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3 pontos sobre a Web 3.0 que vieram à tona durante o SXSW

Beatriz Bachert*

web 3.0

3 pontos sobre a Web 3.0 que vieram à tona durante o SXSW

06/04/2022 19:00
O SXSW 2022 já terminou, mas as tendências debatidas nos 10 dias de festival, devem continuar sendo pauta em nossas vidas pelos próximos 10 anos (ou mais). O South by Southwest é um dos maiores eventos de inovação, criatividade e cultura do mundo e, neste ano, um dos assuntos mais comentados foi a Web 3.0. Se você ainda está um pouco confuso sobre essa "nova era da internet" não se preocupe, você não está atrasado! Uma das conclusões do festival foi justamente que ainda temos um longo caminho a percorrer com a Web3 e agora é o momento ideal para entender e aprender sobre ela.
Neste artigo apresento 3 pontos sobre a web 3.0 que foram amplamente discutidos durante o SXSW. Mas antes, é importante entendermos o que foi a web 1, o que é a web 2, e aí sim, o que será a web 3. Na primeira versão da internet tínhamos um espaço de pouca troca e mais informações unilaterais. Swan Nit, empresária que ajuda marcas a migrar para a Web 3.0 e palestrante do SXSW, define como a era de fazer perguntas “Google o que é isso?". Já Web 2.0 é marcada pelo surgimento das redes sociais, espaços centralizados porém com informações e opiniões descentralizadas, a era do "o que você acha sobre isso?". Agora, na Web 3.0 veremos a descentralização por completo, nela teremos autonomia de nossas informações e relações "peer to peer" ou seja sem intermediários.

Descentralização, a chave da web 3.0

Descentralização é a palavra chave para entender a Web 3.0. A ideia é que, se na web 2.0 temos poucas grandes empresas centralizando informações e relações entre usuários (como o Facebook e Google) na nova era isso será feito "peer to peer". Ou seja, sem intermediários. As vantagens dessas relações P2P são inúmeras. Pense, por exemplo, para artistas que agora não dependem de um intermediário (uma galeria por exemplo) para vender sua arte digital. Hoje isso pode ser feito através de uma NFT (Token não fungível) que garante a autenticidade da obra e devido pagamento ao criador conforme sua obra é valorizada no mercado.
É aqui que entram também as tão comentadas criptomoedas, responsáveis por todas essas transações digitais, que prometem ser muito mais seguras que as atuais. A ideia é que cada uma dessas moedas seja independente e não ligada a nenhum tipo de banco ou instituição financeira. Assim, todas as transações realizadas por elas são diretamente entre o vendedor e comprador, sem a necessidade de um banco.
Há quem diga que toda essa 'história' descentralização é uma falácia. Scott Galloway, professor na Universidade de Nova Iorque (NYU) e futurologista, em sua palestra provocativa no SXSW comentou sua percepção sobre a web 3.0. “Nada contra os ultra ricos que estão concentrando este mercado. Mas, não se enganem, não há nenhum poder para as pessoas na Web3, mas apenas um novo tipo de concentração de mercado”. Ele acredita que, apesar do discurso de descentralização, grandes empresas já estão surgindo para tornar-se autoridade no meio. “É uma recentralização, mais como um governo autocrático do que qualquer tipo de poder para a governança do povo.”

Identidade digital única e segurança de dados

Você já parou para pensar na quantidade de informações que é necessário preencher a cada vez que se cadastra em um site novo? E, pior, a quantidade de informações suas que são distribuídas deliberadamente por esses sites? Pois a identidade digital pretende acabar com essa quantidade absurda de "versões digitais" nossas que temos espalhadas pela web. Sandy Carter, uma das mulheres mais influentes em web 3.0 no mundo, em seu talk no SXSW explica: “Teremos um único ID digital interoperável para verificar nossa identidade em todos os ambientes virtuais”. A ideia é que cada um de nós terá uma identidade digital com nossas informações e esta será válida para qualquer ambiente virtual. Assim, caberá a nós escolher quais informações divulgaremos para cada "cadastro" realizado.
Segundo Carter, essa identidade única também seria responsável por evitar fraudes digitais, uma vez que cada pessoa física teria uma identidade certificada, ao invés de diversos usuários em diferentes redes e sites como temos hoje. Assim, será impossível criar 'perfis' falsos (ou mais difícil para que um hacker criminoso o faça). É uma maior segurança tanto para o usuário quanto para as empresas, que poderão baixar a guarda em relação a cadastros fraudulentos.
Como nem tudo são flores, vale lembrar a proximidade que estamos do episódio tão comentado da série Black Mirror, "Queda livre", onde cada pessoa tem uma nota social que a permite ou impede de participar da sociedade. A história, escrita em 2016, previa o sistema de scoring - que já existe e é amplamente usado no mundo, por exemplo, para fazer empréstimos no banco, e até mesmo na hora de pegar um Uber -  porém de forma unificada e social. Será que a futura identidade visual nos abre portas para justamente unificar essas 'notas' e definir quem são os 'bons' e 'maus' usuários?

Metaverso, a 'buzz word' com futuro incerto

Sem dúvida a palavra mais comentada durante o festival foi "metaverso". As mais de 50 palestras lotadas sobre o assunto deixam claro o 'hype' em cima do termo, porém seu futuro não é consenso entre os palestrantes e especialistas. A expressão ganhou força no começo deste ano, quando o Facebook anunciou a mudança de nome da sua holding para 'Meta' e o lançamento de sua plataforma de mundo aberto, Horizon Worlds.
As discussões no festival tendem a criticar Mark Zuckerberg pelo rebranding do Facebook e defesa de uma "metaverso" ainda pouco acessível e com pouco sentido para o consumidor. A Horizon Worlds (assim como o Decentraland, Axie Infinity e Sandbox), prevê esse novo espaço como uma  plataforma de avatares, passeando, interagindo e consumindo por um mundo aberto totalmente digital. O problema dessa visão é que hoje o sistema ainda exige uma alto nível de processamento do computador (e sim, só pode ser acessado por um computador, nada de smartphone ou tablet), e ignora o desejo intrínseco humano de se conectar com seres reais, de carne e osso, ou sua representação mais próxima disso.
Amy Webb, futurista e um dos principais nomes do evento há anos, comenta: “O metaverso é um tema guarda chuva para tecnologias que fazem uma ponte entre o mundo digital e virtual”. Para ela, o metaverso não sobreviverá desta visão limitada de Zuckerberg e terá que evoluir para conexões mais profundas entre humanos. Na mesma linha, Scott Galloway acredita que "O metaverso será muito menos parecido com o clássico Matrix e muito mais com o filme Her, que conta a história de um homem que se apaixona por uma inteligência artificial. Para mim, o metaverso é muito mais sobre ouvir e menos sobre ver. Neste sentido, a Apple está muito avançada, com seus devices funcionais de áudio, do que o Meta que vem surfando no conceito.” comenta a futurista.
Seja lá qual for o futuro do metaverso, é necessário que ele seja pautado nas relações humanas e consiga trazer essa proximidade que o homem tanto precisa, durante o festival foi discutido o uso de outros sentidos, além da visão, para que este novo universo perpetue.
*Beatriz Bachert é Head de estratégia na consultoria de inovação 16 01. 

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