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O presidente americano, Joe Biden, em entrevista coletiva na Casa Branca com seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky
O presidente americano, Joe Biden, em entrevista coletiva na Casa Branca com seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky| Foto: EFE/EPA/Oliver Contreras

Na última quarta-feira (21), o presidente da Ucrânia falou perante uma sessão conjunta do Congresso dos EUA. Foi a primeira viagem de Volodymyr Zelensky para fora de seu país desde a invasão pela Rússia, em fevereiro. Bastante simbólico que essa viagem tenha sido para Washington, o maior apoiador ucraniano no conflito e também onde as mensagens dessa visita seriam necessárias.

Segundo a imprensa polonesa, Zelensky chegou à fronteira entre Ucrânia e Polônia de trem, cruzando pela cidade de Przemysl. De lá, ele seguiu em um comboio de carros até Rzeszow, onde embarcou em um avião da Força Aérea dos EUA que seguiu para a base aérea de Andrews, em Washington, base dos aviões presidenciais americanos. Logo no desembarque, Zelensky estava com seu habitual figurino de moletom militar e coturnos.

Durante toda a visita, incluindo uma reunião bilateral com Joe Biden no Salão Oval da Casa Branca, Zelensky manteve os trajes militares em tons de verde oliva, assim como fez quando recebeu dignitários estrangeiros em sua capital ou nos vídeos para a comunidade internacional. No caso da visita aos EUA, alguns políticos do país consideraram o ato de estar vestido assim na Casa Branca e no Congresso uma falta de respeito.

Zelensky pode ter muitos defeitos e cada leitor pode ter sua opinião sobre ele. Um atributo que não pode ser negado, entretanto, é o fato dele ser um grande comunicador. Essa é sua profissão, é como ele se tornou uma celebridade em seu país, caminho que o levou até a presidência. Seus trajes “inapropriados” buscam comunicar a ideia de que o país está em uma guerra perene, sem intervalos, sem “pausas” para ternos.

Auxílio militar

Na reunião no Salão Oval, foi anunciado mais um pacote de quase US$ 2 bilhões em assistência militar direta dos EUA aos ucranianos, incluindo munições e uma bateria do sistema Patriot, o principal sistema antiaéreo do arsenal dos EUA. Outras baterias já foram posicionadas perto da fronteira entre a Ucrânia e os países da OTAN, agora com uma fornecida diretamente aos ucranianos.

O propósito é que o sistema contribua com as defesas ucranianas contra os ataques russos com mísseis de cruzeiro e drones contra a infraestrutura de energia e de saneamento da Ucrânia. Joe Biden afirmou que, pelo fato de o sistema ser defensivo, a Rússia não deve encarar o gesto como uma “escalada” no conflito. Não que isso importe muito no momento, no que é uma das intenções da visita.

Como mencionamos, Zelensky viajou via Polônia. Na volta, inclusive, se encontrou com autoridades polonesas. Não na ida, importante. Proporcionalmente aos seus orçamentos, Polônia e Lituânia são os países que mais auxiliaram a Ucrânia até o momento. Em números absolutos, entretanto, essa ajuda militar é ínfima perto do imenso apoio dos EUA, tanto em auxílio militar quanto em auxílio “humanitário” para outras finalidades.

A primeira viagem de Zelensky ao exterior ser aos EUA serve para deixar claro que o apoio de Washington aos ucranianos é inequívoco. Deixar claro para quem? Para a Rússia, principalmente, mas também aos países europeus que são acusados de pouco auxiliarem os ucranianos na guerra. Ou seja, o apoio vai continuar, até a hora que a guerra acabar, por qual motivo que seja.

A visão do governo dos EUA é simples. Contribuir para uma eventual derrota russa na Ucrânia serve amplamente aos interesses dos EUA. No campo moral, possibilita a argumentação de que o país luta pelo que é certo, contra uma agressão. No campo da imagem, fortalece a ideia de que os EUA são um aliado confiável, o líder do chamado Ocidente e seu principal articulador político e militar.

Interesses dos EUA

Não está em discussão se essas frases são verdadeiras, mas que o auxílio na guerra as transmite. Finalmente, no interesse bruto, enfraquece a rival Rússia, fornecendo os recursos para destruição de parte do arsenal russo. Economicamente falando, é muito mais fácil os EUA conseguirem repor seus arsenais do que a Rússia, país com economia bastante menor e com menos gastos militares.

O enfraquecimento russo, por sua vez, possibilita que os EUA usem seus recursos e suas forças em outros teatros de operação, como contra a China. O líder republicado do Senado, o conservador Mitch McConnell, colocou em termos simples:  “As razões mais básicas para continuar a ajudar a Ucrânia a degradar e derrotar os invasores russos são os frios, concretos e práticos interesses dos EUA”.

Outro recado da visita de Zelensky é para os próprios políticos dos EUA. Em seu discurso de cerca de meia hora, em inglês, o presidente ucraniano em diversos momentos apelou aos “dois partidos”, afirmou que o dinheiro dos EUA não é “caridade”, mas “investimento em segurança” e pediu apoio até “a vitória” da Ucrânia. A sessão conjunta do Congresso uniu deputados e senadores.

No final de outubro, lembramos aqui em nosso espaço como as eleições de meio de mandato dos EUA poderiam influenciar o auxílio militar para os ucranianos. Parte das lideranças republicanas consideram que dinheiro demais já foi enviado para o conflito, criticam uma suposta falta de transparência e afirmam que a gestão Joe Biden estaria “arrastando” o conflito.

Em algumas semanas, assume um novo Congresso, com uma Câmara controlada pelos republicanos, o que pode prejudicar os planos de Biden para a Ucrânia. Por isso, um último grande pacote de auxílio militar na ocasião. E também por isso a presença de Zelensky, para articular eventuais renovações do auxílio na próxima legislatura, já que, sem os EUA, a Ucrânia não teria grandes esperanças nesse conflito.

Pausa

A coluna terá um breve recesso nas próximas duas semanas, retornando no dia 10 de janeiro. Agradeço o privilégio de contar com cada um dos leitores de nosso espaço de política internacional e desejo um Feliz Natal e um ótimo Ano Novo para cada um de vocês.

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