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Fernando Jasper

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A maior taxação da história não basta. Lula e companhia querem mais

Governo Lula subiu Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para não ter que congelar mais verbas.
Governo Lula subiu Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para não ter que congelar mais verbas. (Foto: André Borges/EFE)

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O novo pacote fiscal do governo, feito de bloqueio de verbas e aumento de imposto, foi chamado de lambança, improviso, misto de arrogância e amadorismo. Provavelmente é tudo isso. Mas essas avaliações, focadas na forma como a equipe econômica comunica decisões, fogem do essencial.

O mais relevante é o reconhecimento público, por parte do governo, de que nem a maior carga tributária da história é suficiente. Para dar conta de suas demandas, Lula e companhia precisam de ainda mais dinheiro do contribuinte.

No ano passado, o setor público (União, estados e municípios) abocanhou 32,3% de toda a riqueza produzida pelo país. Os tributos federais corresponderam a 21,4% do PIB*. Em ambos os casos, foram os maiores percentuais já registrados pelo Tesouro Nacional.

O IOF, sozinho, rendeu R$ 69 bilhões aos cofres da União. Valor capaz de desbancar um recorde que já durava treze anos – até então, a maior receita com o imposto havia sido alcançada por Dilma Rousseff.

Ainda assim, não foi o bastante para equilibrar as contas do governo.

Com a alavancada no IOF, o ministro Fernando Haddad pretendia levantar cerca de R$ 41 bilhões por ano. Foi forçado a voltar atrás em parte das medidas, mas, pelas contas dele, ainda pode conseguir uns R$ 37 bilhões – um extra equivalente a 0,3% do PIB de 2024.

Se confirmada a expectativa, o ganho anual com o IOF vai subir mais de 50% e superar os R$ 100 bilhões. É o que o ministro chama de ajuste pontual. Com o conforto de não depender de aval do Congresso, pois tributo dito regulatório pode ser elevado por decreto.

E por que tamanho aperto no pagador de impostos? Porque o governo não quis apertar mais o próprio cinto.

Governo subiu imposto porque não quis cortar mais despesas

Classificar o pacote de "erro de comunicação" ou "tiro no pé" é presumir que havia ali algo de bom a comunicar, mas que acabou mal divulgado. Não é o caso.

O congelamento de R$ 31 bilhões do Orçamento foi elogiado pelo mercado, por dar mais realismo às finanças públicas. Mérito nenhum. Bloqueio dessa monta só reitera que eram fantasiosas as contas anteriores.

Como sempre, o Orçamento original preparado pelo governo combinava receitas infladas e gastos subestimados – inclusive os obrigatórios, de fluxo previsível, como as aposentadorias.

O aumento do IOF, por outro lado, foi recebido como "a má notícia que estragou o dia". Quando, na verdade, foi a opção que restou a quem não fez o suficiente na ponta das despesas.

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Quando explica a situação fiscal, o ministro da Fazenda fala sempre do que falta arrecadar. Queixa-se do excesso de benefícios tributários e de quem vive de fazer lobby por desoneração – e tem razão nisso, como também tinha Paulo Guedes quando fazia o mesmo.

Haddad, porém, omite que boa parte das renúncias fiscais foi concedida nas gestões anteriores do PT. E que o governo atual recorre ao mesmo expediente ao criar incentivos para indústria, estaleiros, data centers – o próprio ministro propagandeou estes últimos em visita aos EUA.

E há o principal. Mesmo com a União abrindo mão de mais de 4% do PIB em receitas, a carga tributária nunca esteve tão alta, como dissemos acima. E nem assim cobre as despesas. Seria o caso de conferir o que se passa com elas.

É bem verdade que o Congresso, desde sempre, fez sua parte para elevar os gastos. Nos últimos anos tem aumentado a fatura das emendas parlamentares, e agora mesmo trabalha para instituir um piso de despesas militares, associado ao Ministério da Defesa.

Mas foi Lula quem restabeleceu o reajuste real obrigatório do salário mínimo, que infla alguns dos maiores desembolsos do governo, como Previdência e auxílios. Foi ele quem retomou os pisos de gastos com saúde e educação. Quem ampliou o Bolsa Família, ainda mais do que Bolsonaro já havia feito. E quem acaba de prometer gás de graça para 22 milhões de famílias.

Tamanha generosidade tem um preço, pago por quem sustenta o Estado. Está aí o IOF para provar.

*A Fazenda vai argumentar que não fica com tudo, pois parte do que arrecada é repassada, por obrigação legal, aos governos regionais – cujas cargas tributárias, por sinal, também bateram recorde em 2024 (caso dos municípios, com 2,4% do PIB) ou chegaram perto (estados, com 8,5% do PIB). Para o pagador de impostos, importa é que ele está pagando mais.

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