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Gabriel Sestrem

Gabriel Sestrem

Abertura emocional

O desafio dos homens que o feminismo adora apontar, mas não é capaz de solucionar

Homens não precisam sofrer sozinhos | Masculinidade
Homens sofrem, mas raramente falam sobre isso. Enfrentar sozinho as lutas do dia a dia pode ser uma tarefa desgastante e inviável (Foto: Freepik)

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Uma das várias distorções pregadas há anos pelo feminismo radical que mais me preocupa como pai é a negação das distinções biológicas dos sexos. Homens e mulheres têm estruturas hormonais e psíquicas distintas que, logicamente, resultam em diferenças comportamentais.

Por exemplo: os níveis mais altos de testosterona nos homens estão associados a maior propensão à competitividade, tomada de riscos e até mesmo agressividade, enquanto as mulheres, com composições hormonais diferentes, podem apresentar comportamentos mais orientados à empatia e cooperação. 

Ignorar essas diferenças pode levar a uma expectativa irreal de que homens deveriam se comportar igual mulheres, o que traz consequências desastrosas primeiro ao próprio homem, que passa a ver sua identidade de forma cada vez mais nebulosa e vazia, mas também às esposas e aos filhos desses homens. 

Pode-se dizer que o feminismo tem colocado em evidência um problema: homens, via de regra, podem ser mais agressivos e menos empáticos. Isso não é nenhuma novidade, mas é algo que se torna prejudicial quando não se desenvolve a capacidade de lidar bem com as emoções.

Mas essa realidade biológica está muito longe de significar que homens sejam monstros indomáveis e hiper violentos, incapazes de conviver em sociedade. Por outro lado, temos maiores chances de enfrentar desafios ao lidar com questões importantes, sendo a abertura emocional uma dos principais.

De qualquer maneira, a clássica tática de apontar o dedo para os homens com um discurso agressivo e polarizador não ajuda em nada a mudar esse cenário.

Homens sofrem, mas raramente falam sobre isso

Diferente do que muitos de nós tentamos transparecer, homens sofrem, mas normalmente calados e sozinhos. Buscamos a autossuficiência e tentamos resolver nossos problemas sozinhos na maioria das vezes – se possível, sempre. Infelizmente pedir ajuda costuma ser visto como um sinal de fraqueza.

Não custa reforçar: esse anseio por força, poder e independência está ligado a questões hormonais, portanto não se trata de um aspecto meramente cultural, ou de uma “construção social”, como alardeiam alguns. 

O problema é que tentar ser totalmente racional e autossuficiente a todo tempo e não ter ninguém para conversar sobre as próprias lutas cobra seu preço. Quando falamos de abertura emocional, homens sofrem muito mais do que as mulheres, e as consequências podem ser danosas. Veja esses dados:

  • Homens têm expectativa de vida de sete anos a menos do que as mulheres ¹; 
  • Cometem suicídio quase quatro vezes mais do que mulheres ²; 
  • Representam 95% da população prisional do Brasil, sendo a maior parte dos encarcerados homens com ausência de figura paterna ³; 
  • Apenas 30% sentem-se à vontade para conversar com amigos sobre seus problemas, medos e dúvidas⁴; 
  • Só 1 a cada 10 já conversou com seu pai sobre o que significa ser homem⁴; 
  • Apenas 2 a cada 10 dizem ter tido exemplos práticos de como lidar com as emoções⁴. 

Ser responsável, ter disciplina, saber lidar com problemas, ser capaz de prover e proteger a si e aos que estão sob sua responsabilidade são características valiosas para nós, homens. Mas é no mínimo injusto crer que nunca vamos precisar de suporte ao lidar com desafios e problemas complexos, para os quais não temos conhecimentos ou recursos suficientes para resolver.

Não há nada errado em ser durão, mas ter o hábito de abrir o jogo com alguém maduro e confiável quando for necessário é essencial para manter o equilíbrio das emoções. E não é preciso fazer isso chorando ou se vitimizando. É perfeitamente possível ter uma conversa madura de homem para homem.

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O poder de uma conversa sem máscaras

O fator mais importante para desenvolver inteligência emocional é a capacidade de expressar verbalmente os sentimentos. Embora muitos de nós minimizem essa importância, a maioria dos homens que não teve o privilégio de um bom relacionamento com o pai entende o quanto faria diferença ter tido uma figura paterna que sentasse ao lado para conversar abertamente sobre a vida e seus desafios. E é uma missão muito nobre ser para os nossos filhos o pai que não tivemos.

Diferente do que alguns podem supor, ter alguém confiável para tirar a máscara e abrir o jogo sobre as lutas diárias não significa suprimir nenhuma característica intrínseca da masculinidade.

Essa simples prática contribui muito para desenvolver inteligência emocional, e investir nisso é o melhor caminho para sermos melhores pais, maridos, amigos, profissionais, etc. 

Se você se identifica com um perfil de menor abertura emocional, um bom primeiro passo é buscar apoio de um homem de confiança — de preferência alguém emocionalmente saudável, maduro e aberto ao diálogo. Se puder conversar com seu pai, melhor ainda. Mas também pode ser um amigo, parente ou até um colega de trabalho. Se você faz parte de uma igreja saudável, provavelmente encontrará alguém com esse perfil disposto a conversar.

Mas saiba que abrir o jogo significa, muitas vezes, expor vulnerabilidades, e pode ser preciso superar um desconforto inicial. O importante é focar nos benefícios dessa mudança. 

Lembre-se: você não está criando uma nova identidade nem abrindo mão do que tem de mais valioso. Está, na verdade, ampliando suas capacidades para se tornar o marido que sua esposa precisa, o filho que seus pais precisam, e o pai que seus filhos um dia agradecerão por ter tido.

¹ IBGE/2022 
² OMS/2019 
³ Senappen/2022 
⁴ Instituto PdH + Zooma Inc./2020 

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