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Foto da Sarah Pflug - Burst
Foto da Sarah Pflug – (oferecida por Burst)| Foto: Foto da Sarah Pflug - (oferecida por Burst)

A discussão sobre o que causa autismo é bastante acalorada. Mas, por que pesquisar ou saber sobre a causa do autismo? A questão é que, conhecendo a causa, podemos atuar não apenas na sintomática, mas no cerne da questão. Por exemplo, se entendermos os “componentes” genéticos envolvidos, os pesquisadores poderão transportar isso para os estudos dos efeitos fisiológicos das mudanças genéticas e, assim, buscar remédios que contraponham esses efeitos fisiológicos. É a velha máxima de que é mais eficaz agir na causa.

Já houve muitas teorias sobre qual seria a causa do autismo. Uma das primeiras (se não a primeira) era do pesquisador Kanner, que culpou as mães pela causa do transtorno, com a teoria que se popularizou como “mãe geladeira”. Segundo Kanner, o fato gerador era a mãe se manter emocionalmente distante de seu filho após seu nascimento, causando o desenvolvimento do transtorno. Essa tese foi completamente superada, inclusive o próprio Kanner meio que voltou atrás em uma publicação sua intitulada “Em Defesa das Mães”.

Surgiram também teorias de que vacinas seriam responsáveis pelo surgimento do autismo. Porém, essa teoria, embora ainda defendida por alguns médicos, foi considerada superada pelo meio acadêmico. Inclusive, em muitos locais, passou a surgir uma grande preocupação de que as mães e pais deixassem de vacinar seus filhos em virtude dessa teoria, expondo as crianças à sérios riscos, o que levou a uma manifestação da Organização Mundial de Saúde sobre o tema.

Sobre essa segunda teoria, vale mencionar a história do médico Dr. Wakefield, o qual publicou pesquisa de que a vacina tríplice viral causaria autismo – pesquisa essa que talvez seja a mais conhecida, ou pelo menos a mais comentada, sobre a relação “autismo versus vacina”. A pesquisa de Wakefield o levou a perder sua licença para exercer medicina. Pesado, não é?

Surgiram ainda teorias de que o autismo seria causado por fatores ambientais, como defensores agrícolas. Pesquisas surgiram sobre a influência do DDT e do glifosato. A tese seria de que o uso exagerado de produtos químicos em nossa alimentação poderia gerar autismo. Como fatores ambientais, também podemos considerar os remédios tomados pela mãe durante a gravidez. Uma das pesquisas mais difundidas nesse sentido é da Dr.ª Stephanie Seneff, a qual inclusive ressaltou que “no ritmo atual, em 2025, uma em cada duas crianças será autista” (graças ao uso do glifosato no plantio de alimentos).

No estudo “O que causa o autismo? Explorando a contribuição ambiental” (LANDRIGAN, Philip J. O que causa o autismo? Explorando a contribuição ambiental. Curr Opin Pediatri, 2010), foram listados agentes causadores do autismo. A ideia é que o contato da mãe com esses agentes causadores durante a gravidez poderia levar ao desenvolvimento do transtorno. Ainda hoje existem pesquisas em andamento referentes à influência de fatores ambientais como desenvolvedores de autismo e, nesse aspecto, buscam-se as respostas para algumas perguntas: (1) fator ambiental, isoladamente, pode causar autismo?, (2) fator ambiental causará autismo apenas quando já há componente genético?, (3) qual a real interferência dos fatores ambientais no desenvolvimento do autismo?

Outra tese seria sobre alergias alimentares como a causa ou como gatilho desenvolvedor do autismo. Um dos expoentes na área é aqui do Brasil e se chama Aderbal Sabrá. Ele é Coordenador do curso de Medicina da Unigranrio, possui pós-doutorado em Gastroenterologia pediátrica em Denver/Colorado e na Wayne State University/Michigan, pós-doutorado em Imunologia na Georgetown University/Washington. Ele pesquisa o tema há quase vinte anos, tanto pela Unigranrio quanto pela Georgetown University, em associação com o renomado imunologista norte-americano Joseph Bellantti.

Ele foi o primeiro cientista a afirmar que alergia alimentar interfere nos neurônios, podendo causar convulsão, hiperatividade, transtorno de déficit de atenção na sua evolução patogênica e que pode chegar a produzir, consequentemente, autismo. “Nunca antes na história desse país” foi dito algo assim. Para esse médico, a prevenção da alergia alimentar será um grande passo no tratamento do espectro autista.

Há médicos que não consideram essa teoria. Mas, um artigo científico do Dr. Aderbal Sabrá foi reconhecido pela Academia Brasileira de Medicina (ABM) em 2015. Ou seja, sua pesquisa foi referendada, o que nos permite dizer, de fato, que há estudos científicos comprovados em suas afirmações. Para esse médico, todo autista é alérgico alimentar antes de ser autista.

A teoria considerada atualmente mais aceita é a teoria genética. Referente a pesquisas da área de genética sobre autismo, há uma interessante publicação na revista Nature (https://www.nature.com/) de um estudo que aponta mais de um cento de genes que estariam coligados ao desenvolvimento do transtorno. Segundo a pesquisa, são as mutações herdadas somadas a mutações ocorridas no óvulo ou espermatozoide que seriam o principal fator de risco para desenvolvimento de autismo em famílias sem histórico familiar do surgimento do transtorno. Ou seja, seriam duas mutações: uma que se herdou e outra que ocorreu no óvulo ou no espermatozoide.

Porém, mesmo se considerarmos a mais aceita teoria, qual seja a do fator genético, ainda há questionamentos referentes a se fatores ambientais e de alergia alimentar teriam influência (e qual seria essa influência) na causa do autismo. Veja-se que, quando falamos em teoria genética existem várias opções: (1) a causa é apenas genética; ou  (2) é a soma de um fator genético com fatores ambientais; ou (3) é a soma de fatores genéticos com alergia alimentar; ou (4) é a soma entre fatores genéticos, alergia alimentar e fatores ambientais; ou (5) é a soma de fatores genéticos com alergia alimentar ou fatores genéticos com fatores ambientais.

Conhecer a causa influência na possibilidade de desenvolver novos tratamentos e direcionamento dos tratamentos em curso. Enquanto não há um consenso, o tratamento é direcionado para a sintomática, o que é necessário, mas evidentemente menos efetivo que o tratamento direcionado à causa. Nesse caminho, é muito importante que lutemos por políticas públicas de apoio não só ao tratamento, mas também a pesquisas científicas sobre o autismo.

Quer sugerir um tema ou contar sua história? Quer partilhar como é ser autista ou sua vivência como pai/mãe de uma criança/adolescente com autismo? Vou adorar ouvir você! (contato@baptistaenascimento.com.br)

Hanna Baptista – redatora do Diário de Autista, advogada, e mãe de uma linda criança autista.

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