Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Diogo Schelp

Diogo Schelp

Internacional

Trump anuncia tarifas que afetam o Brasil: com Bolsonaro seria diferente?

Jair Bolsonaro e Donald Trump. (Foto: Alan Santos/PR)

Ouça este conteúdo

O presidente americano Donald Trump prometeu implementar tarifas de 25% sobre a importação de aço e alumínio de todo e qualquer país. A taxação obviamente vai afetar o Brasil, o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos, mas ainda não pode ser entendido como o grande tarifaço contra nossos produtos que Trump vem prometendo. O motivo é o seguinte: não se trata de uma medida inédita.

Trump, em seu primeiro mandato, já havia imposto barreiras tarifárias contra esses produtos siderúrgicos, prejudicando bastante as exportações brasileiras. Na época, o presidente do Brasil era Jair Bolsonaro, e seus diplomatas precisaram negociar exceções e cotas. Isso demonstra que as decisões de Trump no campo do comércio exterior não são ideológicas. Nem o alinhamento político de Bolsonaro com Trump salvou o Brasil totalmente das tarifas sobre o aço.

Se escutarem por aí alguém dizendo que se Bolsonaro estivesse no poder seria diferente, não acreditem. Trump estaria fazendo exatamente a mesma coisa que está fazendo agora

Eis um exemplo específico de como se davam essas negociações durante os governos Trump e Bolsonaro: em 2020, Robert Lighthizer, representante comercial do governo americano, ligou para o então chanceler Ernesto Araújo e pressionou o Brasil a restringir voluntariamente a exportação de aço para os Estados Unidos. O argumento dele era de que a pandemia havia derrubado a demanda pelo produto nos Estados Unidos e, com isso, as siderúrgicas americanas estavam passando por dificuldades. Como ele não foi prontamente atendido, duas semanas depois o governo Trump ameaçou impor novamente uma taxa de 25%, a mesma que ele está anunciando agora. Não restou outra alternativa ao governo Bolsonaro senão ceder e aceitar uma redução de mais de 80% da cota de aço exportada para os Estados Unidos.

Ou seja, se escutarem por aí alguém dizendo que se Bolsonaro estivesse no poder seria diferente, não acreditem. Trump estaria fazendo exatamente a mesma coisa que está fazendo agora. E, ainda assim, tem gente torcendo pelo protecionismo de Trump, na esperança de que isso possa enfraquecer o governo Lula, às custas da economia, da balança comercial e dos empregos brasileiros.

VEJA TAMBÉM:

Qual deve ser a postura do governo brasileiro diante do anúncio de Trump? A não ser que Lula, em algum dos seus discursos de improviso, resolva pisar nos calos do americano, a postura da diplomacia deve ser cautela. Principalmente porque o anúncio é unilateral, ou seja, não é uma tarifa direcionada apenas ao Brasil. Vale para as importações desses produtos vindas de qualquer país, inclusive do Canadá e do México, que são respectivamente o maior e o terceiro maior exportadores de aço para os Estados Unidos.

Também não é uma medida surpreendente. O setor siderúrgico já esperava por isso, justamente porque Trump havia mirado nesses produtos em seu primeiro mandato. Mas é claro que a medida preocupa tanto o governo brasileiro quanto as siderúrgicas. Os itens semiacabados de aço estão em segundo lugar na lista de produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos, atrás de petróleo. É uma medida que tem potencial para impactar na nossa balança comercial.

VEJA TAMBÉM:

Tudo indica, porém, que Trump não vai parar por aí, e essa é a maior preocupação. Ele disse mais uma vez que vai impor tarifas recíprocas a quem “tira vantagem” dos Estados Unidos. Ou seja, Trump quer equiparar os níveis das tarifas. Se um país cobra X de imposto de importação sobre produtos americanos, ele quer estabelecer o mesmo patamar para os produtos vindos desse país. E, por essa lógica, o Brasil é um alvo óbvio, porque a nossa tarifa média de importação sobre produtos americanos é de 11,2%. Já os Estados Unidos cobram em média apenas 1,5% das importações vindas do Brasil. Ou seja, existe uma margem grande para Trump explorar em busca da "reciprocidade" com o Brasil. Mesmo os Estados Unidos tendo superávit comercial com o Brasil, ou seja, exportando muito mais para nós do que vice-versa.

Uma coisa é certa: a guerra tarifária iniciada por Trump vai bagunçar o comércio mundial e vai ter impacto sobre o crescimento econômico do mundo. Segundo uma das estimativas, se houver uma tarifa média global de 25% sobre todas as importações entre todos os países, o PIB global vai perder 2 pontos percentuais. É muita coisa.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.