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Há alguns bons anos, quando eu nem era casado, um colega de trabalho me deu um conselho: “Se puder, não tenha filhos. Crianças dão muito trabalho, e o pior, geram um gasto tremendo. Tem até um dado de que até os 18 anos os pais gastam por volta de um milhão com um filho...”
Naquela época eu considerava ser pai no futuro, mas foi ali que fiquei com a pulga atrás da orelha. Comecei a perceber que muita gente pensava daquela forma, e os argumentos faziam certo sentido. Anos depois, eu e minha esposa também começamos a questionar se realmente deveríamos ter um filho.
Mas o tempo passou e recebi um novo conselho. Em uma conversa com um amigo de longa data que tinha uma filha pequena, seu tom foi o oposto: “Não deixe de ter filhos. É a melhor coisa desse mundo”.
Pois bem, tive meu primeiro filho, o Vitor. Logo que ele nasceu, confesso que não surgiu aquele amor imediato que as pessoas gostam de mostrar nas redes sociais. Minha esposa teve depressão pós-parto, meu filho demorou um ano e meio para começar a dormir razoavelmente bem, os gastos subiram bastante... E de lá para cá se passaram os três melhores anos da minha vida.
Aquele primeiro conselheiro não estava errado: criança dá trabalho mesmo e gera custos. O segundo também não: filhos são a melhor coisa desse mundo. A diferença é que um falava sobre paternidade sem ter filhos, enquanto o segundo já tinha experimentado a maravilha que é ser pai.
Hoje o Vitor tem três anos e meio. Esses dias alguém perguntou a ele quem era seu melhor amigo. "Meu papai", ele respondeu, com um sorrisão que já me levantou tantas e tantas vezes.
Tempo e presença são o principal
Há alguns dias ouvi um influenciador, o Edson Castro, contar uma história muito interessante. Seu pai trabalhava muito para sustentar a própria casa e a da sua mãe, e por conta disso praticamente não via o filho. Ainda pequeno, quando Edson acordava, o pai já tinha saído pra trabalhar. Perto da hora de dormir, ele chegava do trabalho, exausto. E assim se passou a maior parte da sua infância.
Mas um dia aquele pai ficou desempregado. “Um dos momentos mais difíceis da vida do meu pai foi um dos melhores momentos da minha infância”, contou Edson.
“Meu pai, enquanto esteve desempregado, me levava junto com ele ao centro de São Paulo e nos bairros nos arredores para distribuir currículos e procurar emprego. E nessas visitas, ele acabava me contando a história de São Paulo, me apresentava os lugares que tinha conhecido quando era office boy, me levava em museus, praças, parquinhos... Tudo isso enquanto procurava emprego”, continuou.
“E esse tempo que foi tão difícil para ele, foi um dos momentos da minha vida que mais passei próximo, que mais tive a atenção dele. Para mim era muito especial ter meu pai por perto”, disse.
Esse influenciador compreendia a relevância do papel provedor do pai e a dificuldade de ele estar desempregado, mas também havia entendido que o tempo e a presença são o que há de mais importante na criação de filhos.
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Homens e mulheres com filhos são mais prósperos financeiramente
Percebo que o medo de ter menos tempo disponível, mas principalmente de ter menos dinheiro são os principais motivos que fazem com que cada vez mais pessoas abandonem o desejo de serem pais e mães.
Dar aos filhos tudo o que não se teve na infância pode parecer quase impossível, mas a verdade é que uma criança não quer seu dinheiro: ela não está preocupada em estudar na melhor escola da cidade, nem em ter o último Iphone lançado, e muito menos um tênis para cada dia da semana.
Tudo o que ela quer é passar tempo com os pais, tendo 100% da sua atenção, muitas vezes brincando de coisas simples, que não custam nada. Aliás, pais que “só tem” dinheiro para dar facilmente criam filhos carentes de amor paterno, que possivelmente vão reproduzir o ciclo.
Sobre a questão financeira ainda tem um outro ponto: uma pesquisa recente com 28 mil homens e mulheres investidores concluiu que, entre os homens, o patrimônio daqueles que têm filhos é 33,8% maior na comparação com os que não têm. Entre as mulheres, o número impressiona mais: 56%.
Como explicar isso? Pode ser que quando nos tornamos pais, passamos a nos dedicar mais no trabalho, a ser mais disciplinados financeiramente, a pensar mais no futuro e, em especial, temos uma motivação extra para prover. A verdade é que ter filhos inevitavelmente traz custos, mas, como mostra a pesquisa, pais frequentemente são mais prósperos do que quem não tem filhos – e não descarto que haja algo de divino sobre isso.
Voltando ao primeiro conselho que recebi, hoje a cada dia que passo com o Vitor, cada noite que ele nos obriga a sair da cama porque está com febre ou dor de barriga, cada domingo que ele nos acorda às seis horas da manhã para brincar, eu vejo como foi bom ter recebido um segundo conselho.
E se eu puder lhe dar um, eu diria, parafraseando Mateus 6:33: tenha filhos e busque primeiro o que realmente importa — o amor, a presença, o tempo juntos — e todo o restante lhe será acrescentado.




