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Em entrevista exclusiva à coluna e ao programa Entrelinhas, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), uma das vozes mais ativas da Oposição na Câmara, comenta sobre os bastidores da política em Brasília, a possibilidade de migrar para o Partido Liberal (PL) e os planos para 2026. Médico e ex-ministro da Cidadania durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o parlamentar também aborda a polêmica em torno da proposta de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e o estado de saúde do ex-presidente. Crítico do governo Lula e da politização do Supremo Tribunal Federal (STF), Terra defende a retomada do protagonismo do parlamento e alerta para os riscos de um desequilíbrio entre os poderes.
Entrelinhas: O senhor está no MDB, mas há rumores de que pode migrar para o PL. Isso está no horizonte?
Osmar Terra: Sim, é algo que está sendo discutido. Tenho uma relação de proximidade com muitos parlamentares do PL, e compartilho de muitos dos valores defendidos pelo partido, especialmente no que diz respeito à pauta conservadora e à defesa das liberdades individuais. Então, há uma possibilidade, sim, de migração. Ainda não há uma data definitiva, mas estou conversando com os partidos aliados. Os líderes partidários estão discutindo esse processo de transição. Quero sair de forma tranquila, com responsabilidade, para que os projetos continuem andando.
Essa possível mudança de partido tem a ver com planos para 2026? Há chance de concorrer ao Senado?
Sou pré-candidato a deputado federal. Esse é o caminho mais provável, mas não descarto o Senado. Ainda estamos conversando com os partidos e lideranças. Venho recebendo incentivo de várias lideranças do Rio Grande do Sul e também de fora do estado para avaliar uma candidatura ao Senado. Mesmo me mudando de partido, eu estou entrando para ser candidato a deputado federal porque eu acho que eu posso exercer o mandato, posso fazer muita coisa como deputado federal ainda por mais quatro anos. Agora, se vier com missão do partido e do próprio presidente Bolsonaro, eu serei candidato a qualquer cargo majoritário. Mas, por enquanto, eu sou candidato a deputado federal.
O senhor foi uma das vozes favoráveis à tramitação da proposta de anistia. Como avalia a pressão que o governo e o STF têm feito sobre o Congresso nesse tema?
A democracia não é o que o Supremo decide. Quem tem o poder de legislar é o parlamento, eleito pelo povo. O Supremo não tem voto, ninguém os elegeu para tomar decisões políticas. O que estamos vendo é uma tentativa de deslegitimar o parlamento, que é a verdadeira Casa do Povo. Essa proposta de anistia é uma forma de reafirmar a soberania da Câmara e de mostrar que o parlamento representa, sim, o sentimento da população brasileira.
O senhor vê essa atuação do STF como uma espécie de usurpação de poder?
Sem dúvida. O próprio presidente do STF, o ministro Luís Roberto Barroso, declarou que o Supremo é agora uma casa política, e isso é muito preocupante. É isso. O STF perdeu a isenção. Virou ator político, algo que nunca foi seu papel.
O senhor acompanha e trabalha na política há décadas. Esse protagonismo do Supremo é uma novidade?
Sim, acompanho desde os anos 1990. Tive como colega de bancada o ex-ministro Nelson Jobim, que era político e depois foi para o STF. Mesmo ele, que vinha da política, exerceu o que a gente chama de autocontenção: respeitou os limites da sua atuação como magistrado. O que temos hoje é diferente. O Supremo se atribuiu um poder político que não tem.
Na sua opinião, o Congresso tem se “acadelado”, como se diz no Rio Grande do Sul?
Infelizmente, em muitos momentos, sim. O Congresso precisa recuperar seu protagonismo. Nós, deputados, não representamos a nós mesmos, representamos milhares, às vezes centenas de milhares de eleitores. Quando o Supremo interfere no Legislativo, está desrespeitando esses eleitores. Por isso, é importante que votemos não apenas a anistia, mas também a PEC que proíbe a descriminalização das drogas, entre outras pautas importantes.
E como o senhor avalia o atual governo Lula?
É o pior dos três governos Lula. Perdeu o controle da economia, da segurança pública, da saúde. Basta ver o que está acontecendo: inflação em alta, aumento da criminalidade, filas e caos no sistema de saúde. É um governo que não sabe para onde vai. Nunca tivemos um governo com avaliação tão ruim.
O governo já está enfraquecido para tentar reeleição em 2026?
Com certeza. As eleições municipais já mostraram isso, com o PT sendo praticamente varrido de várias regiões. Nas próximas eleições, isso deve se aprofundar. A população está sentindo no bolso, na segurança, e tem percebido a diferença em relação ao governo anterior, do presidente Bolsonaro.
O senhor defende o voto auditável como condição para as próximas eleições. Por quê?
A democracia exige confiança no processo eleitoral. O que aconteceu na Venezuela foi um alerta. Lá, o voto eletrônico era um, e o impresso mostrava outro resultado. O Supremo da Alemanha já aboliu o voto eletrônico. Nos Estados Unidos, a diretora nacional de inteligência alertou para a vulnerabilidade das urnas eletrônicas. Qual o problema de ter um sistema que permita recontagem? Isso é transparência.
O senhor tem falado com a equipe médica do ex-presidente Bolsonaro. Enquanto médico, como o senhor avalia o estado de saúde dele após a última cirurgia?
Ele passou por uma cirurgia longa, de quase 12 horas, para tratar das consequências da facada de 2018. Foi uma operação para retirar aderências e bridas que causavam obstruções intestinais e reconstruir parte da parede abdominal. A cirurgia foi um sucesso, sem intercorrências. Ele já está deixando a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e indo para o quarto. Bolsonaro é muito forte, está se recuperando bem, mas ainda ficará algumas semanas internado para evitar infecções e garantir uma boa recuperação. Acredito que essa será mais uma etapa superada. E o país precisa dele com saúde, firme, para continuar liderando esse movimento conservador que vem crescendo no Brasil.
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