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O premiê Mark Rutte, que anunciou sua saída da vida pública após sua coalizão ruir: partido ligado aos produtores rurais e crítico de políticas ambientais lidera pesquisas para eleições de novembro
O premiê Mark Rutte, que anunciou sua saída da vida pública após sua coalizão ruir: partido ligado aos produtores rurais e crítico de políticas ambientais lidera pesquisas para eleições de novembro| Foto: EFE/EPA/FILIP SINGER

Depois de 13 anos, Mark Rutte não será mais o primeiro-ministro da Holanda. O líder do conservador Partido Popular para a Liberdade e Democracia anunciou que vai se aposentar da vida pública após sua coalizão de quatro partidos ruir devido a questões migratórias. Com eleições marcadas para o dia 22 de novembro, a Holanda pode ter o primeiro governo “antiverde” da Europa.

A coalizão do quarto governo Rutte já era delicada. Foram dez meses de negociações para estabelecer um governo que durou um ano e meio, integrado por seu partido, conhecido pela sigla em holandês VVD, os democratas liberais do D66 e os democratas cristãos tanto do CDA quanto do CU. Rutte e o CDA queriam restringir o direito de reunião entre asilados na Holanda e seus familiares de países em guerra.

O D66 e a CU, por outro lado, eram a favor da manutenção da permissão de cerca de 45 mil asilados e o direito de reunião de pessoas já no país com seus familiares que chegam de países em guerra. Lembrando que refúgio, asilo e imigração são três fenômenos diferentes e, no caso, o governo holandês possui uma “cota” anual para a concessão de asilo, salvo eventos extraordinários.

Um ex-aliado de Mark Rutte, Jan Paternotte, presidente do D66, afirmou que Rutte foi inflexível na negociação e culpou o agora premiê interino pela queda de governo. Em seu discurso de anúncio da renúncia, Rutte negou isso e simplesmente disse que era “impossível” um acordo. Ele também citou a inflação como razão, movida pelo alto preço do gás natural e dos aluguéis.

Recorde e ambientalismo

Mark Rutte é líder do VVD desde 2006 e premiê desde 2013, o recordista de tempo no cargo. Ele já havia renunciado antes, em janeiro de 2021, devido a um escândalo por falsas alegações de fraude no aparato estatal de bem-estar infantil pelas autoridades fiscais holandesas, mas venceu as eleições seguintes. De qualquer maneira, sua imagem já estava desgastada.

Um dos pontos de maior atrito no atual debate político holandês é o fato de o país adotar metas e políticas ambientalistas bastante ambiciosas, por vezes contraditórias com o fato de ser uma potência agrícola. A Holanda, embora pequena, apenas o 134º país do mundo em área, é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, com forte presença tecnológica no setor.

Esse atrito causou diversos protestos de fazendeiros e agricultores, especialmente em 2019, motivados por uma proposta legislativa de redução do rebanho bovino holandês para reduzir a emissão de gases estufas no país. Pecuaristas holandeses bloquearam estradas e chegaram até a despejar feno e esterco em algumas localidades. Pesquisas chegaram a colocar a aprovação popular dos fazendeiros em 60%.

Um curioso e válido argumento dos pecuaristas holandeses é que trata-se do país original de uma das maiores petrolíferas do mundo, a Royal Dutch Shell, mas são as vaquinhas leiteiras que são alvo de novas leis. Os fazendeiros se organizaram, então, no Movimento Agricultor-Cidadão, conhecido em holandês pela sigla BBB, liderado pela jornalista especialista em temas agrários Caroline van der Plas.

Partido “antiverde”

O partido possui principalmente bandeiras de direita, socialmente conservador e com alguns pontos eurocéticos em relação ao bloco europeu. Seu manifesto claramente se refere criticamente ao processo de federalização da União Europeia. Principalmente, claro, defende a valorização do setor agrário holandês, inclusive a rejeição de políticas ambientais mais ambiciosas.

Nesse sentido, o BBB declara como seus principais rivais o Partido dos Animais, o PvdD, que é um movimento contra a exploração de animais e pela defesa do vegetarianismo, e o Partido Verde, GL em holandês. É possível classificar o BBB como o principal partido “antiverde” do mundo hoje. Não que não existissem partidos críticos às pautas ambientais antes, mas o BBB surge com esse propósito específico.

Na atual Câmara dos Deputados, formada nas eleições de 2021, o BBB possui uma cadeira, os verdes possuem oito e o PvdD possui seis. Isso, entretanto, deve mudar. Na última eleição para o senado, o partido ficou com 20,6% dos votos, conquistando 16 das 75 cadeiras. Em contraste, os dois partidos ambientalistas ficaram com sete cadeiras cada. Mesmo unidos, menos do que o BBB.

Atualmente, as pesquisas para novembro colocam o BBB na liderança da intenção de voto, com 27% dos votos, empatando com o VVD. O tradicional partido conservador possui maior capilaridade e uma máquina já estabelecida. Por outro lado, precisará passar por uma eleição interna para definir sua candidatura, um processo que sempre pode ser desgastante.

Como comparação, na última eleição, o VVD teve 21,8% dos votos, bastante abaixo dos 27% projetados para o BBB. Mesmo que eventualmente não seja o primeiro colocado, já que ainda faltam quatro meses para o pleito, será muito difícil formar um governo viável na Holanda sem levar em consideração o peso dos representantes eleitos dos produtores rurais holandeses.

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