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O atual governador, Hendrik Wüst, da CDU, durante campanha, em abril de 2022.
O atual governador, Hendrik Wüst, da CDU, durante campanha, em abril de 2022.| Foto: EFE/EPA/SASCHA STEINBACH

No período de uma semana, dois estados alemães realizaram eleições regionais. Um deles foi o mais populoso do país, o estado da Renânia do Norte-Vestfália, enquanto o outro foi o estratégico estado de Schleswig-Holstein. Analisando os resultados dos pleitos, nota-se a constante ascensão dos verdes alemães, enquanto a guerra na Ucrânia pode ter afetado o desempenho da direita nacionalista.

Primeiro, no dia 8 de maio, foi a vez dos eleitores de Schleswig-Holstein. As eleições para os parlamentos estaduais, os Landtag, são similares às eleições para o parlamento federal, o Bundestag. Primeiro no sentido de que a Alemanha não adota um sistema distrital puro, mas a representação proporcional mista, justamente para contabilizar votos expressivos de candidatos que perderam em seus distritos.

Cada eleitor vota em duas eleições. Em uma, ele vota no seu candidato distrital. Na outra, no seu partido favorito, em uma lista proporcional. As eleições também são similares no sentido de que não é eleito um governador como no Brasil, mas é eleito um parlamento que, internamente, forma uma coalizão de governo para determinar o ministro-presidente, de maneira similar ao processo de escolher o chanceler federal.

Schleswig-Holstein 

No estado do norte são escolhidos 69 parlamentares e 60,4% dos eleitores compareceram. Dois resultados do estado são notáveis, mas, antes, os números. Em primeiro lugar ficou o conservador União Democrata-Cristã, com 43% dos votos e 34 cadeiras, aumentando sua bancada em nove deputados, com um crescimento de 11% do eleitorado. O partido foi o maior vencedor das eleições tanto em números absolutos quanto em crescimento relativo.

Em segundo lugar ficaram os Verdes, com 14 assentos e 18,3% dos votos, um crescimento de mais de 5%. Em terceiro lugar ficou o Social-Democrata, SPD, que atualmente governa o país, com apenas 16% dos votos, perdendo 11% do eleitorado e nove cadeiras, ficando com apenas doze. Os liberais também minguaram e ficaram com apenas 6,4% dos votos, com cinco cadeiras finais.

O primeiro resultado notável é justamente o quinto lugar da eleição, a Associação dos Eleitores de Schleswig do Sul, com 5,7% dos votos e quatro cadeiras. Conhecido pela sigla em alemão SSW, o partido representa a minoria dinamarquesa e frísia da região, que foi posse da Dinamarca até 1864, quando a Prússia e a Áustria venceram a Segunda Guerra dos Ducados.

Por ser um partido que representa minorias, o SSW não precisa passar da cláusula de barreira de 5% dos votos para estar no Landtag, mas conseguiu esse resultado pela primeira vez desde o pós-Segunda Guerra Mundial, em seu melhor resultado eleitoral. Quem estava no parlamento estadual mas não cumpriu a cláusula de barreira foi o Alternativa para a Alemanha, o AfD, da direita nacionalista.

Guerra na Ucrânia 

O AfD ficou com apenas 4,4% dos votos e, por isso, não estará no Landtag, onde tinha cinco deputados. A derrota do partido está ao menos parcialmente conectada ao conflito na Ucrânia, já que a AfD possui diversos e públicos elos com o governo russo de Vladimir Putin, incluindo o recebimento de fundos. A invasão da Ucrânia pela agressão russa afetou a imagem do partido perante parte do público alemão.

A guerra também desgastou a imagem do governo federal do chanceler Olaf Scholz, social-democrata, cobrado por não estar fazendo o suficiente para diminuir o consumo de energia fornecida pela Rússia e aumentar o auxílio militar aos ucranianos. Ou seja, a guerra também afetou o voto no SPD e fortaleceu o outro grande partido alemão, a CDU. Como resultado, a CDU precisa de apenas mais uma cadeira para governar o estado.

Para isso, a CDU pode fazer coalizões simples com os menores partidos do Landtag, como os liberais ou com o SSW, que não cobrarão um preço muito alto por seu apoio, enquanto os Verdes terão seu protagonismo como líderes da oposição estadual. O mesmo desgaste do SPD e do AfD pode ser visto na outra eleição regional, no dia 15 de maio, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, o mais populoso do país.

Renânia do Norte-Vestfália 

O comparecimento eleitoral foi de apenas 55%, o menor desde a reunificação alemã. A CDU também ficou em primeiro lugar, com 35,7% dos votos e 76 dos 195 assentos do Landtag, um crescimento de quatro deputados. Os social-democratas ficaram em segundo, com 56 assentos e 26,7% dos votos, perdendo treze cadeiras. Em terceiro lugar ficou o grande vencedor das eleições, os Verdes.

Nossos leitores já sabem há tempo que o Partido Verde está constantemente conquistando bons resultados regionais na Alemanha, prevendo a possibilidade, que se concretizou, que os Verdes seriam imprescindíveis para a formação de uma coalizão federal. No pleito do último dia 15 eles conquistaram 18% dos votos e 39 cadeiras, crescendo 11,8% e conquistando 25 cadeiras a mais do que antes, o maior crescimento da eleição.

Os liberais foram os maiores perdedores, com apenas 12 cadeiras e 5,9% dos votos, perdendo 16 assentos. Fecha o parlamento regional a AfD, com doze cadeiras e 5,4% dos votos, com quatro deputados a menos. O estado provavelmente passará por negociações mais complicadas para formar um governo, com três possíveis coalizões. Primeiro, a “Grande Coalizão” dos dois maiores partidos, a CDU e os social-democratas.

Os dois partidos, juntos, teriam 132 assentos, bastante além dos 98 necessários para a maioria. Outra possibilidade é uma coalizão CDU e Verdes, que já governa dois outros estados alemães, em Baden-Württemberg e em Hesse, além de fazerem parte de coalizões triplas em outros dois, de Brandenburgo e na Saxônia. Essa possibilidade é, hoje, a com mais força no estado.

Finalmente, caso a CDU não consiga formar uma coalizão de governo, a tarefa pode ser passada ao segundo partido, o social-democrata. Nesse caso, poderia ser repetida a “Coalizão Sinal de Trânsito”, a mesma que governa o país, entre os social-democratas, vermelhos, os liberais, amarelos, e os Verdes. Essa, entretanto, é a possibilidade mais distante no momento.

As duas eleições recentes são mais dois exemplos do constante crescimento do partido Verde alemão, que hoje possui a maior bancada federal de sua História. Também é a maior bancada em um estado e uma das três maiores em outros nove, consolidando uma posição de terceira força partidária na Alemanha. Posto que chegou a ser cobiçado pelo Alternativa para a Alemanha, hoje cada vez mais enfraquecido.

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