• Carregando...

Não há corrupção no governo Jair Bolsonaro, o que há é “história de fazer tráfico de influência”. Isso segundo a definição já histórica do atual mandatário, que, em live nesta última quinta-feira (23), tratou de atenuar sua confiança em Milton Ribeiro, preso em operação da Polícia Federal por suposto envolvimento num esquema envolvendo negociação de propinas na pasta. Segundo Bolsonaro, ele exagerou quando, na época em que a imprensa divulgou as primeiras notícias do caso, falou que colocaria “a cara no fogo” pelo ex-titular do Ministério da Educação.

>> Siga a Gazeta do Povo no Youtube

Em março, a Folha de São Paulo veiculou áudio no qual Ribeiro falava que o favorecimento no atendimento a pastores investigados era por orientação de Bolsonaro. "Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar", disse se referindo a Gilmar Santos, que, junto a Arilton Moura, supostamente negociariam com prefeituras a liberação de recursos para obras diversas na área educacional.

Durante os meses anteriores, esses líderes religiosos foram presenças frequentes nas esperas de poder, participando de atos e reuniões fora da agenda com figuras de alto escalão, inclusive o próprio Bolsonaro. O Palácio do Planalto decretou 100 de sigilo nos encontros de Bolsonaro com os referidos bispos. Questionando por um internauta sobre o porque de esconder tais informações, o presidente respondeu com deboche: “Em 100 anos saberá”.

Sobram registros fotográficos de como Santos e Moura transitavam com facilidade no governo. Não tinham cargos oficialmente, mas eram tratados como se tivessem. Com o volume de evidências em relação ao papel que ali desempenhavam, fica claro que eram eminências pardas de um gabinete paralelo a administrar o balcão de negócios em que se converteu o MEC.

Há relatos de prefeitos falando que a propina para acesso a recursos da pasta era negociada até mesmo na base do quilo de ouro. Segundo o relato de José Manoel de Souza, da cidade de Boa Esperança do Sul (SP), a verba para uma escola profissionalizante só viria se houvesse adiantamento de R$ 40 mil "na conta da igreja evangélica". No áudio divulgado na Folha, o próprio Ribeiro fala em contrapartidas que poderiam ser negociadas: “Então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas”.

Quando Ribeiro foi preso, Bolsonaro e seus apoiadores se apressaram em dizer que isso seria prova de que não há interferência do governo na Polícia Federal. Mensagens internas de Bruno Callandrini, delegado responsável pela investigação, entretanto, apontam para o contrário. Sob alegação de “possível interferência ilícita” do Presidente, o Ministério Público Federal requisitou o envio do caso ao STF. Na sexta-feira (24), trechos de interceptações telefônicas do ex-titular da Educação mostraram conversas suas em ele relata que Bolsonaro poderia ter vazado a realização de operações de busca e apreensão.

Desde o último aumento no preço dos combustíveis, o governo tem buscado apoio para criar uma CPI de forma a intimidar a diretoria da Petrobras. Sem indício de nenhum ilícito ou irregularidade que se tenha cometido, a coisa ganha contornos de puro achacamento, e de cortina de fumaça.

O fato determinado que falta ali, sobra no caso do Ministério da Educação, que precisa ser devidamente esclarecido, inclusive, daí sim, com uma investigação feita pelo Congresso Nacional. Como se dava o trânsito dos pastores no MEC? E a relação deles com o presidente e Ribeiro? Por que deveriam ter tratamento diferenciado? Qual a natureza do apoio sobre construção de igrejas evangélicas, mencionada por Ribeiro? Há provas do pagamento de propina como relatam os prefeitos? Houve vazamento de informações sobre a investigação? Agentes públicos incorreram em obstrução de Justiça e prevaricação? O Brasil não pode esperar 100 anos para saber.

Acompanhe a Gazeta do Povo na sua rede social preferida

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]