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Autora do livro "Carvajal, Lula e o sequestro da América Latina: as denúncias sobre o financiamento da esquerda internacional", a jornalista Elisa Robson falou com exclusividade à Gazeta do Povo sobre suas conversas com Hugo Carvajal, que foi braço direito do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, e diretor de Inteligência Militar durante a ditadura de Hugo Chávez. Elisa tem sido uma das vozes mais atentas aos desdobramentos geopolíticos que envolvem Venezuela, Cuba, narcotráfico e as pressões recentes do governo norte-americano. Nesta conversa, ela comenta o impacto da carta enviada por Carvajal ao presidente americano, Donald Trump, suas possíveis implicações para a América Latina — incluindo o Brasil — e explica como enxerga o papel estratégico que o ex-general venezuelano pode ter daqui para frente.
Entrelinhas: Qual é o peso dessa carta que Carvajal enviou ao então presidente Donald Trump?
Elisa: Essa carta que o Carvajal fez endereçada ao presidente Trump tem um impacto muito grande. Ele já vinha colaborando intensamente com as autoridades dos Estados Unidos. O discurso de Marco Rubio, secretário de Trump, quando ele descreve tudo o que está acontecendo na Venezuela, está tudo muito alinhado com as denúncias de Carvajal. A gente já tem um reflexo muito interessante do que ele trouxe para a mesa — e que está sendo útil nessa guerra contra o narcotráfico naquela região.
Agora, quando ele faz esse novo documento, ele coloca apontamentos importantíssimos sobre as relações do narcotráfico com questões diplomáticas, de espionagem, até a pauta das urnas. Ele trouxe muitos assuntos além do narcotráfico, e isso se torna fundamental neste momento.
Entrelinhas: Nessa carta, Carvajal apresenta informações sobre a origem do chamado “cartel de Los Soles”. O que há de novo nisso?
Elisa: Ele trouxe a informação de que o cartel de Los Soles é um grupo narcoterrorista formado pelos generais chavistas sob o comando de Maduro, mas disse que esse cartel nasceu em Cuba. Foi lá que se desenhou o plano de inundar os Estados Unidos com drogas, a destruição dos Estados Unidos por dentro. Sempre atribuímos esse plano à Venezuela, ao Maduro, mas ele afirma que foi pensado em Cuba.
E nós sabemos quem é o principal aliado de Cuba na América Latina: o Lula. O Brasil, na figura de Lula, foi responsável pela criação do Foro de São Paulo. Então, o que parece é que todo esse plano de sequestro de poder na América Latina tem um componente importante: a participação da esquerda brasileira, que deu grande peso a essa estrutura.
Entrelinhas: Como essas informações repercutem diretamente sobre o Brasil?
Elisa: Não é à toa que Lula corre para se reunir com Gustavo Petro no auge da crise, quando Trump diz que ele é o chefe do narcotráfico na América Latina. Lula estendeu o tapete vermelho para Maduro. Lula esteve defendendo Cuba nos últimos anos.
O Brasil, em alguma medida, participou disso tudo. Tivemos ações questionadas, como a abertura total para receber médicos cubanos. Carvajal descreve a atuação de espiões enviados por Maduro e por Cuba para dentro de agências de segurança dos Estados Unidos. São dados extremamente relevantes.
Entrelinhas: Carvajal agora pode atuar quase como um “delator especial” para o Pentágono. Como isso afeta o cenário militar envolvendo os Estados Unidos e Maduro?
Elisa: Acho que o Carvajal é fundamental, porque ele conhece as rotas da Venezuela e do narcotráfico. Ele foi diplomata, deputado federal, mas antes de tudo foi general. Então, as ações dos Estados Unidos estão respaldadas por essa luz que ele joga nesse labirinto.
O governo americano está lidando com Maduro com cautela, mas aumentando a pressão. Essa carta é uma arma política que pode terminar de derrubar Nicolás Maduro.
Entrelinhas: Como você enxerga o movimento de Joesley Batista tentando intermediar um diálogo entre Trump e Maduro?
Elisa: O Joesley tem acesso ao presidente Trump por causa das doações ao Partido Republicano e ao Democrata, assim como fizeram na América Latina. Ele tem entrada nessa comunicação.
Creio que ele ter se oferecido para intermediar estava relacionado aos seus próprios negócios. Ele viu uma chance de tentar acalmar essa crise. Mas Maduro tem muita informação sobre Joesley, sobre acordos do PT, da JBS e da Venezuela.
Maduro está sob pressão e tenta negociar informações estratégicas. Ele sabe o que seria interessante para Trump — inclusive questões que envolvem América Latina e Brasil. Isso é arma política.
E Joesley deve estar muito preocupado. Ele já viveu a Lava Jato, foi uma situação dificílima. Infelizmente, escapou da Justiça graças ao governo do PT, mas vai escapar de novo? Se Maduro entregar novas informações, isso pode impactar diretamente seus negócios nos Estados Unidos.
Entrelinhas: Caso Maduro comece a ceder, quais seriam as consequências?
Elisa: Maduro sob pressão tem muito a entregar. Tem detalhes de negociações que nós não temos. E ele fará qualquer coisa para se livrar de uma sentença de prisão perpétua da sua família. Trump tem sido muito duro. Algumas vezes, Maduro tentou entregar informações e Trump disse: “Não, você tem que renunciar”.
Se essa pressão aumentar, Maduro pode revelar informações ainda mais importantes.
Entrelinhas: Você pretende retomar uma nova rodada de conversas com Carvajal?
Elisa: Sim. Eu conversei com ele recentemente, e ele me falou sobre entregar novas informações para a cúpula política dos Estados Unidos. Ele havia mencionado que faria isso para Marco Rubio, e parece que deu um passo acima: entregou diretamente ao presidente Trump.
Esse caso não vai ser encerrado tão cedo. Pelo contrário, há muitos desdobramentos a partir dessa conexão política que ele estabeleceu. Até agora, ele falava com a justiça; agora decidiu dialogar com o presidente dos Estados Unidos. Isso é realmente importante.





