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Não é de hoje que a questão ambiental se tornou uma pauta central no mundo todo. De uma preocupação distante, ela evoluiu para uma urgência que se manifesta em eventos climáticos extremos, na perda de biodiversidade e na poluição que afeta comunidades em todos os continentes. Diante desse cenário, a educação se mostra como um caminho relevante para construir um futuro sustentável. Mas, como a escola pode, de fato, ir além do óbvio e preparar os estudantes para a complexidade da crise climática?
A 30ª Conferência das Partes (COP 30), que acontecerá em Belém, no Pará, em novembro de 2025, nos oferece uma oportunidade única para aprofundar essa discussão. Ao sediar o evento na Amazônia brasileira, a conferência ganha um simbolismo e uma urgência ainda maiores. Como educadores, temos a chance de transformar a sala de aula em um espaço de reflexão, capacitando os estudantes a compreender a magnitude do desafio ambiental e a se tornarem agentes de transformação.
A Urgência da Questão Ambiental e a Formação Crítica
A crise ambiental está diretamente ligada a um modelo de desenvolvimento baseado na exploração intensiva de recursos naturais e no consumo desenfreado. Para que os estudantes compreendam essa conexão, precisamos ir além de conceitos isolados e adotar um olhar mais sistêmico, a escola tem o papel fundamental de fomentar o pensamento crítico. A educação ambiental na escola não pode a conceitos e práticas sobre reciclagem ou a importância das árvores, por mais essenciais que esses temas sejam. É preciso discutir as dinâmicas ambientais e os desafios que enfrentamos para construir uma consciência crítica.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) oferece uma orientação para isso. Ela nos permite abordar o meio ambiente de forma integrada e transversal, como podemos observar nas competências esperadas para a Educação Básica, incentivando os estudantes a:
- Compreender o mundo: utilizando conhecimentos científicos, históricos e socioculturais.
- Pensar criticamente: sobre os desafios e propor soluções inovadoras.
- Agir com empatia: reconhecendo a interdependência entre os seres humanos e o meio ambiente.
- Assumir a responsabilidade: para transformar a realidade e construir um futuro mais justo.
COP 30 na Amazônia: Um Olhar Geopolítico e Cultural
A COP 30 em Belém destaca a importância da Amazônia e das florestas tropicais para o equilíbrio climático global. O Brasil, como país anfitrião, terá um papel estratégico de mediar diálogos e apresentar soluções nacionais em áreas como energia renovável e combate ao desmatamento. Isso nos permite explorar a geopolítica do clima em sala de aula, discutindo como os interesses econômicos e políticos se contrapõem às metas ambientais de longo prazo.
No entanto, a escolha de Belém para sediar o evento também exige um olhar crítico. A cidade, que será palco de um debate global sobre a crise climática, enfrenta graves problemas locais, como a drenagem urbana ineficiente e a gestão de resíduos sólidos, que resultam em alagamentos e poluição, índices de saneamento básico bem abaixo do necessário, conforme podemos acompanhar no Índice de Progresso Social (IPS). A infraestrutura da cidade, marcada por desafios históricos, não está preparada para atender plenamente a todos os moradores, e essa realidade precisa ser abordada e questionada: O Brasil fez a lição de casa em relação ao real sentido da sustentabilidade?
Outro ponto de análise é, por exemplo, o princípio das "responsabilidades comuns, mas diferenciadas", que discute o papel dos países desenvolvidos — historicamente os maiores emissores de gases de efeito estufa — no financiamento da transição para uma economia de baixo carbono em nações em desenvolvimento. Essa abordagem ajuda os estudantes a entenderem que a solução para a crise climática é multifacetada e envolve muito mais do que apenas a tecnologia.
Além disso, a escolha do Curupira, o guardião das florestas do folclore brasileiro, como mascote da COP 30, nos oferece uma rica oportunidade de conectar a cultura local com um evento de escala global. A figura do Curupira, com sua lenda que protege a natureza de caçadores e desmatadores, humaniza um tema que pode parecer abstrato para as crianças menores. Mas, aqui também cabe um questionamento importante, o Brasil tem sido guardião de suas florestas? Como está o desmatamento na Amazônia, por exemplo?
Enfim, é na sala de aula que semeamos a curiosidade, o respeito pela vida e a esperança de um futuro mais justo e sustentável; mas precisamos nos pautar também na criticidade, em dados atuais e na real “coragem pedagógica” em instigar pontos de vista diferenciados e espaços de diálogo pautados no respeito e responsabilidade coletiva.




