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Como Bolsonaro se tornou presidente? Principalmente por se alimentar do antipetismo. Ganhou força política e adesão popular no ambiente de ojeriza que predominava na sociedade brasileira contra o PT depois de anos de escândalos de corrupção, pilhéria do Estado e, por fim, uma crise fiscal e social até então sem precedentes.

O capitão reformado se elegeu com a expectativa de promover mudanças profundas, mas o que vem entregando é uma condução trôpega da economia, o negacionismo da maior crise sanitária da história recente e uma coleção de desgastes institucionais resultantes de seu desapreço pela tripartição dos poderes e a necessidade de proteger o filho implicado em um esquema de rachadinha.

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Com isso ele cria o mesmo ambiente que lhe permitiu chegar ao poder, só que em favor do outro espectro ideológico. É a rejeição ao seu governo que serve de força motriz para o avanço de novas lideranças de esquerda.

Sim, Bolsonaro foi beneficiado por uma onda de popularidade resultante do auxílio emergencial. O recurso foi responsável por dar condições mínimas de subsistência para a parte mais pobre da população. Também facultou ao presidente andar pelo Nordeste, região em que tinha dificuldades de encontrar apoios.

O problema é que, por hora, o programa social criado para compensar as perdas causadas pela pandemia é finito e ainda não se chegou a um consenso sobre como ele será substituí-lo em 2021. O governo vem batendo cabeça desde então, inclusive com desgaste entre o Planalto e o Ministério da Economia capitaneado pelo combalido Paulo Guedes.

A aprovação de 40% atingida em setembro deslumbrou os integrantes do governo. Por certo, foi um upgrade considerável em seus, até então, números raquíticos. Suficiente para gabaritar Bolsonaro na disputa pela reeleição, mas não tanto a ponto de garantir uma vitória certa.

Mesmo no auge, a desaprovação dele também permaneceu alta. Girava em torno de 30%. Outro ponto desconsiderado pelos bolsonaristas é que os indicadores positivos melhoraram em regiões com baixa penetração do presidente e pioraram consideravelmente em regiões em que ele tinha ampla vantagem. É o caso dos centros urbanos no Sudeste e do Sul.

Boulos e Manuela

A derrota de candidatos apoiados por Bolsonaro em cidades importantes dessas localidades no 1° turno da eleição municipal é indicativo de que sua situação não é tão confortável quanto presumiam seus fanáticos. Em análise publicada na Gazeta do Povo, Alexandre Borges ressaltou a rápida mudança de situação. Dois anos atrás “bastava colocar “major” ou “pastor” antes do nome, fazer arminha com as mãos ou dizer o slogan integralista “Deus, Pátria e Família” para receber uma torrente de votos”. Não foi assim em 2020, e o 2° turno tende a aprofundar esse recado das urnas.

Guilherme Boulos e Manuela D'avila, que disputam as prefeituras de São Paulo e Porto Alegre, surfam na ampla rejeição ao nome do presidente. Segundo a pesquisa XP, na capital paulista o índice de ruim ou péssimo de Bolsonaro é de 57%. Apenas 17% o aprovam. É importante ter em mente que em 2018 o ele teve mais de 60% dos votos na cidade. Por sua vez, em Porto Alegre, segundo o Ibope, Bolsonaro tem 54% de ruim e péssimo. No último levantamento do instituto, o mandatário registrou queda de aprovação em 23 das 26 capitais.

Independente do resultado que colham nas urnas no próximo domingo, esses dois nomes da chamada “nova esquerda”, que representam a antítese simétrica do bolsonarismo, já se gabaritam para 2022. Principalmente Boulos, que passou por cima de Lula e de seu candidato fracassado Jilmar Tatto.

Ganhando ou perdendo, o psolista adquiriu musculatura eleitoral considerável para representar uma oposição com discurso coeso, coisa que até então não havia. Ele se fortalece na medida em que o lulopetismo, desgastado pelas múltiplas denúncias da Lava Jato, vai sendo substituído como referência política dos setores ideológicos que se opõe ao governo.

Se considerarmos os resultados dos partidos de esquerda, o saldo eleitoral parece menos auspicioso para eles, mas a representatividade de um bom desempenho em uma cidade como São Paulo é suficiente para lançar uma perspectiva positiva, ainda mais com uma renovação consistente de liderança. Se Bolsonaro é cria de Lula e seus companheiros, Boulos e outros radicais vão se consolidando como crias de Bolsonaro, que atua em favor deles como um cabo eleitoral de efeito inverso.

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