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“Porque a promessa é para vocês e para os seus filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar.” (At 2,39).
“Quanto a você, meu filho, fortifique-se na graça que há em Cristo Jesus.” (2Tm 2,1).
Queridos irmãos e irmãs, pais e familiares de Jonathan Jefferson, hoje nos reunimos para celebrar o batismo deste precioso menino, um ato sagrado que marca sua entrada na aliança de Deus com seu povo. Inspirados pelas reflexões de Dietrich Bonhoeffer em Discipulado e Resistência e submissão, somos convidados a refletir sobre o significado profundo deste momento, não apenas como um rito, mas como um chamado à graça preciosa de Deus e ao discipulado radical. Além disso, olhamos para o futuro de Jonathan Jefferson, ou JJ, orando para que ele cresça em uma fé autêntica, marcada pelo autoexame, pela regeneração e pela confiança exclusiva em Jesus Cristo.
A seriedade do batismo
Em Discipulado, Dietrich Bonhoeffer nos lembra que o batismo não é um ritual vazio ou uma formalidade cultural. Ele escreve: “O batismo não é um oferecimento que nós fazemos a Deus, mas um presente que Deus nos dá”. Para Bonhoeffer, o batismo é a porta de entrada para a vida cristã, um momento em que Deus, por sua graça soberana, toma o batizando em suas mãos e o incorpora ao corpo de Cristo, a Igreja. Este ato é profundamente sério porque não é apenas um símbolo, mas um selo da aliança divina, uma promessa de que o batizando pertence a Deus, chamado para viver para sua glória.
Bonhoeffer rejeita veementemente a “graça barata”, que ele descreve como “a graça que não exige nada, que não custa nada, que não transforma”. No batismo de JJ, somos confrontados com a graça preciosa, que custou a vida de Cristo na cruz. Este é o preço pago para que JJ fosse incluído na aliança. Como pais, vocês, Jefferson e Beatriz, são chamados a ensinar a JJ que sua inclusão na família de Deus não é uma garantia automática de salvação, mas um convite para responder ao chamado de Cristo com obediência e fé. O batismo é o início de uma jornada, não o fim; é o primeiro passo de uma vida de discipulado.
Para Dietrich Bonhoeffer, o batismo não é um ritual vazio ou uma formalidade cultural, mas a porta de entrada para a vida cristã
Na tradição reformada proclama-se que o batizando é marcado pelo Espírito Santo, selado na aliança de Deus. Mas essa aliança exige resposta. Bonhoeffer nos ensina que o batismo é um chamado para morrer com Cristo e viver para ele (Rm 6,3-4). Para JJ, ainda tão pequeno, isso significa que sua vida está agora vinculada à cruz de Cristo, e todos nós, como sua comunidade de fé, temos a responsabilidade de guiá-lo para compreender e abraçar esse chamado.
O chamado ao discipulado radical
Bonhoeffer, em Discipulado, enfatiza que seguir a Cristo é um compromisso radical. Ele escreve: “Quando Cristo chama um homem, ele o chama para vir e morrer”. Para JJ, o batismo é o início desse chamado, mesmo que ele ainda não possa compreender. Como família e Igreja, nosso papel é criar um ambiente onde JJ possa crescer conhecendo a seriedade desse convite. Bonhoeffer nos desafia a viver um cristianismo autêntico, que não se conforma com o mundo, mas que busca a vontade de Deus em todas as coisas.
Em maio de 1944, enquanto preso na prisão de Tegel, Dietrich Bonhoeffer escreveu um sermão para o batismo de seu sobrinho, Dietrich Wilhelm Rüdiger Bethge, filho de sua sobrinha Renate e de seu grande amigo, Eberhard Bethge. Publicado na coletânea Resistência e submissão, o sermão reflete sobre a vivência da fé em um “mundo que se tornou adulto”, onde os valores cristãos são frequentemente desafiados ou ignorados, especialmente sob a opressão do regime nacional-socialista e as incertezas da guerra. Para JJ, que cresce em um mundo igualmente complexo, com suas próprias crises e tentações, o discipulado exigirá coragem e fidelidade. Ele precisará aprender, como Bonhoeffer ensina, que seguir a Cristo significa renunciar ao egoísmo, ao orgulho e às seduções do mundo, para viver uma vida centrada em Jesus.
