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Petteri Orpo, provável futuro primeiro-ministro da Finlândia
Petteri Orpo, provável futuro primeiro-ministro da Finlândia| Foto: EFE/ Juanjo Galán

A Ucrânia teve uma vitória e uma derrota no último domingo, quando ocorreram três eleições em países europeus integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte. O domingo eleitoral foi o tema da mais recente coluna aqui em nosso espaço de política internacional e está na hora de olharmos os resultados das eleições parlamentares na Finlândia e na Bulgária, além da eleição presidencial de Montenegro. Principalmente, o que essas eleições dizem sobre o apoio popular aos ucranianos?

Vitória conservadora na Finlândia

Começando pelo pleito finlandês, país que concretiza sua entrada na OTAN nesta terça-feira. No país nórdico, as campanhas que apontavam um empate técnico tríplice acertaram, com uma distância mínima entre os três partidos mais votados. O Partido Social-Democrata, da agora ex-primeira-ministra Sanna Marin, ficou em terceiro lugar, com 19,9% dos votos e 43 dos 200 assentos do parlamento. Marin concedeu a derrota já na noite de domingo.

Em primeiro lugar, com 20,8% dos votos, ficou o Partido da Coalizão Nacional, conservador, liderado por Petteri Orpo, provável futuro primeiro-ministro do país. O partido ficou com 48 cadeiras e a diferença bruta entre os dois partidos, as duas tradicionais forças da política finlandesa, foi de menos de trinta mil votos. Entre eles, em segundo lugar, ficou o Partido dos Finlandeses, populista de direita, anteriormente chamado de Verdadeiros Finlandeses. No caso, o “verdadeiros” se dava pela postura anti-imigração e “identitária”.

O partido ficou com 20,1% dos votos e 46 cadeiras. Sua líder, Riikka Purra, foi a parlamentar individualmente mais votada. Ela, ao contrário de outros colegas de sigla, não possui declarações racistas em seu passado político, o que ajudou o partido a passar de uma sigla tida como extremista para uma força nacional. Uma questão curiosa é que os três partidos, além de terem ficado muito próximos, aumentaram sua presença no parlamento em comparação ao pleito anterior.

Os partidos que perderam assentos foram os do bloco intermediário O Centro, liberal ruralista, o Verde e a Esquerda. No caso do último, é possível que seu eleitorado tenha migrado para os social-democratas em um voto útil contra a direita. Completam a casa o partido da minoria sueca, o cristão-democrata e o movimento libertário Liik, “Agora”. Para a formação de governo, Orpo possui basicamente duas opções, uma coalizão de direita ou uma grande coalizão nacional.

O primeiro caso seria uma coalizão com o Partido dos Finlandeses, que certamente exigiria autoridade em pautas como imigração e segurança pública para fazer parte desse governo. Juntos, os dois partidos teriam 94 cadeiras, precisando de ao menos mais sete para um governo viável. O problema para Orpo é que quase nenhum outro partido aceita fazer uma coalizão com os Finlandeses, por considerarem a legenda um partido racista. O apoio seria, então, vendido de forma bastante cara.

A segunda opção é uma coalizão com a outra grande legenda, os social-democratas, mais uma terceira força, como os verdes ou o Centro. Nesse caso, Orpo correria o risco de ser criticado por parte de seu eleitorado por ir em direção ao centro, não à direita. Especialmente devido ao fato de que sua plataforma eleitoral foi baseada especialmente em pautas econômicas, contra o que ele criticou como uma “gastança” social-democrata e prometendo combater a inflação.

No que concerne ao conflito na Ucrânia, uma eventual mudança na política externa finlandesa é improvável nesse momento. O país possui uma enorme fronteira terrestre com a Rússia, além de divergências fronteiriças. O Partido dos Finlandeses no passado foi crítico de uma eventual entrada na OTAN, mas, hoje, não existiria clima político para isso. Uma presença do partido no governo poderia, no máximo, diminuir o apoio material da Finlândia aos ucranianos.

Mudanças em Montenegro e neofascistas na Bulgária

A eleição que representa maior vitória para os ucranianos em apoio diplomático foi a do pequeno Montenegro. No primeiro turno, o atual presidente Milo Dukanovic ficou em primeiro, com 35% dos votos. Dukanovic estava em sua segunda passagem pela presidência, além de quatro passagens como primeiro-ministro, sendo uma força dominante na política montenegrina desde a independência em 2006, equilibrando interesses pró-UE e pró-Sérvia, indiretamente interesses pró-Rússia.

No segundo turno, ele teve 41% dos votos, com a imensa maioria do eleitorado se mobilizando em torno de seu opositor, Jakov Milatovic, quase trinta anos mais novo. Ex-ministro da economia, Milatovic é líder do Europa Agora, partido cujo nome deixa claro qual sua principal pauta, uma suposta “modernização” do país e a entrada de Montenegro na UE o mais rápido possível. Sua postura é abertamente e explicitamente pró-Ucrânia, embora, realisticamente, Montenegro possa oferecer apenas apoio diplomático.

Finalmente, a eleição na Bulgária deve ter acendido um alerta em alguns think tanks europeus sobre a influência russa dentro da OTAN e da UE. Os búlgaros votaram em sua quinta eleição parlamentar em três anos e não se pode descartar a possibilidade de um sexto pleito em breve. O parlamento provavelmente continuará travado. O partido de Boyko Borisov ficou em primeiro, com 69 das 240 cadeiras do parlamento, duas a mais do que antes. Em segundo lugar ficou a coalizão pró-Europa.

O grupo do ex-premiê Kiril Petkov ficou com 54 assentos, perdendo nove cadeiras. O partido da minoria turca teve 36 cadeiras, os social-democratas ficaram com 23 e Slavi Trifonov, o “Trump da Bulgária”, retornou ao parlamento com onze cadeiras. O partido que mais ganhou cadeiras ficou em terceiro lugar, o Renascença, o partido nacionalista neofascista búlgaro, com 37 assentos, dez a mais do que antes. O partido é explicitamente russófilo e, para a sorte dos ucranianos, é boicotado pelos demais partidos.

Na mais recente coluna, mencionamos os laços históricos entre Bulgária e Rússia, e também o fato de que o governo Petkov agiu de maneira secreta para enviar apoio militar material para a Ucrânia. Até julho de 2021, o Renascença não tinha presença no parlamento búlgaro e, desde então, apenas cresceu. Em parte pelo seu discurso antipolítica “tradicional”, bastante sedutor em um país com tantas eleições. Um salto de dez parlamentares, entretanto, não pode ser tirado do atual contexto sobre a Rússia.

No voto popular, o Renascença teve 13,5% dos votos. Não parece muito, mas, novamente, acende um alerta em alguns locais, já que se trata não apenas de um partido neofascista, mas de um partido abertamente pró-Rússia em um contexto de invasão de um país geograficamente próximo pela mesma Rússia. Na prática, entretanto, isso não deve fazer tanta diferença no curto prazo, já que o parlamento búlgaro deve continuar travado. Agora, os olhos das eleições em países da OTAN se voltam para maio, na Grécia e na Turquia.

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