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Pequeno tratado das grandes virtudes

Reprodução/Internet
André Comte-Sponville.

André Comte-Sponville ficou famoso por esse livro. Lançou mais de uma dezena de outros títulos desde então, e alguns bem interessantes. Mas todo mundo quer saber é do “Pequeno tratado das grandes virtudes”.

Deve haver algum motivo, certo? E o motivo é que o livro é, realmente, muito bom.
Começando: Sponville é um filósofo francês contemporâneo. É um materialista e um ateu.

Mais importante: é francês, e escreve como um francês o tempo todo, querendo fazer filosofia com cara de literatura (ele mesmo diz em outro canto que os filósofos alemães gostam de construir sistemas, enquanto os franceses gostam é de conversar).

Seu tratado talvez não traga nada de novo. É uma enumeração de virtudes e sua explicação. Por que, afinal, faz sentido que se honrem certos tipos de hábitos, de comportamentos, como a coragem, a justiça, a moderação? Faz sentido? E por que cada uma delas faz de você um sujeito melhor? E, claro, em que consiste cada uma.

Sponville constrói seu livro como se fosse um arco. Escrevi dois textos aqui já sobre os extremos. De um lado, o que ele ainda não considera uma virtude: a polidez. Fingir ser educado, ou realmente agir de modo educado, para não ofender, para ser agradável. De outro, acima das virtudes, o amor. Que justifica todo o resto.

No meio, ele enumera 16 outras virtudes. Alguma são clássicas, como o exemplo da coragem. Em outros casos, ele inclui virtudes que dificilmente costumam entrar na lista “mais enxuta”, digamos assim, de comportamentos que devemos ter. É o caso do humor.

Em todos os capítulos, Sponville se vale dos clássicos para falar sobre o que são as virtudes. Não escapa de Kant, claro, o grande moralista. Fala em Spinoza e em tantos outros. Mas parece preferir citar os franceses, como Montaigne, seu grande herói, e Alain. E, sempre, pensa em Epicuro.

O livro não é feito para ser revolucionário. No máximo, quer retomarn um conceito de que ser bom (sim, isso mesmo!) é ter certos hábitos que podemos adquirir com treino e esforço. E quer nos avisar que durante muito tempo houve gente já pensando sobre como deveria ser esse nosso comportamento.

Enfrenta as questões mais cabeludas. Como, por exemplo, a clássica cilada sobre se podemos mentir a um assassino que chega a nossa porta perguntando por alguém que sabemos onde está. Mas, principalmente, fala sobre o cotidiano e sobre como podemos ser melhores se formos justos, sinceros e fortes.

Às vezes, o excesso de estilo (o francesismo!) do texto chega a incomodar. Mas é pouca coisa. Vale o esforço.

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