• Carregando...
Geraldo Magela/Agência Senado
Geraldo Magela/Agência Senado| Foto:

O Ministério da Educação (MEC) passou mais de dois meses submerso em uma briga interna que deixou os problemas educacionais brasileiros em segundo plano. Em 70 dias, os episódios mais marcantes da gestão de Ricardo Vélez Rodríguez foram um e-mail sem sentido sobre a execução do hino nacional nas escolas e a série de demissões protagonizada por Olavo de Carvalho, o guru do bolsonarismo que diz não ter nenhum interesse no governo.

Se tiver alguma dificuldade em decidir o que fazer com a educação, Rodríguez pode ler o trabalho sobre educação escrito no ano passado por Paulo Tafner, técnico do Ipea que escreveu uma das propostas de reforma da Previdência analisadas pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. O texto faz parte de uma série sobre os desafios do Brasil e ressalta de forma bem didática alguns de nossos dramas:

O resultado é que o Brasil ainda tem jovens com escolaridade muito baixa – um jovem de 15 anos tinha em 2014 6,8 anos de estudo, em média, quando deveria ter nove anos. Aos 18 anos, eram 8,7 anos de estudo, quando deveriam ser 12.

E o problema não é dinheiro, já que os 6% do PIB gastos anualmente pelo Brasil em educação está em linha com o investimento de outros países com resultados expressivamente melhores. Também não é uma questão de salários pagos aos professores, já que a remuneração é em média parecida com a dos docentes da iniciativa privada. Existem problemas de infraestrutura, formação de professores, gestão e outros fatores exógenos, como a renda e educação da comunidade na qual a criança ou jovem está inserido.

Estamos falando, portanto, de um sistema complexo, que demanda soluções complexas. Mas o governo preferiu investir pesado no combate ideológico, que não está ligado diretamente aos resultado do Pisa, ou qualquer outro teste de aprendizagem. E também prometeu fazer uma Lava Jato da educação, sem indicar exatamente o que gostaria de investigar: seria um expurgo das ações petistas na pasta ou o combate a obras superfaturadas que se espalham pelo Brasil?

Algumas das sugestões de Tafner, que estão presentes em vários trabalhos na área educacional são a necessidade de o MEC se concentrar na organização de políticas educacionais, e não em ações diretas de educação, a criação de bases curriculares flexíveis, investimento no ensino técnico, revisão da formação e remuneração de professores (com foco em desempenho), modernização da gestão escolar e uma nova legislação para o aprendizado em empresas.

É difícil entender como o governo conseguiu enterrar o MEC em uma batalha entre olavistas, militares e técnicos. A escolha de Vélez Rodríguez colocou o ministério sob a vigilância de Olavo de Carvalho, que ficou descontente quando alguns de seus alunos ou seguidores foram deslocados dentro da estrutura do MEC. Pelo Twitter, o guru do bolsonarismo pediu a saída dos profissionais ligados a ele. O ministro fez seis exonerações para tentar conter a briga interna, mas continuou sendo acusado de “tucanizar” o MEC.

O MEC merecia coisa melhor. Agora e antes – para lembrar, em 2016 o então ministro da Educação, Aloízio Mercadante, apareceu em uma gravação dando uma força a Delcídio do Amaral, que ameaçava fazer uma delação premiada. Só não caiu porque horas depois Sergio Moro liberou a gravação da conversa nada republicana entre a ex-presidente Dilma Rousseff e Lula.

O aparelhamento ideológico do MEC, seja de que lado for, coloca uma nuvem sobre o que realmente importa para o país: a adoção de políticas educacionais com eficiência comprovada. Precisamos ser mais exigentes com gestores, professores, sindicatos e pais, e mostrar aos jovens que a educação é o caminho para uma vida melhor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]