Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Gabriel Sestrem

Gabriel Sestrem

Paternidade

Novos dados sobre suicídio na adolescência trazem alerta. O que os pais podem fazer?

Adolescência pais
Estudo da Sociedade Brasileira de Pediatria mostra que a cada 10 minutos um adolescente tenta tirar a própria vida no Brasil (Foto: Freepik)

Ouça este conteúdo

Na última semana, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou um dado incômodo a qualquer pai ou mãe: a cada 10 minutos, um adolescente tenta tirar a própria vida no Brasil. O presidente da SBP destacou que há chance de subnotificação, ou seja, os números podem ser ainda maiores.

A adolescência é o período mais temido para a maioria dos pais: é uma fase de construção da identidade em que a combinação de maior sensibilidade emocional, necessidade de pertencimento e busca de independência faz com que os filhos muitas vezes se afastem dos pais na busca pela autonomia.

O que muitos pais e mães parecem ignorar é que essa mudança de comportamento é perfeitamente normal. O afastamento faz parte do processo de transição para a vida adulta. É aí que eles vão desenvolver autoconfiança e a capacidade de resolver os próprios problemas e tomar decisões por conta própria.

Mas há um ponto crucial que normalmente é ignorado: mesmo aparentando autossuficiência, o adolescente ainda precisa – e muito – do amor e do afeto dos pais, ainda que normalmente rejeite esse afeto na forma que era dado na infância.

Muitos pais se “armam” quando percebem afastamento, frieza ou mesmo alguma rispidez e passam a levar a coisa para o lado pessoal. “Se ele não quer minha presença, então vou me afastar também”. E é aí que mora o perigo.

A adolescência não dura para sempre e logo vai passar. Mas o que você faz agora (ou deixa de fazer) gera um impacto tremendo na forma como seu filho vai passar por essa fase e chegar à vida adulta.

Eles precisam ainda mais de você, mas não da forma que funcionou até hoje

Você deve lembrar o caos que foram os primeiros meses da vida do seu (ou dos seus) filho. Apesar das noites mal dormidas e de todo o desgaste, nessa época os pais praticamente não veem nenhum “retorno”. O bebê ainda não retribui com sorrisos, não brinca, não faz aquele monte de coisas engraçadas, não sabe dizer “obrigado” ou “eu te amo”, nem nada do tipo.

Os pais passam por um tempo em que precisam amar profundamente sem esperar nada em troca. E esse amor acontece essencialmente sob a forma do cuidado. Ter filhos adolescentes obriga os pais a reviver esse amor que não depende de retorno, e isso pode ser desafiador para alguns.

O fato é que somos egoístas por natureza, e em todo relacionamento inevitavelmente buscamos algo em troca, até mesmo com os filhos. Damos amor, mas esperamos receber de volta esse amor, e na adolescência isso pode complicar um pouco.

É um momento em que você vai ver mais portas fechadas do que abertas, em que tudo o que fazia e que parecia encantar, agora não tem graça. Seu filho começa a se deslumbrar com o mundo lá fora, e aquele super-herói que você foi um dia parece ter ficado guardado no fundo de uma gaveta.

Mas, de novo, isso passa. E tudo o que tiver sido plantado na infância e na adolescência, você e seu filho vão colher lá na frente. O problema é arrancar a planta com tudo na hora da raiva e da frustração. Muitos pais perdem o relacionamento com os filhos na adolescência justamente por não conseguirem se adaptar a essa fase.

Mas entenda que é nesses anos que eles mais precisam de você, só que não da forma que funcionou até aqui.

Família, vínculos e aceitação são o melhor remédio contra ideações suicidas

Pais que tentam se aproximar, mas encontram resistência, irritação ou agressividade, precisam fazer apenas uma coisa: continuar tentando, e às vezes rever a estratégia.

O adolescente vive um turbilhão de sentimentos porque está no meio de um processo de mudança biológica, psicológica e social. Ele sente as emoções de forma mais intensa e há uma forte necessidade de pertencimento e aceitação social, o que faz com que críticas e rejeições tenham um peso maior. Tudo o que precisa encontrar na família é vínculo e aceitação.

Uma série de estudos científicos como este mostram que a conexão familiar é o principal fator de proteção contra ideações suicidas em adolescentes. E olhe que interessante, estamos num momento em que ativistas desequilibrados dizem coisas totalmente sem sentido, como “a família é a base do fascismo” e “precisa de implosão”, como mostramos esses dias aqui na Gazeta.

São pessoas influentes. Podem estar nos canais que seu filho acompanha nas redes sociais, podem estar dentro da escola, nos ambientes que ele pode querer frequentar. E não há mágica para fazê-los parar de gerar essa influência nociva.

O que é possível é continuar amando profundamente seu filho mesmo quando ele parecer não precisar ou nem mesmo desejar ser amado. Essa é a expressão mais genuína de família e o melhor remédio contra influências perversas.

VEJA TAMBÉM:

O problema da adolescência não se resume a suicídio

Um adolescente que tira a própria vida chegou a um completo extremo. Mas é possível que muitos deles passem anos no limite sem ter com quem se abrir. E você precisa estar lá, mas não para forçar uma conversa em forma de interrogatório.

Estar lá todos os dias disciplinando e estabelecendo limites sim, mas também persistindo no amor e evitando responder com descontrole e ira. É isso que vai fazer com que quando ele precisar, saiba que você está disponível para conversar e ajudar.

Lembre-se de que você já foi adolescente e precisou do seu espaço e do seu tempo. Não leve as coisas para o lado pessoal. Acredite: eles ouvem, mesmo que não demonstrem, e estão registrando tudo. A adolescência é uma prova e tanto para toda a família – é nela que pais descobrem até onde vai seu amor pelos filhos.

Volto a dizer: o amor dos pais é o maior fator protetor contra a solidão e o desespero próprios da adolescência. Não pense que essas “inadequações” vão durar para sempre. Demonstre amor, eduque bem e espere pelos frutos.  

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.