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Educação e Mídia

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A distância entre a vida real e as roteirizações rentáveis

O Silêncio nas Redes Sociais: Você já postou hoje?

Pile of 3D Popular Social Media Logos (Foto: )

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Começo te perguntando, você já postou algo sobre você nas redes sociais hoje? Caso a resposta seja não, vamos voltar um pouco mais, e nos últimos dias, semanas, meses, você tem tido alguma rotina de publicação pessoal? Pois é, há uma tendência evidente, passamos mais tempo online, mas estamos publicando menos sobre nossas vidas. Dados de 2023 e 2024 de relatórios de mercado mostram que, embora o consumo de vídeos e notícias permaneça alto, a criação de posts pessoais tem diminuído. Isso levanta a uma questão interessante: Se estamos todos conectados, por que o silêncio?

Recentemente, o escritor e jornalista Kyle Chayka (autor do livro Filterworld: How Algorithms Flattened Culture - "Mundo filtrado: como os algoritmos nivelaram a cultura”) publicou na revista The New Yorker que a sociedade pode estar se caminhando para o que ele chama de "postagens zero" — uma condição/momento em que as pessoas comuns identificam que não vale a pena compartilhar suas vidas online.

Uma das explicações seria a evidente lacuna entre a vida que é vivida e a que é postada, há um movimento mais expressivo nos últimos tempos de "estar lá", valorizar mais a experiência de viver o momento plenamente, sem a pressão de documentá-lo nas redes. A vida real é, por natureza, desorganizada, imperfeita, incerta e nada linear, mas nas redes, há uma certa “exigência” de criar uma foto perfeita ou um texto inspirador, ou seja, o que de fato acontece na vida não se encaixa com espontaneidade nas molduras das redes sociais; é como se tirar a "foto perfeita" nos desconectasse da essência daquele momento.

Por outro lado, o ciclo vicioso dos algoritmos que não buscam conectar amigos nas redes, mas sim alimentar um sistema mobilizado a transformar as vidas dos usuários em conteúdos rentáveis, exige que para ser visto você precisa produzir conteúdos que se alinhem com o que os algoritmos querem, levando a padronização, comparações e limitações significativas de análise sobre a realidade. Observa-se a claramente que este contexto leva ao fim da espontaneidade, pois os posts de viagens têm fotos específicas (locais, poses, beijos, brindes); posts de comidas seguem uma estética comum (locais, pratos, combinações, requintes ou simbologias populares) e até mesmo momentos vulneráveis são tratados para gerar engajamento (lutos, perdas, despedidas). O resultado é que as nossas vidas parecem menos únicas e mais como variações de um mesmo tema, ditado pelo algoritmo que recompensa quem se mantém neste ciclo assustador.

Se estamos publicando menos, expondo menos nossas vidas pessoais, podemos vislumbrar uma luz interessante de resistência, pois ao optar em não postar, estamos, de certa forma, reivindicando a nossa vida real. A queda na publicação pessoal não significa que estamos menos conectados, mas sim que estamos buscando formas mais autênticas e menos padronizadas de nos relacionarmos, seja offline ou em grupos digitais menores e mais íntimos.

E você, o que pensa a respeito? O que você busca quando abre uma rede social hoje: conexão real ou entretenimento padronizado?

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