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Sim, Roger Waters, você precisa de educação
| Foto: Gazeta do Povo

“Ponha um cretino fundamental em cima da mesa e ele dá um berro. Imediatamente, milhares de outros cretinos se organizam, se arregimentam e se aglutinam” (Nélson Rodrigues)

Era uma vez um paraíso encantado sobre a Terra onde os vinhedos eram abundantes e as flores brotavam por todos os lados. O solo era fértil, a água fresca e potável. Lá, não havia sinal de penúria, fome ou injustiça. O povo que ali habitava vivia feliz e saudável, e a harmonia reinava entre os seres. O paraíso chamava-se Palestina e os seus bem-aventurados habitantes, palestinos.

Eis que um belo dia vieram os cruéis sionistas e, apoiados pelos poderosos ingleses, roubaram aquela terra, exilaram seu povo e deram início a um reino de terror e limpeza étnica que perdura até os dias de hoje.

É essa visão mitopoética que inspira a propaganda antissemita (disfarçada de antissionista) de idiotas úteis como Roger Waters – recentemente objeto de um merecido pito por parte de Milton Nascimento, que se recusou a aderir à campanha BDS (“boicote, desinvestimento e sanções”) movida contra Israel. A história da carochinha só convence Waters e outros cretinos fundamentais graças a sua abissal ignorância histórica, histericamente compensada, como de hábito, por sentimentalismo e ativismo obtuso.

Ora, o Estado de Israel foi criado em um processo legal e pacífico pelas Nações Unidas. Sua fundação não se deu em “terras palestinas”, mas no território do antigo Império Otomano, por séculos dominado pelos turcos, que o perderam em função da derrota na Primeira Guerra. Como bem explica o historiador David Meir-Levi em Big Lies: Demolishing the Myths of the Propaganda War against Israel, não havia “terras palestinas” na época, simplesmente por não haver então povo algum identificado como “palestino”.

O que havia na região eram árabes que se diziam sírios. Após a Primeira Guerra, os vitoriosos ingleses e franceses criaram os estados da Jordânia, Síria, Líbano e Iraque a partir do antigo domínio turco-otomano. A Jordânia foi criada sobre cerca de 80% do Mandato Britânico da Palestina, originalmente considerado parte do território judaico pela Liga das Nações. Desde então, os judeus foram proibidos de possuir terras ali.

Em 1947, o plano de partilha das Nações Unidas determinou a criação de dois estados nos 20% restantes do Mandato Britânico: o estado de Israel, para os judeus; e um outro estado, para os árabes. Ocorre que estes rejeitaram a proposta, preferindo lançar-se numa guerra contra Israel, evento que está na origem do problema dos refugiados.

Os refugiados árabes eram cerca de 725.000 pessoas, que fugiram por causa da guerra iniciada por seus Estados. Ditatoriais em sua maioria, estes não aceitavam um país não-árabe no Oriente Médio. Os líderes dessas nações, cujas populações ultrapassavam em muito a de colonos judeus, deram início à guerra, com invasões simultâneas a Israel. Os israelenses clamaram por paz e ofereceram-se para cooperar com seus vizinhos. Mas os tiranos árabes rejeitaram a oferta e insistiram numa guerra de aniquilação contra os judeus.

A guerra fracassou e Israel saiu-se vitorioso. Mas o clima de tensão prosseguiu graças à recusa dos estados árabes – em especial, Arábia Saudita e Iraque – em assinar um tratado de paz com Israel. Até hoje, árabes e palestinos descrevem o fracasso de sua agressão e à sobrevivência do Estado de Israel com a expressão Al-Nakba: “A Catástrofe”.

Uma vez derrotados militarmente, os principais líderes árabes partiram para uma guerra verbal e ideológica contra Israel (o que não excluía, é claro, o fomento a grupos paramilitares e terroristas). De modo a justificar os ataques terroristas e obter apoio da parcela “progressista” do Ocidente, os estrategistas árabes resolveram acusar Israel de ser uma potência colonialista. Com isso, mascaravam o seu único objetivo político – eliminar o Estado de Israel – com as vestes do discurso anticolonialista adotado pela esquerda ocidental. Foi assim que a OLP (Organização para a Libertação da Palestina) – cuja criação, como relata o ex-espião romeno Ion Mihai Pacepa, teve forte influência soviética – inventou o “povo palestino”, numa das mais bem-sucedidas ficções políticas da história.

