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Guilherme Fiuza

Guilherme Fiuza

Entre aliados e conveniências

Brasil com vista (grossa) para o Caribe

Celso Amorim foca na presença militar dos EUA no Caribe, mas ignora a crise e a putrefação do regime chavista na vizinha Venezuela. (Foto: Andre Borges/EFE)

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O assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, disse estar preocupado com a movimentação militar dos EUA no Mar do Caribe. As questões que preocupam Celso Amorim e o governo ao qual ele serve seguem certa peculiaridade, por assim dizer.

A presença norte-americana nas vizinhanças da Venezuela tem um objetivo declarado: enfrentar um grande foco do crime organizado no continente, segundo a Casa Branca. Nicolás Maduro não é reconhecido pelos EUA como chefe de Estado da Venezuela, mas como chefe do tráfico de drogas. Por que o governo norte-americano não considera Maduro o presidente venezuelano legítimo?

Porque, segundo observatórios insuspeitos, como o Carter Center e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, sua reeleição em 2024 foi ilegítima. E o Brasil? Qual é a posição do governo brasileiro sobre o atual regime venezuelano?

Pergunta difícil de responder. O terreno diplomático necessita, antes de tudo, de clareza e transparência. É tudo que o Brasil não tem hoje em relação à Venezuela. Como o grupo político que atualmente ocupa o Palácio do Planalto é parceiro de primeira hora do projeto chavista, o pessoal achou melhor fazer cara de paisagem diante do agravamento da crise do vizinho. Celso Amorim estava em Caracas na reeleição obscura de Maduro. Isso não o preocupa?

Aparentemente, o que preocupa o chanceler informal é a rota da marinha americana. O que preocupa a marinha americana é o que se passa nos subterrâneos da ditadura venezuelana — que nem são tão subterrâneos assim.

A existência de quase mil presos políticos no país, parte deles com paradeiro desconhecido pelas famílias, foi informada para o mundo todo pela CIDH. É sob esse estado marginal que avança o crime organizado, segundo o governo norte-americano. Ou seja: a Venezuela hoje teria um governo de fachada para abrigar um polo de negócios criminosos e violentos.

O Brasil concorda ou discorda dessa premissa? O governo brasileiro repudia o narco-estado venezuelano ou repudia as acusações de que a Venezuela tenha sido dominada por um narco-estado? Nenhum dos dois.

Com a cumplicidade da imprensa amiga, a diplomacia petista transportou a Venezuela para Marte.

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Quando as denúncias sobre fraude e violência, em julho e agosto do ano passado, se avolumaram demais, os porta-vozes (oficiais e oficiosos) do governo Lula ensaiaram um nariz torcido para Maduro

Alguns até começaram a difundir um conflito entre os presidentes brasileiro e venezuelano. Quando o assunto esfriou nas manchetes, a tropa de choque da propaganda governista abandonou o tema. A velha aposta no esquecimento.

Agora Amorim está preocupado com o avanço norte-americano no Caribe. Será que a imprensa amiga vai se lembrar de perguntar se ele está preocupado com a putrefação chavista exposta pela OEA? Façam suas apostas. Até aqui continua tudo normal: ninguém sabe, ninguém viu.

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