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Marcia Beatriz Cavalcante

Propriocepção

5 aprendizados do esporte competitivo que podemos aplicar em investimento anjo

17/09/2021 18:00
Eu passei estes meses refletindo, na atual jornada de transição profissional, sobre como poderia ajudar investidores a construir um futuro melhor nas escolhas de suas startups, sem causar prejuízo à nossa sociedade. Encontrei inspiração no meu esporte predileto, o esqui aquático, que me ensinou muito mais na resiliência da preparação do que a competição em si.
Pensem comigo: você está em uma competição e não tem chance para pensar (no esqui modalidade slalom você atravessa uma pista de 6 bóias em quase 55 km/h), e mesmo assim deve agir no instinto. Mas este instinto não vem de forma gratuita, você tem que realizar repetições, o que cria uma memória muscular de forma que seu corpo responda ao estímulo de forma quase automática. Com isso, você treina a autopercepção da posição estática e dinâmica do corpo, prevenindo lesões.
Como investidores, temos que realizar a nossa propriocepção nas decisões e manter o equilíbrio na arquitetura de escolhas. Estamos vivendo no mundo da inovação aberta, das relações e conexões expostas, com a verdade e transparência nos expondo no limite. E são elas que ganharão a competição sobre crescimento a qualquer custo. Os investidores ampliarão cada vez mais as redes para a coletividade, o co-investimento responsável em startups mais humanas, diversas, sustentáveis e que sejam quase uma “Open Source” que possam se plugar com vários players nas relações sociais e de mercado.
E o que esqui aquático tem a ver com investimento em risco? Estar no automático como investidores, para entender que não é apenas sobre gerar valor econômico, é prevenir lesões, evitar justamente o modo automático de escolha de investimento baseado apenas no lucro e escala. E quais os aprendizados para o investidor sair do óbvio dos critérios comuns de seleção de seus investimentos?

1. Não avalie o produto e sim como ele ajuda a resolver o problema das pessoas

A palavra empatia e design estão em alta, certo? E assim como a inovação foi a suposta buzzword da entrada do século (e sim, provou-se mais do que nunca não só essencial mas forma de sobrevivência), o design está se provando ainda mais forte por permitir gerar as conexões e os produtos centrados na experiência e no auxílio aos problemas de pessoas como eu, como você, como todos nós. Quando a startup iniciar o design do modelo de negócio e do produto, tente se colocar no lugar do cliente, do usuário, e crie empatia.
Vejam o exemplo da Teravoz, uma startup brasileira que recentemente foi comprada no Vale do Silício, e conseguiu levar a complexidade dos sistemas PABX para a nuvem, algo que apenas grandes empresas conseguiam comprar, e se transformou em um dos melhores sistemas de telefonia com gerenciamento via web, adaptável para as pequenas e médias empresas. Empatia na veia.

2.  Não desmereça os aspectos regulatórios

O que mais se fala agora? A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e com razão. Recentemente, ao avaliarmos algumas startups do setor de saúde, observamos o quão o aspecto regulatório é ignorado. Já pararam para pensar de quem são os dados médicos, as pegadas dos seus exames e protocolos clínicos, os rastros deixados por aí? E há uma linha tênue entre o produto outrora tradicional e os serviços que estão revolucionando os mercados pelo uso intensivo de software e conexões. Ao investir, temos que nos ater a uma maior atenção ao ambiente regulatório, infringência de aspectos de governo, tecnológico, de normas técnicas e sociais. Ou esteja preparado para seguir a regra local ou calcule os esforços para entrar na briga da mudança. É muito difícil conseguir atalhos para conseguir modificar uma lei em curso.
Vejam o caso do Uber como pano de fundo, onde a proposta de regulação foi desenvolvida em conjunto com as Prefeituras. É um processo natural quando o novo cenário se consolida em detrimento do anterior, e que fragiliza os entes públicos na regulação de cenários imperiosos de inovação. Assimetrias jurídicas se intensificarão.

3. Valorize a diversidade na essência

Não é sobre movimento de causas. É sobre diversidade de opiniões, visões, experiências, interpretações de mundo e vivências em classes econômicas diversas. E não é apenas atrair “mulheres”, “pardos”, “binários” e o que quer que rotulemos. É garantir a diversidade algorítmica, ou seja, diferente do mecanismos de busca previsível, precisamos encontrar pessoas baseados na busca de cluster múltiplos, procurando o conjunto em prol do individual. É enxergar que, para sermos intensos em resolver problemas, precisamos enxergar o poder das soluções advindos da diversidade. Os investidores precisam enxergar se, na cultura da startup, há indícios de uma certa personalização no apoio a cada colaborador, com a neutralidade padronizada do salário nos níveis comuns e um olhar daltônico quanto a cores e gênero. Investidores e empreendedores devem tornar se meta-heurísticos na retenção das pessoas.

4. Reconheçam startups com o mindset do “não óbvio”

O grande problema é que as pessoas rejeitam o que elas não compreendem. A startup precisa estar preparada para o futuro: investindo em educação, ter fontes de otimismo, ajudar colaboradores e observar a visão de longo prazo de forma coletiva com as suas conexões. Pessoas que entendem as pessoas sempre vencem. Acompanhar as tendências é meramente observação de pessoas e de comportamentos. Valorizar as empresas que são humanas é tão importante quanto um modelo de negócio de base tecnológica.
Observem que até como investidores, em nossas diversas facetas, desde escolher um portfólio de investimento, investir em risco ou escolher um plano de previdência, a nossa arquitetura de escolhas está mudando profundamente. Vejam a forma como estamos “comprando recursos e moedas”, a exemplo do mundo das criptomoedas que está nos mostrando que elas se tornaram um projeto de inovação, uma causa, uma observação de processamento e mineração, tudo agora, em tempo real. Os robôs já não podem ser descartados, eles existem para a sobrevivência das boas escolhas, nossos neurônios não processam a diversidade, quantidade e qualidade de informação. Investidores e startups enxergando juntos o “não-óbvio” é mais forte do que as partes isoladas e desconectadas.

5. Identifiquem a credibilidade

Estamos em uma crise de falta de credibilidade. Reconhecê-la é fazer pesquisas, investigar e checar a veracidade. Estar atento com melhores perguntas é entender como navegamos no meio deste barulho das fake news, que podem nos super conectar ou isolar da tecnologia. Como humanos, é nosso dever continuar a buscar a curiosidade, ser pensador crítico e prestar atenção nos detalhes. É muito comum que as empresas que se colocam na vitrine para seus investidores, mostrarem mais embalagem do que conteúdo. Busquem mais o conteúdo, a empatia e a verdade depois construirão melhores invólucros.

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