

Aos trinta (ou quase), a sombra da idade começa a crescer e assustar o homem.
Acabo de começar uma temida contagem regressiva: um ano para os meus trinta. Que frio na barriga – e que barriga enorme! Que arrepio no couro cabeludo – e que couro mais descabelado! E ainda dizem que, a partir dos trinta, perder peso fica mais difícil e perder cabelo fica mais fácil. Triste é a sina do homem de trinta.
Para o homem, os trinta anos são muito mais cruéis do que para a mulher – fazendo certa justiça pelas décadas anteriores, de muita cobrança em cima da guria e de muita moleza para o piá. Aos trinta, ela deixa de ser menina, moça, e passa a ser mulher, mais segura, mais bonita, mais interessante: “um enigma vivo”, como resume Balzac, em seu clássico A mulher de trinta anos. Já o homem, aos trinta, está numa espécie de limbo (que voltará a visitar outras vezes): não é suficientemente jovem para ser legitimamente infantil, nem maduro o suficiente para passar por adulto.
Se o homem de trinta veste roupas coloridas e joviais, é tachado de “tiozinho” (se continuar com isso, aos cinquenta é promovido a “tiozão”). Eu mesmo já passei por uma situação dessas. Tempos atrás, saí para caminhar de bermuda, camiseta de basquete e boné. Normal. Até que a implacável gangue de moleques do prédio me viu. Foi eu passar e um deles falou: “Dá um look no ‘tiozêra’, no style, com uma ‘berma’, uma ‘peita lôca’ e uma ‘bonezêra’ irada*”. Quis responder, mas não sei xingar nessa língua deles. Já se o homem de trinta veste roupas sóbrias e sérias, é visto como um moleque presunçoso, que nem saiu das fraldas e já pensa que pode usar calças compridas.
E por aí vai. Se o homem de trinta fala gírias, é ridículo – vê se cresce! Se ele fala corretamente, é metido e pensa que sabe tudo – tá se achando! Se o homem de trinta ainda não casou, tem algo de estranho com ele… Se já casou, fez besteira, deveria ter curtido mais a vida. Se o homem de trinta ainda não se encontrou profissionalmente, é um perdedor; se é bem-sucedido, deve ter algum padrinho ou é um tremendo puxa-saco – e logo vai cair do pedestal (ou da cueca).
Se o homem de trinta sai com uma mulher de vinte, é muito velho para ela (papa-anjo); se sai com uma mulher de quarenta, é muito novo (não vai saber o que fazer); se sai com uma mulher de trinta… tem sorte e vai precisar se esforçar para ter a vitalidade de um de vinte e a maturidade de um de quarenta – em regra, as de trinta estão interessadas nos homens de vinte, mais lépidos, ou nos de quarenta, mais intrépidos. Como escreveu Balzac, a mulher de trinta “possui então o tato necessário para fazer vibrar num homem todas as cordas sensíveis, e para estudar os sons que obtém”. Já o homem, aos trinta, se já percebeu que há mais sons na sinfonia dos relacionamentos do que os do seu chocalho, geralmente ainda não sabe ler a partitura – muito menos executá-la.
Exagero? Pode ser. Isso é típico de homem na crise dos trinta – ou quase. Fato é que, já tendo cumprido cerca de um terço desta minha vida (otimista, espero que a conta mais-sorte-do-que-juízo continue fechando a meu favor), percebo que ainda há muito a fazer. Já plantei algumas árvores. Faltam-me os filhos e os livros. Pensando bem, não é nada que eu não possa resolver nas próximas três décadas – ou quase. Que venham os trinta!
* TECLA SAP (Simplificador de Arenga de Pirralho): “Olha aí o tio, no estilo, com uma bermuda, uma camiseta legal e um boné bonito”.
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Agudas
– Tem um site que elenca mais de mil coisas pra fazer antes dos trinta. Já fiz algumas delas. Outras, como “nadar no Tietê”, prefiro não fazer, sob pena de morrer antes dos quarenta.
– “Quem não tem o espírito de sua idade, de sua idade tem todo o infortúnio”. (Voltaire)
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