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A jornalista Vera Magalhães durante o 6.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação.
A jornalista Vera Magalhães durante o 6.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação.| Foto: Facebook/página oficial

Quando da eleição de Biden, em novembro de 2020, a jornalista Vera Magalhães tuitou em sequência dizendo: “O que até aqui está longe das tentativas (muitas vãs) de ler os mapas é o seguinte: há um contingente muito maior do que o apontado por todos nós, analistas, de gente chancelando a presidência de Trump, inclusive estados devastados pela pandemia. Isso é muito sério. Não adianta se fiar numa eventual vitória de Biden por pequena margem. Se previu uma eleição ‘histórica’ em defesa das instituições, das minorias, da ciência, da imprensa (sim, a imprensa). Isso até aqui não foi visto. E isso nos manda um recado muito eloquente”.

Retuitei, comentando: “Esse recado vem sendo dado há anos, tão eloquente quanto, mas duvido jornalistas como Vera lhe deem valor mesmo agora. Ontem mesmo ela tuitava que a Pensilvânia teria de ‘salvar o mundo’. Ou começa a respeitar de fato quem pensa diferente ou seguirá sendo parte da doença”. Ao que ela me replicou: “Continuo esperando que salve. Ainda acho que a vitória do Trump é um mal para o mundo. Como disse, ontem era um tuíte de ‘torcida’. E agora estou analisando um resultado que não é aquele pelo qual eu ‘torcia’. Não mudou nada”. No que finalizei: “Exato, não mudou nada”.

Vera Magalhães e tantos outros jornalistas de renome e supostos especialistas em política têm vivido numa “bolha” há bastante tempo, ficando espantados quando descobrem que a realidade é outra

E não mudou mesmo. Vera e tantos outros jornalistas de renome e supostos especialistas em política têm vivido numa “bolha” há bastante tempo, ficando espantados quando descobrem que a realidade é outra. Nesta semana, tal como na eleição de Biden, ela foi surpreendida pelo resultado do primeiro turno que confirmou o crescimento da direita, algo que ela considera assustador, como disse em comentário num programa de rádio, ao constatar que o PL elegeu quase duas vezes mais deputados agora do que o PSL havia feito em 2018: “é imensamente maior do que o radar de qualquer um de nós conseguiu captar”.

Cito a jornalista aqui apenas como exemplo, não é nada contra ela em particular; seria possível coletar falas assim de inúmeros outros da chamada grande imprensa que se tornaram, na prática, um partido de oposição ao atual governo. É tão escancarado que trabalham por uma agenda, não para noticiar fatos, que tampouco enxergam como perderam relevância, tanto que mesmo depois de anos “batendo” no atual presidente são obrigados a reconhecer que influenciam muito menos do que imaginam.

Se o tal radar estivesse ajustado à realidade, teriam captado, sim, que a direita poderia crescer, como cresceu. É bem evidente, há anos, que o que levou à vitória de Bolsonaro em 2018 não foi um “delírio coletivo”. A direita passou décadas não sendo representada politicamente, tendo de apoiar falsificações representativas como o PSDB, que, justo porque agora essa direita encontrou meios de se ver representada de fato, ainda que longe do ideal, foi praticamente dizimado nas urnas.

Não tenho esperança de que esse radar seja consertado no curto prazo, nem no médio. Se é que um dia será. Enquanto isso, resta seguir documentando os tempos que vivemos para que no futuro saibam que nem todos os radares estavam tão desregulados ou limitados assim. Até será possível escutar alguns de nós cantarolando da janela lateral, aquela famosa do Clube da Esquina (cujo disco, aliás, faz 50 anos em 2022), não sem se divertir: “Conheci os homens e os seus velórios / Quando olhava da janela lateral do quarto de dormir / Você não quer acreditar / Mas isso é tão normal... / Você não quer acreditar / Mas isso é tão normal...”

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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