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Não é novidade que a fuga de cérebros para o exterior afeta a competitividade de uma nação no palco global.

Rodrigo Costa*

Êxodo de talentos

Fuga de cérebros do Brasil: um problema ainda sem solução

27/03/2023 13:06
Diante das projeções demográficas no mundo todo, um problema se avizinha para o Brasil: o êxodo de seus talentos. Não é novidade que a fuga de cérebros para o exterior afeta a competitividade de uma nação no palco global. É uma conta básica: saem brasileiros com grau avançado de educação e, consequentemente, o País perde todo um conjunto de conhecimento que aceleraria seu desenvolvimento e a redução das desigualdades.
Apenas para se ter uma ideia, de janeiro a dezembro de 2022, os EUA emitiram 1.884 vistos EB-1 e EB-2 para brasileiros – 216% a mais do que no mesmo período de 2021 e um dos maiores registros anuais de que se tem notícia. São vistos destinados a profissionais com habilidades extraordinárias, como pesquisadores, artistas, atletas, engenheiros, executivos de nível sênior, desenvolvedores, programadores, dentistas, enfermeiros, fisioterapeutas, contadores, pilotos de avião e profissionais de RH e marketing. A lista não acaba.
Para os EUA, é um grande negócio atrair toda essa gente, que poderão contribuir para o seu desenvolvimento científico, tecnológico e econômico. Mas a pergunta a ser feita é: por que essas pessoas estão saindo?
Em parte, é verdade, houve um aumento muito grande do acesso à educação superior nas últimas duas décadas. Se, em 2000, existiam 2,7 milhões de estudantes matriculados nas universidades brasileiras, esse número saltou para 8,6 milhões em 2019, de acordo com o Inep.
Mas isso apenas não explica o aumento na emissão dos vistos EB, que cresceu em ritmo proporcionalmente superior à quantidade de pessoas com diploma superior. Tem havido um movimento estrutural calcado também no maior acesso à informação e nas inacabáveis crises políticas e econômicas do Brasil.
Em 2019 e 2021, por exemplo, registrou-se as duas maiores quantidades anuais de green cards emitidos para brasileiros. O green card é o documento que garante ao estrangeiro o direito de viver e trabalhar permanentemente nos EUA. Também em 2021, cerca de 12 mil brasileiros se naturalizaram americanos – um recorde.
Pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que 47% dos jovens brasileiros pensam em deixar o País. São jovens que não conseguem encontrar emprego e, assim, ter uma renda capaz de sustentar a família e seus próprios sonhos. Desesperançosos, colocam na mente a ideia de ir embora. Estudam, graduam-se e pós-graduam-se e, assim que têm a oportunidade, decidem seguir com suas carreiras no exterior.
A ironia de tudo isso é que, inegavelmente, o Brasil tem todos os ingredientes para se tornar uma nação competitiva: gente inteligente, empresas capacitadas, ciência de ponta (ainda que isolada em ilhas de excelência), recursos naturais, economia aberta, acesso a mercados, dinheiro para comprar e desenvolver tecnologias, exemplos históricos de sucesso e uma marca admirada mundialmente. É preciso encontrar uma forma de manter o talento dentro de casa.
Pergunte, ainda, para qualquer recrutador de tecnologia: a dificuldade de contratar profissionais da área cresceu imensamente nos últimos anos. Afinal, os brasileiros têm sido disputados por empresas da Ásia, Europa e da América do Norte. Quando colocados diante da possibilidade de ganhar em dólar ou em real, por exemplo, não é difícil imaginar o que os programadores, desenvolvedores e analistas de TI do Brasil escolhem.
Por isso, é essencial que 2023 seja um ano de reflexão e planejamento de longo prazo para o Brasil. É preciso discutir como o país poderá ser um ator global relevante nas próximas décadas, diante das várias mudanças tecnológicas e geográficas que se avizinham. E isso passa, claro, pela melhora da economia e das condições sociais. Sem isso, não será possível manter os brasileiros dentro do Brasil para que eles sejam parte da construção de um país cada vez melhor.
*Por Rodrigo Costa, sócio fundador da AG Immigration.

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