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Fabio Pereira*

"Empurrãozinho digital"

Por que o Twitter vai pedir que usuários pensem antes​ de compartilhar um link?

10/07/2020 11:00
Quando eu li que o Twitter vai pedir a usuários que pensem antes de compartilhar links que não abriram, ironicamente eu decidi refletir sobre isso antes de repassar essa informação para outros contatos. Por que o Twitter vai implementar essa funcionalidade nova, anunciada em junho de 2020? O que está por trás dessa decisão? Será que há algum interesse político? Será que eles querem ajudar a combater a infodemia?
O Twitter anunciou que irá exibir "uma notificação, convidando usuários a abrir tuítes completamente antes de clicar no botão de compartilhar", o que eles chamaram de um "prompt". Esse prompt é um exemplo de um "empurrãozinho digital", conhecido em inglês como "digital nudge". Mas o que seria isso?
Sharing an article can spark conversation, so you may want to read it before you Tweet it.
To help promote informed discussion, we're testing a new prompt on Android –– when you Retweet an article that you haven't opened on Twitter, we may ask if you'd like to open it first.
— Twitter Support (@TwitterSupport) June 10, 2020
35 mil é a quantidade média de decisões que um ser humano toma por dia. Significa mais ou menos uma decisão a cada dois segundos. São muitas decisões. Elas são pequenas, grandes, impactantes, irrelevantes, conscientes e inconscientes. O que comer? O que vestir?, Qual caminho escolher para o trabalho? Qual vestibular ou MBA prestar? E muito importante também: qual conteúdo consumir e compartilhar na internet?
A grande maioria dessas 35 mil decisões são influenciadas por fatores irracionais: falta de atenção, falta do contexto completo com toda informação necessária, fatores emocionais, etc. O conhecimento profundo desses fatores faz com que seja possível criar pequenas intervenções nos ambientes onde tomamos decisões para influenciar pessoas a escolherem uma coisa ou outra.
Cada intervenção dessas é chamada de nudge, que pode ser traduzido como “empurrãozinho”. O termo foi criado por Richard Thaler e Cass Sunstein no livro que escreveram juntos que também se chama Nudge. As contribuições de economistas comportamentais são tão significativas que Thaler ganhou o Prêmio Nobel em 2017 por unir economia e psicologia.
No meu livro Consciência Digital, tenho um capítulo chamado "Não penso, logo clico", no qual explico o que tem por trás de decisões como essas do Twitter. Aqui vai um trecho dele:
"Em um mundo digital em que estamos tuitando, vendo vídeos, escutando música e respondendo e-mails, tudo ao mesmo tempo, nossa atenção está dividida. Fazemos a maioria dessas coisas com o nosso cérebro rápido, cheio de problemas, estereótipos, caixas e conclusões precipitadas – os atalhos cognitivos. É muito mais provável cometer um erro em um tweet hoje, no mundo digital, no meio desse turbilhão de outras coisas que estamos vivendo, do que antigamente, quando alguém sentava pra escrever uma carta. As distrações ao nosso redor gastam nosso processamento cognitivo e nossa energia. No mundo digital nossa atenção está dividida e fazemos a maioria das coisas com o nosso cérebro rápido, cheio de problemas. 
O infográfico abaixo, chamado de “Um minuto na internet”, mostra o que acontece na internet em um minuto.
Em um minuto, são mais de 41,6 milhões de mensagens enviadas no WhatsApp e Facebook Messenger, 188 milhões de e-mails enviados, 1,4 milhões de swipes no Tinder, mais de 694 mil horas de vídeo transmitidos pela Netflix e muito mais. Será que dá tempo de parar e pensar antes de curtir, dar um swipe ou clicar?
“Pense antes”, em outras palavras, quer dizer: “Use o seu cérebro devagar, invista um pouco mais de tempo pensando se é isso mesmo que quer digitar, pense nas consequências, seja consciente das suas limitações cognitivas e saiba que isso pode ter um impacto negativo muito sério na pessoa que está lendo do outro lado”. #ficaadica.
*Fabio Pereira é especialista em comportamento digital, autor do livro Consciência Digital. Trabalhou dez anos na ThoughtWorks Austrália, onde atuou como consultor para a Agência de Transformação Digital do Governo Australiano.