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Entrevista

Ernesto Araújo, ex-ministro de Bolsonaro: “Eduardo tem papel fundamental”

(Foto: José Cruz / Agência Brasil )

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Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo analisa os rumos da política externa brasileira sob o governo Lula, denuncia o alinhamento do país com regimes totalitários e defende uma transformação profunda no sistema político nacional.

Na conversa, o chanceler do governo de Jair Bolsonaro entre 2019 e 2021 também destaca o papel do deputado Eduardo Bolsonaro no fortalecimento da aliança com os Estados Unidos e critica a postura do governo atual diante de temas como Israel, antissemitismo e liberdade. Segundo ele, o Brasil se encontra no centro de um embate global entre liberdade e tirania. Para ele, “não devemos esperar por 2026”.

Entrelinhas: Ministro, o senhor foi o chanceler que conduziu a aproximação do Brasil com democracias como Israel e os Estados Unidos. Como o senhor vê o atual cenário da política externa brasileira?

Ernesto Araújo: Estamos vivendo um fenômeno que muita gente não percebia: o Brasil faz parte do mundo — da luta global entre liberdade e tirania. Infelizmente, a política externa atual alinha o Brasil justamente com os regimes totalitários. Essa postura nos distancia do Ocidente democrático e nos aproxima de países como China, Rússia, Irã — numa estratégia deliberada de reforçar internamente um regime autoritário com respaldo externo.

O que antes parecia um confronto apenas doméstico entre o povo e o sistema de poder nacional — controlado pela mídia, pela elite empresarial, pelo Judiciário — agora se internacionalizou. O mundo começa a perceber o que está em jogo no Brasil. E isso equilibra um pouco a balança.

Entrelinhas: Recentemente, o Brasil deixou a Aliança Internacional pela Memória do Holocausto. Como o senhor interpreta essa decisão?

Ernesto Araújo: Um absurdo completo. É uma atitude vergonhosa, de rompimento com valores fundamentais, de desprezo ao povo judeu e ao Estado de Israel. Quando estávamos no governo, com orientação do presidente Bolsonaro e apoio do Filipe Martins, buscamos justamente resgatar essa relação com Israel. Havia um sentimento no povo brasileiro que nos impulsionava. Também nos afastamos do Irã — país visto como ameaça não só por Israel, mas por vários países árabes. O atual governo desmonta tudo isso, adota uma política de relativização do Holocausto e flerta com o antissemitismo travestido de antissionismo.

Entrelinhas: O senhor acredita que essas ações fazem parte de um projeto de poder mais amplo?

Ernesto Araújo: Sem dúvida. Esse governo está deixando claro quem são seus aliados: negacionistas do Holocausto, agressores da liberdade, regimes totalitários. Isso tudo é parte de um projeto de dominação interna, de esfregar na cara do povo brasileiro que eles mandam. É humilhação. O povo brasileiro é amigo de Israel, dos árabes, rejeita o terrorismo, o racismo, o antissemitismo. Mas o governo atual não o representa. Representa um sistema que quer manter o poder a qualquer custo.

Entrelinhas: E como fica a relação com os Estados Unidos diante disso tudo?

Ernesto Araújo: Nunca houve vontade real do governo Lula de construir uma boa relação com os EUA. Nem com Biden, muito menos com Trump. A estratégia sempre foi enganar o Ocidente com um discurso ambientalista, enquanto, nos bastidores, se aliavam aos totalitários. O governo Trump não comprou essa ilusão e agora reage. A tarifa de 50%, que pode virar 100% ou até 500%, é reflexo direto disso. O Brasil se colocou do lado errado da história — e os EUA perceberam.

Entrelinhas: Nesse cenário, como o senhor vê o papel de Eduardo Bolsonaro?

Ernesto Araújo: Fundamental. Eduardo é uma figura que está mostrando coragem, visão e liderança real. Ele queimou os navios. Não tem volta. Isso é o que um verdadeiro líder faz: vai à frente, leva pancada, mas abre caminho. Ele está resgatando a ideia de uma direita autêntica, antissistema. Só precisa tomar cuidado com dois riscos: não se aproximar do centrão e não cair nessa nova direita autoritária, admiradora de Putin e de Vargas. Ele precisa seguir construindo uma direita democrática, de verdade — e acho que é isso que ele está fazendo.

Entrelinhas: É comum a comparação entre o Brasil e a Venezuela. Existe risco de que, no ano que vem, as eleições aqui funcionem como foram as últimas por lá?

Ernesto Araújo: Acredito que sim. Mas também acredito que não devemos esperar até 2026. O sistema está armado para vencer em qualquer cenário dentro das regras atuais. É hora de a população demandar algo mais profundo: uma reforma constitucional que devolva o poder ao povo. Pode até ser uma nova constituição. Sem isso, nada muda. A política externa do Brasil hoje está a serviço da tirania. Precisamos de uma mudança estrutural e urgente.

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