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Guilherme Fiuza

Guilherme Fiuza

Fake news de grife

Resoluções para 2026

A imprensa cava sempre mais fundo: fraudes somem, fake news viram método e 2026 promete mais cinismo embalado de jornalismo. (Foto: Imagem criada utilizando Chatgpt/Gazeta do Povo)

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A cada ano que passa, quem ainda não perdeu o juízo jura que a imprensa chegou ao fundo do poço. Mas aí vem o Ano Novo e mostra que o poço era mais fundo.

Em 2025, o escândalo da BBC explodiu com teor suficiente para dar um basta no transformismo jornalístico. Fraudar o discurso de um candidato à Casa Branca (Trump), às vésperas da eleição, com uma montagem grosseira para acusá-lo de golpe de Estado, parecia expediente de submundo mafioso. Agora chegaria o basta, pensaram os normais.

Nada disso, bobos! Basta coisa nenhuma! A fraude da BBC sumiu no éter em 48 horas. Abafa-se o eco e vamos à próxima fake news de grife.

Num ambiente assim, o que esperar de 2026? Segue uma sugestão de lista de resoluções para jornalistas e comunicadores em geral — sem exagerar no nível de ambição, porque o poço é fundo e a carne é fraca:

  1. Se for manipular a fala de alguém para enganar o seu público, use inteligência artificial. Pelo menos você não ficará com cara de fraudador do século passado;
  2. Se for discorrer sobre o embelezamento arquitetônico de Belém do Pará em situação análoga à da COP 30, oriente o espectador a aproveitar esse momento e ir à cozinha ou ao banheiro. Assim, você o previne de assistir à falta d’água na região mais úmida do mundo e a queimadas em estande construído em defesa da floresta;
  3. Se for mandar alguém ao vivo para o diabo que o carregue, cheque antes se o delivery do capeta está fazendo entrega em celebração de acordo de paz;
  4. Sempre que for convidar seu público a entender como o aumento da inflação é bom, certifique-se de que ninguém na audiência tenha ido ao supermercado nos últimos 30 dias — para não correr o risco de algum mal-humorado ficar chateado com você;
  5. Ao fazer a cobertura da situação falimentar de empresas estatais que dão patrocínios milionários a artistas famosos, evite usar a palavra “prejuízo”. Ela pode dar a impressão errônea de que você está trazendo uma notícia ruim;
  6. Se você está há anos fazendo vista grossa para a ditadura de Maduro, evite dizer que a presença militar norte-americana no Caribe é uma ameaça à paz no continente. Alguém pode achar que o seu conceito de paz é ocasional;
  7. Se você está trabalhando como comunicador, mas seu objetivo central é se eleger em 2026 pelo “campo conservador”, evite pronunciar a palavra “direita” a cada frase que você constrói. O pessoal pode ficar curioso e checar com quem você andou no verão passado;
  8. Se você passou os últimos três anos como porta-voz informal do poder, cuidado na hora de desembarcar. Certifique-se previamente de que a totalidade da sua audiência já se esqueceu de todos os absurdos que você defendeu;
  9. Comprometa-se perante si mesmo com a seguinte meta: até o dia 31 de dezembro de 2026, você tem que ter passado pelo menos um dia inteiro sem fustigar treta para caçar like;
  10. Em 2026, você pode continuar humanizando traficantes assassinos e passando pano para terroristas sanguinários em nome de um discurso “progressista”, mas não se esqueça: mande tirar todos os espelhos da sua casa. Chega de encontros desagradáveis.

No mais: Feliz Ano Novo!

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