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Gabriel Sestrem

Gabriel Sestrem

Conservadorismo e paternidade

O maior desafio do pai conservador: criar filhos em um mundo de extremismos

Como um pai conservador deve agir em um mundo dominado pelo radicalismo? (Foto: Freepik) (Foto: )

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Um dos grandes desafios para as famílias conservadoras atualmente é criar seus filhos “à moda antiga”, como hoje se costuma dizer. Ou seja, criar meninos como meninos e meninas como meninas. Isso já é uma completa “rebeldia” em um mundo dominado por um pensamento radicalizado, de origem feminista, que nega a existência de distinções biológicas entre homens e mulheres.

Mas esse “à moda antiga” não significa que absolutamente tudo o que era feito anos atrás era bom.

Se vemos o conservadorismo como uma perspectiva que busca manter estruturas sociais que se provaram estáveis e funcionais ao longo do tempo, frequentemente se alinhando a princípios cristãos, é natural que também sejamos questionadores sobre aquilo que não está funcionando bem.

Há alguns anos o modelo clássico de pai conservador era o de um homem severo demais, que chegava em casa do trabalho e não falava com ninguém. Sentava no sofá pra assistir TV e não permitia ser incomodado. Frequentemente era provedor e protetor, mas raramente demonstrava afeto –  muitas vezes o único contato físico com os filhos era a surra.

Esse modelo de pai demonstrou ser falho. Hoje há vasta pesquisa científica que comprova a gigantesca relevância paterna para o desenvolvimento socioemocional das crianças, e o quanto negligenciar a ligação afetiva prejudica esse processo.

Como conservadores, nossa busca deveria ser preservar apenas o que se mostra benéfico ao longo do tempo. Então por que insistimos no erro apenas por se tratar de algo que se sustentou por algum tempo?

O tipo de influência que um pai transmite

Provavelmente você, que lê a esta coluna na Gazeta do Povo, seja conservador. Então não vê dificuldades em compreender que homens e mulheres têm estruturas hormonais e psíquicas distintas que resultam em comportamentos diferentes. 

Por exemplo: níveis mais altos de testosterona nos homens estão associados a maior propensão à competitividade, busca por liderança e até agressividade. Já as mulheres, com composições hormonais diferentes, costumam apresentar comportamentos mais orientados à empatia, à cooperação e ao cuidado. 

Quando falamos em criação de filhos, o aprendizado sobre os papéis diferentes e complementares do homem e da mulher, do pai e da mãe, é bastante natural. Crianças aprendem primeiro pela observação, depois pela imitação. Ou seja, basta que os pais estejam por perto para naturalmente transmitir comportamentos, valores e atitudes.

Mas a pergunta é: com alguma frequência paramos para questionar se o que estamos transmitindo é realmente bom?

O risco que há ao nos rotularmos como o que quer que seja é que caímos na tentação de nos enxergar como moralmente superiores e imunes a falhas. E esse é o caminho mais fácil para entrar em um atoleiro de erros que prejudicam principalmente quem depende de nós.

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Do feminismo radical ao “conservador raiz”

Há anos o feminismo radicalizado impregnou-se na grande imprensa e na indústria cultural quase como um todo, e hoje exerce o monopólio do pensamento. Daí provêm diversas injustiças – uma das mais cruéis é a rotulação de “masculinidade tóxica” a uma lista infinita de comportamentos tipicamente masculinos – e não por isso errados ou imorais.

Por outro lado, não se pode negar que há condutas negativas que, na visão de muitos conservadores, trata-se de um “conservadorismo raiz”.

Um exemplo: em oposição ao radicalismo feminista surgiu uma visão igualmente distorcida que crê que homens são seres superiores às mulheres. Hoje influenciadores malucos têm ganhado milhões de likes mostrando vídeos de homens “lacrando” em cima de mulheres. Os seguidores vibram como se fosse um gol, em um clima de “nós contra eles” – ou contra elas, no caso.

Mas essa divisão de classes vem de qual viés político mesmo?

A verdade é que a maioria daqueles que abraçam a ferro e fogo essas correntes extremas, e que criam divisões acaloradas na sociedade, são pessoas com as vidas destruídas. Mesmo assim, querem levar sua doutrina doentia para prejudicar tantos outros.

A feminista radical acha que homens são desnecessários, e no seu conto de fadas acredita (ou diz acreditar) que é possível haver um mundo apenas de mulheres. Afinal, as mulheres é que sabem pensar, comunicar e liderar. Os homens, por outro lado, são seres maus, ignorantes e descartáveis. Os únicos que prestam são os ultrassensíveis, de baixa testosterona e que aceitam docilmente sua agenda.

Do outro lado surge o “conservador raiz”, que pensa que é superior pelo simples fato de ser homem, mas não dá atenção para os filhos porque “isso é coisa de mulher”. Mesmo que sua esposa também trabalhe, não ajuda nas tarefas de casa porque, afinal, também “é coisa de mulher”.

É reativo, não leva nenhum desaforo para casa e por isso se envolve em todo tipo de confusão, por mais desnecessária que seja. É pai e tem esposa, mas vive à base de pornografia e papinho com outras mulheres.

Onde foi que aprendemos que muito daquilo que realmente edifica uma família não é coisa de homem?

Eu quero que meu filho seja um homem de verdade – que aja e fale como um homem, seja protetor e provedor. Que no futuro seja um excelente pai e marido, e que cuide da sua família independente do preço que isso custar. Que rejeite as ideologias nocivas e saiba defender seus valores e posicionamentos.

Mas que também saiba olhar para si com humildade, corrigir os rumos e entender que nem tudo o que “sempre foi feito assim” é bom. Desejo, por fim, que ele seja um conservador ao fugir dos extremismos da moda, mas que também tenha a sabedoria de deixar para trás o que não funciona mais.

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