• Carregando...
OLAVODECARVALHO6RB/ CADERNO G/ CURITIBA, 15/06/2004./ O FILOSOFO OLAVO DE CARVALHO DURANTE ENTREVISTA EM SUA CASA EM CURITIBA./ FOTO: RODOLFO BUHRER/GAZETA DO POVO.
OLAVODECARVALHO6RB/ CADERNO G/ CURITIBA, 15/06/2004./ O FILOSOFO OLAVO DE CARVALHO DURANTE ENTREVISTA EM SUA CASA EM CURITIBA./ FOTO: RODOLFO BUHRER/GAZETA DO POVO.| Foto: GAZETA

Filosofava construindo um castelo de areia com meu caçula na beira da praia. Não eram as férias como castelos de areia? Não eram as conquistas todas da vida, derrotas também, como castelos de areia? Não era a existência, no fim das contas, um castelo de areia?

Ah, as analogias óbvias, os clichês todos… Culpei o barulho estupidificante da “hora da aeróbica” vindo das estruturas praieiras erguidas por redes de tevê na orla de Caiobá, Litoral do Paraná. Um carrinho de chope com o barril em formato de tanque de gasolina de desenho animado passou. Problema resolvido.

E, sentado na cadeira de praia a observar o caçula brincando no mar, fiquei a pensar no que escreveria na coluna da semana. Nesta. O castelo de areia seguia ali, circundado de água, não de todo desfeito. Não seria aquele castelo como minha criatividade? OK, parei.

Soube da existência de Olavo em 1998, meu último ano de faculdade, quando arrisquei comprar O Imbecil Coletivo e aquilo foi um divisor de águas na minha formação. Divisão entre o nada e alguma coisa.

No dia seguinte, mal acordei, a maldita mania de conferir o celular. Olavo morreu. Olavo morreu? Olavo morreu. Levei vários minutos sentado na cama, lendo sobre, a mente parada, com a memória me alagando como a água do mar ao castelo de areia.

Não conheci Olavo pessoalmente e só falei diretamente com ele, e por breve tempo, uma única vez, por telefone, daqueles de antigamente, chamados “fixos” – tão fixos quanto, bem, você sabe o quê. Mas acho que obtive dele o melhor que poderia obter, ainda assim.

Soube de sua existência em 1998, meu último ano de faculdade, quando arrisquei comprar O Imbecil Coletivo e aquilo foi um divisor de águas na minha formação. Divisão entre o nada e alguma coisa. Dali em diante li tudo o que encontrava do que havia produzido: artigos de jornal, apostilas de aulas, livros. Fiz alguns cursos online, frequentei o Curso Online de Filosofia (COF) por alguns anos e fui atrás de um sem-número de autores e obras por ele citadas ou indicadas.

O que aprendi com Olavo? Muita coisa. Mas nada comparado ao mais importante, que começou naquele dia lendo aquele livro em 1998 e jamais se apagou. George Steiner, outro gigante que virou areia há pouco tempo, em seu Lições dos Mestres (leiam, leiam), ajuda-me a colocar em palavras: “Em termos estatísticos, o antiensino aproxima-se da norma. Bons professores, incendiários das almas nascentes de seus alunos, podem ser mais raros do que artistas virtuosos ou que sábios”.

Olavo era um desses incendiários de almas, um desses raros. O que explica mais do que se imagina, como, por exemplo, tanto a idolatria quanto a demonização de sua figura. É impossível se manter “morno” em relação a ele. Mas deixemos esses castelos de areia ao sabor dos ventos das certezas inseguras e das ondas cheias de razão do mar. Fiquemos com o mais importante.

Olavo era um bom professor de verdade, ainda que por vias tortas, sem ser doutor de nada, sem nem ter diploma de graduação

O mesmo Steiner ensina: “A educação é simplesmente nossa capacidade, nossa disponibilidade de nos voltarmos para Ele”. Foi graças ao que começou com Olavo que me fez reaproximar de Jesus Cristo. E por isso serei eternamente grato a ele. E não fui o único. O psiquiatra Ítalo Marsili, dos mais famosos alunos de Olavo, coletou em poucos dias depois da morte mais de 5 mil depoimentos de convertidos a Cristo através do incendiário de almas.

Isso faz de Olavo um santo? É claro que não, isso são outros quinhentos. O importante aqui é: você já conheceu alguém que, sendo tão controverso em tantas coisas, cheio de defeitos, alguns bastante óbvios, conseguiu aproximar tanta gente d’Ele? Pois é. Por isso Olavo era um bom professor de verdade, ainda que por vias tortas, sem ser doutor de nada, sem nem ter diploma de graduação. Vias tortas que, no fim das contas, nada mais são do que os castelos de areia de Deus.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]