Por que a manifestação bolsonarista fracassou?

Há em curso uma guerra de números sobre o tamanho do público presente na manifestação bolsonarista pela anistia ocorrida em Copacabana no último fim de semana. A Polícia Militar do Rio Janeiro contabilizou mais de 400 mil pessoas. Já a Universidade de São Paulo calculou pouco mais de 18 mil. Ainda que militantes se fiem nos números da PM para tentar sustentar o suposto sucesso do ato, há percepção inequívoca de que foi um rotundo fracasso. E não apenas pelas imagens evidenciando que o prometido público de 1 milhão de pessoas não fez presente.

A melhor evidência de que o resultado foi negativo veio do próprio Jair Bolsonaro, que admitiu a diminuição do tamanho dos atos convocados por ele. “Nas eleições de 2022 a gente arrastava multidões pelo Brasil. Foi aqui no 7 de setembro, tinha mais gente que agora. Fazíamos motociatas pelo Brasil todo, em São Paulo batendo 300 mil motos”, reclamou em tom de decepção para os apoiadores.

Ao invés de a oposição articular um movimento coeso explorando os problemas econômicos e outros temas mais amplos que agregassem apoio de segmentos da sociedade não identificados apenas com o bolsonarismo, preferiu se fechar em si numa agenda pessoal

O pastor Silas Malafaia tentou explicar o insucesso fazendo uma leitura comportamental: “Eu disse para o Bolsonaro que domingo de manhã, no Rio de Janeiro, não é o melhor lugar para se fazer manifestação. Eu avisei ao Bolsonaro: 'carioca, no domingo, acorda mais tarde, se der praia, piora, tem jogo de Fla-Flu”, explicou. Já o influencer Kim Paim preferiu caçar moinhos de vento responsabilizando supostos sabotadores dentro da própria direita.

Prefiro uma explicação mais convencional e prosaica. Mesmo que incendeie as redes sociais, a tal “anistia” é a pauta de uma bolha que interessa mais Bolsonaro do que a população. Segundo uma recente pesquisa da Genial/Quaest, 86% dos brasileiros desaprovam as invasões às sedes dos Três Poderes que ocorreram em 8 de janeiro. O que há, isso sim, é uma profunda rejeição aos crimes cometidos e seus autores, e isso não se restringe apenas aos simpatizantes do campo da esquerda.

O fracasso da manifestação pela anistia é responsabilidade do próprio ex-presidente, este sim o verdadeiro sabotador da oposição, que foi sequestrada por ele. Num momento em que o governo petista aparece aturdido ante o crescimento da inflação e enfraquecido pela rejeição a Lula, ao invés de a oposição articular um movimento coeso explorando os problemas econômicos e outros temas mais amplos que agregassem apoio de segmentos da sociedade não identificados apenas com o bolsonarismo, preferiu se fechar em si numa agenda pessoal que afasta uma porção de gente que não gosta de Lula mas que também não quer ser massa de manobra de alguém que sô quer livrar a própria cara. O povão não está nem ai para a anistia, quer saber é do preço do ovo.