define como “amizade pela sabedoria”) leva a um estudo constante sobre a humanidade. Aprecio o fato de trazer reticências ao invés de um ponto final. Isto é, de levar a reflexões constantes sobre pré-conceitos definidos.
Buscar o porquê, o sentido das coisas, é uma ferramenta de vital importância, sobretudo em um mundo no qual o excesso passou a fazer parte do cotidiano: de informações jogadas na internet, da produção industrial sem sentido.
Ferramentas que nos despertem, que tragam o poder da verdadeira reflexão nos auxiliando a chegar na essência do que somos, do que queremos ser e do que fazemos (hoje) são essenciais para todos, sobretudo para a comunidade (verdadeiramente) criativa.