

Bach: o número 1!
O crítico Anthony Tommasini encerrou depois de duas semanas a sua missão de escolher uma lista dos dez maiores compositores de todos os tempos.
Já fiz uns posts sobre a saga dele (veja aí abaixo). Agora, como ele soltou a lista definitiva, resolvi fazer um esforcinho e traduzir o texto.
É longo. E tradução não é bem a minha arte. Então só consegui fazer a primeira parte até agora. Até o quarto lugar da lista. (Sim, ele fez com a posição de cada um).
Amanhã tento terminar do quinto ao décimo.
Então, é isso. Critiquem à vontade.
Os maiores
Lá vai. Esse artigo completa meu projeto de duas semanas para escolher o top 10 dos compositores de música clássica da história, sem incluir aqueles que ainda estão entre nós. A discussão, lançada numa série de posts, artigos e vídeos, foi acompanhada por mais de 1,5 mil comentários bem informados, desafiadores, apaxonados e inspiradores de leitores do New York Times. Sempre que eu pude, eu respondi a perguntas diretamente on-line e entrei na discussão.
Eu estou prestes a revelar a minha lista, embora aqueles que estiveram comigo nessa aventura já saibam que eu deixei dicas pelo caminho. E o vencedor, o maior de todos os tempos é… Bach!
Para voltar um pouco atrás, eu comecei esse projeto com um desafio, em parte como um jogo intelectual, mas também como uma tentativa real de esclarecer – para mim assim como para os outros – o que exatamente faz os grandes mestres tão surpreendentes. Não importa o quanto o exercício possa parecer execrável, quando eu me vi debatendo se eu tirava Brahms ou Haydn da lista para abrir espaço para Bartók ou Monteverdi, isso me fez pensar a fundo sobre as suas conquistas e a sua grandeza.
Ah, a grandeza. Bem cedo eu recebi um desafio de um leitor (“Scott”) que questionava a própria noção de grandeza em música. Ele citava o ensaio título de “Ouça Isso”, uma coleção de escritos sagazes, vivos de Alex Ross, o crítico de música da New Yorker e meu bom amigo, que foi publicado no ano passado (Farrar, Straus & Giroux). No ensaio, ele argumenta que o próprio termo “música clássica” transforma essa vibrante forma de arte em algo morto. Na verdade, como ele escreve, “grandeza” e “seriedade” não são características que definem a música clássica; também pode ser “estúpida, vulgar e maluca”.
Tudo verdade. E ainda assim o que apareceu nos cometários dos leitores e, eu espero, nos meus textos e vídeos, é que para a maioria de nós esses compositores não são ídolos monumentais, mas presenças vivas, atraentes. Assim como nós organizamos as nossas vidas mantendo aqueles que amamos numa rede de apoio, fazemos algo similar com os compositores em quem confiamos.
Eu fiquei tocado com o número de leitores que mal podiam esperar para compartilhar a sua lista de compositores prediletos, que eles, naturalmente, também consideravam os grandes. Mesmo aqueles que dispensavam o exercício entravam na onda. “Isso é um absurdo. Mas essa é a minha lista. E não ouse deixar Mahler de fora.” Ou Berg. Ou Ligeti. Ou, para um entusiasta de música barroca, Albinoni!
Como um defensor de longa data da música contemporânea, eu fiquei satisfeito de receber tantas objeções à minha decisão de eliminar compositores vivos da lista. Ainda assim, para mim não havia outra saída. Nós estamos muito próximos dos compositores vivos para ter uma perspectiva. Além disso, avaliar grandeza é a última coisa na sua cabeça quando você está ouvindo uma peça nova, envolvente, excitante ou confusa.
Então, tocado pelos perspicazes amantes de música que escreveram, eu agora ofereço a minha lista. E lembrem-se: mjeus editores deram o aval para esse projeto desde que eu fosse até o fim e pusesse a minha lista de 10 maiores na ordem.
O topo da minha lista vai para Bach, por sua incomparável combinação de magistral engenharia musical (como um leitor definiu) e profunda expressividade. desde que eu escrevi sobre Bach no primeiro artigo dessa série eu tenho pensado mais sobre a percepção de que ele era considerado antiquado em sua época. Haydn tinha 18 anos quando Bach morreu, em 1750, e o Classicismo estava ativo. Bach certamente sabia das novas tendências. E mesmo assim ele mergulhou mais a fundo na sua maneira de fazer as coiaas. Na sua austeramente bela “Arte da Fuga”, deixada incompleta com a sua morte, Bach reduziu a complexidade do contraponto a sua essência, nem mesmo indicando o instrumento (ou instrumentos) para os quais aquele trabalho foi escrito.
A seu modo ele podia ser bastante moderno. Embora Bach nunca tenha escrito uma ópera, ele mostrou um gosto visceral pelo drama em suas obras sacras corais, como nas cenas de multidão das Paixões, onde as pessoas gritam com veemência para que Cristo seja crucificado. Em obras para teclado, como na Fantasia Cromática e Fuga, Bach antecipou o fervor romântico de Liszt, até de Rachmaninoff. E como eu tentei mostrar no primeiro vídeo deste projeto, com os seus corais Bach explorou os limites da harmonia tonal.
Os candidatos óbvios para o segundo e o terceiro lugares são Mozart e Beethoven. Se você fosse comparar apenas a obra orquestral e instrumental de Mozart com a de Beethoven a disputa seria apertada. Mas Mozart tinha uma segunda carreira inteira como compositor inovador de ópera. Essa incrível variedade deveria dar a ele uma vantagem.
Mesmo assim, eu vou de Beethoven no segundo lugar. A técnica de Beethoven não era tão dócil quanto a de Mozart. Ele lutava para compor e algumas vezes você consegue ouvir essa luta na música. Mas não importa quanto foram difíceis de escrever, as obras de Beethoven são tão audaciosas e indestrutíveis que sobrevivem mesmo a execuções ruins.
Eu tive uma epifania sobre Beethoven no início dos anos 1980, quando eu ouvi o compositor Leon Kirchner conduzir a Harvard Chamber Orchestra. Ele começou com uma peça para trompete, uma peça neoclássica nova, inventiva dos anos 1950. Depois veio “La Mer”, de Debussy, e Kirchner, que havia estudado com Schoenberg e era de uma escola alemã, impôs um peso e uma intensidade wagnerianas a essa partitura fundamental, de 1905. O Debussy saiu mais moderno do que a obra para trompete.
Depois do intervalo, Peter Sirkin se juntou a Kirchner para tocar o Quarto Concerto para Piano de Beethoven, que trouxe o misticismo, a poesia e a brutalidade da música. O Beethoven soousoou como a parte mais radical do programa de longe: impenetrável e fascinante. Eu ponho Beethoven no segundo lugar e Mozart no terceiro.
Quarto? Schubert. Você tem que amar o cara, que morreu com 31 anos, doente, empobrecido e esquecido exceto por um círculo de amigos que tinha noção de seu gênio. Pelas suas centenas de canções apenas – incluindo o assombroso ciclo Winterreise, que nunca soltará suas garras de cantores e de plateias – Schubert tem um papel central na vida dos concertos. O barítono Sanford Sylvan uma vez me disse que ouvir o grande pianista Stephen Drury tocar três das ultimas sonatas de Schubert em um único programa foi uma das esperiências musicais mais transcendentais de sua vida. As primeiras poucas sinfonias de Schubert podem ser obras imperfeitas. Mas a “Inacabada” e principalmente a Nona são surpreendentes. A Nona prepara o caminho para Bruckner e antecipa Mahler.
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