Logo após assumir a liderança da OLP, em 1969, uma das primeiras medidas de Yasser Arafat foi enviar seu secretário pessoal, Abu Jihad (que viria a ser líder das operações militares da organização), para o Vietnã do Norte, a fim de que se inteirasse das estratégias e técnicas da guerra de guerrilha. Arafat estava muito impressionado com o sucesso de Ho Chi Min em atrair a simpatia da intelligentsia esquerdista nos EUA e na Europa. Nos campi das principais universidades norte-americanas, intelectuais ativistas vinham conseguindo transformar simbolicamente a ocupação comunista no sul do Vietnã em uma luta por libertação nacional contra o imperialismo yankee.

Uma dica baseada na campanha de relações públicas norte-vietnamita, que forneceu a chave para a vitória comunista e serviu de inspiração para a OLP, foi dada pelo estrategista-chefe do comando de Ho Chi Min, o célebre general Giap: “Parem de falar em aniquilar Israel e transformem sua luta terrorista numa batalha por direitos humanos. Assim vocês terão o povo americano comendo na sua mão”.

Adotando a estratégia, a OLP passou a lançar sobre Israel a pecha de potência imperial, conseguindo tingir o seu projeto genocida com as belas tintas da luta pela libertação nacional do povo palestino. O problema em toda essa ofensiva propagandística era um só, e Arafat sabia-o muito bem: jamais houvera um “povo palestino”, uma “nação palestina”, ou qualquer unidade territorial que se pudesse chamar de Palestina histórica.

A primeira versão da constituição da OLP, de 1964, por exemplo, dizia expressamente em seu artigo 24: “Esta organização não exerce soberania regional sobre a margem ocidental do reino hassemita da Jordânia, sobre a Faixa de Gaza ou sobre a região de Himmah”. Ou seja, para Arafat, antes da Guerra dos Seis Dias, “Palestina” significava Israel. Não incluía, por exemplo, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Foi somente em resposta à derrota na guerra que a OLP reviu sua constituição e, na nova versão lançada em 1968, eliminou o conteúdo do artigo 24. A organização agora passava a alegar a soberania “palestina” sobre Gaza e a Cisjordânia

Em 31 de março de 1977, numa entrevista a um jornal holandês, Zuehir Mohsen, então líder da As-Sa’iqa (facção política e militar palestina ba’athista criada e controlada pela Síria) deu com a língua nos dentes: “O povo palestino não existe. A criação de um Estado palestino é apenas um meio de continuarmos nossa luta contra Israel e pela unidade árabe... Apenas por razões táticas e políticas falamos hoje sobre a existência de um povo palestino... Por razões táticas, a Jordânia, um estado soberano com fronteiras definidas, não pode requerer o controle de Haifa e Jaffa. Mas, enquanto ‘palestino’, posso demandar Haifa, Jaffa, Beer-Sheva e Jerusalém” (em: James Dorsey, Zoehair Mohsen vertrouwt alleen op Syrie: “Wij zijn alleen Palestijn om politieke reden”, Trouw, 31 de março de 1977, p. 7).

Como informa Alan Hart, biógrafo de Arafat, o próprio líder da OLP afirmou certa vez que “o povo palestino não possui uma identidade nacional. Eu, Yasser Arafat, homem de destino, lhe darei essa identidade por meio do conflito com Israel”.

O plano de Arafat e da OLP foi bem-sucedido. Com uma rapidez impressionante (facilitada, decerto, por uma cultura antissemita difusa e persistente), conseguiram difundir a ficção da “Palestina histórica”, pretensa vítima de uma agressão imperialista promovida por sionistas. Se a farsa foi capaz de enganar até mesmo pretensos “especialistas” em Oriente Médio (especialmente os midiáticos), compreende-se que excite as emoções pueris e manipuláveis de idiotas como Roger Waters.

We don’t need no education”. Yes, dumbass, you need a lot of it.

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