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A internet “parou” nos últimos dias por causa de um vídeo publicado pelo influenciador Felca sobre “adultização infantil”. O documentário, que trouxe relatos sobre a exposição abusiva e frequentemente erotizada de crianças na internet, é um soco no estômago.
Com mais de 30 milhões de reproduções em menos de uma semana, o vídeo foi o assunto do dia por algum tempo e chegou até mesmo a pautar o Congresso Nacional.
Sinceramente acredito que a maioria dos pais que assistiram já têm noção de como é perigoso expor crianças na internet e criar os filhos sem limites e regras quanto ao uso do celular. São homens e mulheres comuns, iguais a você e eu, que tentam dia após dia serem pais melhores. Não são omissos, nem inescrupulosos – muito pelo contrário.
Mas se você faz parte desse grupo, pode achar que o vídeo do Felca só tem algo a ensinar para pais e mães irresponsáveis ou muito inexperientes. E aí há o risco de deixar passar uma oportunidade preciosa de aprendizado.
Talvez você não conheça seu filho tão bem quanto pensa
Uma das coisas que o vídeo do Felca pode ensinar é que muitos não conhecem seus filhos tão a fundo como pensam. Os pais e mães irresponsáveis citados no vídeo certamente não conhecem seus filhos, já que, como dito por Tomás de Aquino, só se ama aquilo que se conhece.
Pais que expõem deliberadamente seus filhos visando lucro não os amam e nunca se interessaram por realmente conhecê-los, pois se assim o fizessem saberiam o tamanho da ferida emocional que causam.
Mas e quanto a nós, que muitas vezes nos consideramos “pais suficientemente bons”... Será que somos superiores quando o assunto é conhecer a fundo nossos filhos?
A verdade é que dificilmente algum pai ou mãe dirá que não conhece seu filho o suficiente. E essa fé cega nas nossas suposições é o que frequentemente acaba com relacionamentos. Achamos que estamos acima da média e, por isso, nos isentamos de corrigir a rota e mudar comportamentos danosos.
A consequência disso: não perceber que pouco a pouco estamos condenando relacionamentos preciosos demais, e que às vezes o reparo do dano é inviável.
O “segredo” é simples: conversas com profundidade e com as perguntas certas
Uma vez que não existe amor sem conhecer o outro de verdade, igualmente não há conhecimento sem tempo passado juntos e, mais do que isso, sem ter conversas que fujam do trivial.
Há alguns dias, numa conversa com meu filho, de quatro anos, fiz a ele algumas perguntas: das coisas que eu e minha esposa fazíamos com ele, o que mais e menos gostava. E as respostas surpreenderam.
Eu sou muito brincalhão com o Vitor. Sempre estamos fazendo alguma brincadeira física – futebol, luta, corrida... E ele sempre se mostrou bastante animado com isso, então não tinha dúvida de que a resposta sobre o que mais gostava teria a ver com as brincadeiras. Por outro lado, sou firme quando é preciso. Logo, supunha que ele diria que o que menos gosta é das repreensões.
Nada disso. O Vitor disse que o que mais gostava era “quando o papai dá abraço”. Abraçar o meu filho é uma das coisas que mais me faz bem nessa vida. É ali que a minha bateria se recarrega. Mas ele nunca tinha dado sinais de que isso também era tão importante para ele.
A outra resposta também surpreendeu: o que ele menos gostava era a forma como eu o acordava. Normalmente deixamos ele dormir até o limite, mas aí as coisas ficam corridas e não dá tempo de ele acordar no ritmo dele, com calma, e isso o aborrecia.
Quanto à minha esposa, ele disse que o que mais gostava era quando ela deitava ao lado dele no sofá para assistir desenho, e o que menos gostava era quando ela desligava a TV que estava passando desenho (olha só!).
Essa simples conversa nos fez aprender coisas sobre ele que nunca saberíamos se não tivesse perguntado. Que a hora de acordar, por exemplo, é algo particularmente importante para ele, e que o toque físico (abraço do pai ou estar grudado na mãe) também, mesmo que ele não costume expressar isso no dia a dia.
Ter suposições em excesso e não fazer perguntas importantes para os filhos, ou para quaisquer pessoas importantes para nós é um caminho perigoso.
Na maioria das vezes é pela ausência de conversas com algum nível de profundidade e interesse genuíno que casamentos que tinham tudo para dar certo fracassam, que sócios de negócios promissores decidem ir cada um para um lado, que filhos passam a rejeitar os pais, que pais expulsam filhos de casa... Tudo por acreditar que sabemos demais, que conhecemos o suficiente.
É seu dever evitar que seu filho tenha o destino mostrado no documentário do Felca
A verdade é que pais comuns, como eu e você, estão longe de serem os vilões mostrados no vídeo do Felca, mas muitas vezes também não somos os super-heróis que nossos filhos esperam.
Podemos achar que somos maravilhosos porque não deixamos faltar nada em casa. Mas perceba que muitas das crianças que aparecem no vídeo sobre adultização não são pobres. O motivo pelo qual algumas permanecem se expondo desesperadamente a troco de alguns likes tem a ver justamente com a carência afetiva, com a falta de validação paterna.
É a falta daquele abraço que meu filho, com quatro anos, já sabia que era tão importante. Ou daquele tempo deitado no sofá ao lado da mãe, que ele escolheu como um dos seus preferidos.
O que o vídeo do Felca mostra, ao fim das contas, é um cenário de falta de amor dos pais para os filhos. Enquanto nós, meros pais comuns, acharmos que nada do que está lá tem a ver conosco, o risco de que nossos filhos vivam essa mesma história é real. Faça sua parte!
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