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Sou uma curiosa sobre a Inteligência Artificial (IA). Leio livros e notícias, participo de cursos e imersões, ouço podcasts e acompanho as discussões pelas redes sociais. Tudo isso faz parte da minha rotina para entender um pouco mais desse tema que já é visto como uma grande revolução da humanidade.
Por beber em diferentes fontes e observar diversos pontos de vista, posso afirmar que esse assunto sempre gera alguma polêmica. Basta mostrar uma tendência ou falar sobre futurismo e, pronto: o “pano para manga” está garantido! Normal, já que o desconhecido sempre gera estranheza, medo e um certo pé atrás, até mesmo entre os jovens, considerados nativos digitais. Dia desses uma jovem estudante ficou indignada! Você acompanhou?
Crime na sala de aula?
A estudante se revoltou contra o professor que, segundo ela, usou IA para fazer o conteúdo das aulas. Ela chegou a pedir um reembolso de 8 mil dólares referente à disciplina ministrada pelo tal professor “trapaceiro”. E, sobre isso, te pergunto: é crime o professor usar a IA? O professor deveria ter avisado que usou a IA para incrementar as aulas? Foi uma atitude ética? Para saber o desfecho dessa polêmica e tirar suas próprias conclusões, é só fazer uma busca rápida na internet e entender um pouco mais sobre o ocorrido. Mas deixo esse fato de lado por um momento, afinal, o objetivo aqui é refletir se a IA é vilã ou mocinha nessa história que estamos construindo. Talvez só o tempo diga, mas, enquanto isso, vamos elucubrar um pouco.
Pânico ou cafezinho robótico? Você escolhe
Tente imaginar: de um lado, os alarmistas gritando: “vão acabar com a escola!”, “os alunos não vão mais pensar com suas cabeças!”, “vamos ter robôs dando aulas!” e por aí vai. De outro lado, os entusiastas já querem que a IA prepare suas aulas, corrija provas, ensine inglês, responda e-mails e, claro, se não for pedir demais, querem que o robô faça o cafezinho da sala dos professores. Nada mal, né? E você, de que lado fica? Dos alarmistas, dos entusiastas, ou pega a via do meio?
Eu escolhi a via da realidade
De qual realidade? Da que mostra e comprova, com fatos, que a IA já está transformando o mundo: na medicina, no entretenimento, no consumo e também na educação. Estamos falando da realidade que faz você ter dúvida se este texto foi escrito por uma pessoa ou por um robô (fui eu mesma, mas poderia não ter sido). Da realidade em que a IA, quer a gente goste ou não, está mudando nossos hábitos e também vai mudar a forma como conhecemos a educação. Ops... será que vai mudar, ou já está mudando?
IA melhor que professor?
Ainda na lista do “quer a gente goste ou não”, devemos admitir que, sim, tem IA ensinando muito melhor do que professor papagaio de apostila. Pode ser duro reconhecer, mas a IA é muito eficiente, apesar do receio que causa. Ou você acha que os jovens não usam IA para dar “aquela forcinha” nos estudos? Ou você acha que não tem IA produzindo o conteúdo que você lê, vê e ouve por aí? Será possível evitar uma ferramenta que está no seu whatsapp, no streaming, nos GPS, nos cartões de crédito, nas redes sociais e por toda parte?
Esses dias, um canal de notícias sobre IA que assino, comentou um fato que aconteceu na Nigéria, em um contexto totalmente adverso e com condições precárias. Os estudantes que usaram chatbots tutores de IA tiveram avanços equivalentes a dois anos de estudo em seis semanas. Repito: 6 semanas! E não se engane: isso não é um elogio à máquina, é uma crítica à educação atual e à estagnação nas formas de ensinar e de aprender.
Mas isso não significa que amanhã vamos chegar à escola e encontrar robôs explicando como se resolve uma equação de 2º grau, até porque, antes mesmo da IA, já existiam centenas de aulas bem legais no YouTube dando conta desse e de vários outros conteúdos. O que está em jogo é muito mais interessante e também muito mais perigoso.
Já vimos esse filme antes
Se pararmos para pensar, ou melhor, para lembrar, já vivemos momentos similares a este com o surgimento do rádio, da TV e da internet. E não é que eles não acabaram com o mundo? Sobrevivemos a todos eles. E agora, a IA nos faz, mais uma vez, pensar sobre essa inteligência que não tem nada de artificial, pelo contrário. E é essa inteligência real que já está roubando milhares de empregos, que vai gerar dependência, que vai espalhar conteúdos falsos (seja por alucinação, por viés ou por desinformação) e que vai expor muitas das nossas fragilidades. Que bom! Porque sempre tem que ter um vilão, uma tecnologia apocalíptica para a gente poder colocar a culpa, né?
Risco à vista: geração sem repertório
Mas não, o problema não é a IA. É o consumo e o uso errado da IA. É verdade que corremos o risco de formar uma legião de pessoas que sabem consultar (se é que vão saber), mas que não sabem questionar, nem dialogar com a máquina. Que até terão respostas pra tudo, mas sem repertório para avaliar se a resposta é ou não verdadeira, ou se a IA “alucinou”. Aí sim, minha gente, será um desastre. E não por culpa da tecnologia, mas por falta de pensamento crítico, que é justamente o que cabe à educação fomentar. Seja nas escolas e universidades, no almoço de família, no trabalho ou na rodinha de amigos, temos que falar mais sobre isso.
E a desigualdade de acesso, como fica?
E de pouco adianta espernear porque só os ricos vão ter acesso à IA, que a desigualdade vai aumentar e blá, blá, blá. Isso pode e deve ser uma motivação para que lutemos pelo acesso para todos, mas pensar dessa forma é o mesmo que achar que precisamos retirar os livros de circulação porque muitas pessoas e escolas ainda não têm acesso à biblioteca em pleno século XXI.
IA pode indicar caminhos. Mas quem decide o rumo, somos nós
A verdade é que a IA é como qualquer outra tecnologia: nas mãos certas, faz milagres. Em mãos erradas, pode gerar o caos. Como uma bússola, a IA vai orientar muitos caminhos daqui para frente. E a escolha será nossa. Mas te digo: ignorar ou temer a IA não vai fazê-la sumir. A recusa só vai nos deixar menos aptos a lidar com ela. E, no fim das contas, a IA não será uma grande ameaça para a educação, mas a falta de preparo e criticidade, sim.
Final com spoiler: a IA mandou bem até no título
Pra encerrar, quero te contar um segredinho: eu perguntei para a IA que título ela daria para este texto. E ela foi bem melhor que eu. Sugeriu títulos provocativos que, certamente, chamariam mais a atenção do leitor. De teimosa que sou, escolhi o atual, da minha cabeça mesmo. Mas, ao escrever, fiquei pensando que a pergunta não deveria ser se devemos usar IA na educação, mas sim como vamos usá-la com inteligência. Porque, aqui entre nós, num país onde a alfabetização e os conhecimentos básicos ainda são grandes desafios, uma ajudinha inteligente não parece má ideia.
E, antes que eu me esqueça, porque alguns podem achar que a pergunta do título não foi respondida: Fique atento! Por que a IA está tirando nota 10!