Como Igreja, prometemos hoje apoiar JJ nessa jornada. Isso significa ensiná-lo a ler as Escrituras, a orar, a amar o próximo e a buscar a santidade. Significa mostrar a ele, por meio de nossas vidas, que o discipulado não é uma opção, mas o cerne da vida cristã. Bonhoeffer nos lembra que o batismo nos une ao corpo de Cristo, e é na comunidade da Igreja que JJ encontrará força para viver esse chamado.
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A necessidade do autoexame e da regeneração
Embora o batismo marque a entrada do batizando na aliança, Bonhoeffer nos alerta que a fé autêntica exige mais do que um rito externo. Em Discipulado, ele enfatiza que a graça de Deus, embora oferecida livre e gratuitamente, requer uma resposta pessoal. Para JJ, isso significa que, ao crescer, ele precisará praticar o autoexame para confirmar que sua fé é genuína, que ele foi regenerado pelo Espírito Santo e que sua confiança está exclusivamente em Jesus Cristo.
O autoexame, no sentido cristão, é um processo humilde de buscar a Deus e avaliar a própria vida à luz da Escritura Sagrada. Paulo exorta: “Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem a si mesmos” (2Co 13,5). Para JJ, isso significará, no futuro, perguntar: “Minha fé está fundamentada em Jesus somente? Estou vivendo de acordo com o chamado do batismo? Meu coração foi transformado pelo Espírito?” Bonhoeffer, em suas cartas da prisão, fala de um cristianismo que não depende de rituais ou tradições, mas de uma relação viva com Cristo. Ele escreve: “Não é a religiosidade que nos torna cristãos, mas o sofrimento de Cristo que nos toma”.
A regeneração, ou novo nascimento, é a obra do Espírito Santo que transforma o coração e produz frutos de fé, amor e obediência. JJ, como todos nós, precisará buscar sinais dessa regeneração em sua vida. Isso pode incluir um desejo crescente de conhecer a Deus, um amor pela outros que reflete o amor de Cristo, e uma disposição de carregar sua cruz, como Bonhoeffer descreve. Jefferson e Beatriz, ensinem JJ a orar por um coração renovado, a confessar seus pecados e a confiar na graça de Deus, que nunca falha.
A fé somente em Jesus é o cerne do evangelho ensinado na Escritura. Em um mundo cheio de distrações e falsos salvadores, JJ precisará aprender que sua salvação não vem de seus esforços, de sua bondade ou de qualquer outra fonte, mas somente de Cristo. Como Bonhoeffer escreveu em Discipulado: “A graça é cara porque é a graça de Deus em Jesus Cristo”. Jefferson e Beatriz, ensinem JJ a descansar na obra consumada de Cristo, mas também a responder a essa graça com uma vida de obediência e amor.
A graça de Deus, embora oferecida livre e gratuitamente, requer uma resposta pessoal
Um futuro de esperança e responsabilidade
Hoje, quando Jonathan Jefferson é batizado, olhamos para o futuro com esperança. Bonhoeffer, mesmo na prisão, escreveu com esperança para seu sobrinho, sabendo que a graça de Deus é maior que qualquer crise política ou guerra. Para JJ, oramos para que ele cresça em um mundo onde possa viver sua fé com coragem, como Bonhoeffer viveu. Oramos para que ele seja um discípulo fiel, que pratique o autoexame, que busque a regeneração do Espírito e que confie somente em Jesus.
Pais e Igreja, o compromisso de hoje é claro: guiem JJ no caminho do discipulado. Ensinem-no a amar a Palavra de Deus, a viver em comunidade e a enfrentar os desafios do mundo com a força que vem de Cristo. Que ele cresça sabendo que seu batismo é um lembrete constante de que ele pertence a Deus, chamado para uma vida de propósito e fidelidade.
Que a graça preciosa de Deus, que hoje sela JJ na aliança, o acompanhe todos os dias de sua vida. Que ele venha a conhecer e amar a Cristo, vivendo como um discípulo verdadeiro, para a glória de Deus. Amém.
(JJ foi batizado pelo reverendo Jeferson Alvarenga, com um mês de idade, em 6 de junho, na Igreja Presbiteriana Aquarius, em São José dos Campos-SP.)
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos




