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Ideia da semana – Tony Soprano é mais complexo do que Hamlet

Craig Blankenhorn/HBO
A Família Soprano: um novo clássico?

Robert McKee é tido como um bom teórico de roteiros. Escreveu livros que ensinam como criar tramas que são bem vistos e inspiraram muita gente. (Michel Hazanavicius, de “O artista”, diz andar com o livro dele para cima e para baixo, embora Mckee o critique um pouco pelo filme “nostálgico” demais.)

Em uma entrevista para o “El País”, ele diz que os seriados televisivos estão ficando mais complexos do que o teatro. Que nem mesmo uma grande peça de teatro, como “Hamlet”, de cinco atos, tem como mostrar tantas complexidades quanto uma trama de 80 capítulos, como “Família Soprano”.

Claro que ninguém está discutindo se Shakespeare ficou para trás – seria absurdo. Mas, sim, a quantidade de informação e de complexidade que é possível mostrar em cada formato. Veja trechos da entrevista.

Concorda com a ideia de que na última década o melhor do cinema foi feito para a televisão?

Sem dúvida.

E, para você, onde está a grande vantagem desse cinema televisivo sobre o cinema convenciona? Para continuar com “A separação” [que ganhou o Oscar de filme estangeiro neste ano], esse filme mostra quão complexo pode ser um personagem em menos de duas horas.

Sim, é complexo e compacto, maravilhoso, mas não é a “Família Soprano”, não é “A sete palmos”. Pouco tempo atrás fiz um estudo sobre Tony Soprano para medir a complexidade de suas contradições… Vejamos o homem de “A separação”: ama a mulher, mas ama o seu pai; é um bom pai, mas não reconhece seus erros, ou seja, tem suas contradições, mas, quantas tem Tony Soprano? Quando cheguei a doze simplesmente parei.

Tony Soprano é muito mais complexo do que Hamlet, porque Hamlet dura só quatro horas. E é mais complexo do que o protagonista de “A separação”. Talvez esse filme pudesse durar cem horas e veríamos a vida desse homem em seu banco, com seus amigos, com uma amante. Em “Família Soprano” há uma vida amorosa, uma vida profissional, estão lá o FBI, a esposa, a psiquiatra, as amantes, os inimigos e os outros.

Creio que o novo padrão para as grandes histórias será de cem horas e para isso os escritores vão ter de desenvolver personagens muito complexos que sejam capazes de se sustentar durante cinco temporadas, a ponto de no quinto ano esse personagem tome decisões que não poderia ter tomado nos quatro anos anteriores.

Isso não pode ser arbitrário, um bom personagem é aquele que toma uma decisão à primeira vista surpreendente, mas cujas motivações sempre estiveram latentes, ainda que não tivéssemos notado.

Quem quiser ler tudo, em espanhol, clica aqui.

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