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O ex-presidente do Chile Sebastián Piñera morreu nesta terça
O ex-presidente do Chile Sebastián Piñera morreu nesta terça| Foto: EFE/ Marco Mesina ARCHIVO

A morte de Sebastián Piñera foi um choque e uma perda para toda a América Latina. O ex-presidente do Chile faleceu no último dia seis de fevereiro, em um acidente de helicóptero. Piñera pilotava a aeronave de sua propriedade e, com chuva e ventos fortes, o helicóptero se acidentou no Lago Ranco. Faleceu aos 75 anos de idade, após dois mandatos em que mostrou que uma direita democrática pode governar o Chile.

A morte de Piñera é um choque por ser repentina. Não se trata de uma pessoa que foi vítima de uma longa doença, nem de alguém que estava longe do olhar público há muito tempo. Dois anos atrás, era ele o mandatário do Chile. Mesmo depois do fim de seu segundo mandato presidencial, Piñera continuou presente no debate público de seu país, além de ser um conhecido empresário.

Um dos mais ricos homens do país, Piñera pilotava a aeronave que era de sua propriedade, perto de uma casa de veraneio que possuía. Sua morte possivelmente deu chance para que os outros três ocupantes do helicóptero sobrevivessem, sua irmã, Magdalena, o empresário Miguel Ignacio Guerrero e seu filho, Bautista Guerrero. Piñera ordenou que os três pulassem da aeronave e manteve o controle até eles se afastarem.

Cerimônia e discurso

Com a queda na água, Piñera perdeu a consciência e, preso pelo cinto de segurança, morreu afogado. A única vítima fatal do acidente, que ainda será esclarecido. Seu corpo foi resgatado pela marinha chilena, há quase trinta metros de profundidade. No mesmo dia, o presidente Gabriel Boric declarou três dias de luto nacional e um funeral de Estado para o ex-presidente Sebastián Piñera.

Na manhã do dia sete foi realizada uma cerimônia fechada para a família, seguida de um funeral com presença e homenagens do público. Nesta sexta-feira, dia nove, o corpo de Piñera será velado no palácio presidencial de La Moneda, com presença de autoridades, seguida de uma missa na Catedral Metropolitana de Santiago, antes do sepultamento no Parque del Recuerdo. Piñera era católico praticante.

O discurso oficial de Boric ressaltou a talvez maior qualidade de Piñera: ele era um democrata. Lembrou que Piñera foi presidente eleito duas vezes pelos chilenos e que “o presidente Piñera contribuiu, a partir de sua visão, para a construção de grandes acordos para o bem do país. Foi um democrata desde a primeira hora e buscou genuinamente o que acreditava ser o melhor para o país”.

Eleição

Líder do partido conservador Renovación Nacional, Piñera foi senador por Santiago entre 1990 e 1998. Em 2005, concorreu pela primeira vez ao cargo máximo do executivo, derrotado no segundo turno por Michelle Bachelet. Em 2010, ficou com 44% dos votos no primeiro turno e, no segundo turno, venceu a eleição presidencial com 51,6% dos votos, em um marco na História de seu país.

Foi a primeira vez desde 1964 que um presidente de direita era eleito pelos chilenos, a primeira vez desde o fim da violenta e desastrosa ditadura Pinochet. Após o fim do governo autoritário do caudilho, ser de direita era quase um tabu no Chile, e as duas coisas se confundiam. Piñera não apenas foi eleito em um marco histórico, mas mostrou ao seu país que é possível existir uma direita democrática.

Defender ou reinvindicar o legado do Pinochetismo seria um caminho possível para Piñera. Seu irmão foi integrante importante do gabinete do ditador. Sebastián, entretanto, em 1988, fez campanha pelo fim da ditadura. Ele sabia que Pinochet significou atraso, repressão, morte, tortura, culto de personalidade, muita corrupção e a maior crise econômica da História chilena, em 1982.

Democracia

Piñera ficou oito anos no poder em dois mandatos e nunca defendeu Pinochet ou relativizou os crimes da ditadura. Afastou militares que defenderam a ditadura e inaugurou o Museu da Memória dos Direitos Humanos, cujas obras começaram sob sua antecessora, Bachelet, filha de um militar perseguido e morto pela ditadura. Buscou, a todo custo, desvincular o liberalismo econômico chileno do Pinochetismo.

O republicanismo democrático também fez com que o católico Piñera não vetasse a lei que regulamentou o casamento entre pessoas do mesmo sexo no Chile. Ouviu os protestos nas ruas e autorizou uma consulta popular sobre a constituição chilena, assunto bastante coberto aqui em nosso espaço de política internacional. Internacionalmente, Piñera será lembrado pelo quase milagroso resgate dos trinta e três mineradores em 2010.

Nada disso significa que Piñera fosse perfeito como pessoa ou que seus governos não possam ser criticados, tanto à esquerda quanto à direita. Em uma época em que o principal presidenciável chileno abertamente elogia o caudilho Pinochet, entretanto, lembrar que Piñera mostrou comportamento democrático e republicano muito acima da média é necessário e justo com sua memória.

Conteúdo editado por:Bruna Frascolla Bloise
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